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domingo, 8 de setembro de 2019

CÍCERO: comentando a discografia completa

6 de setembro de 2019
Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia 

 fonte da imagem: letras.mus.br

    Cícero Rosa Lins, nascido no Rio de Janeiro de 1986, é um músico brasileiro que, dentre os quatro álbuns solo, recebe influência da MPB, do rock e do meio independente. Cícero não herda apenas o nome do filósofo romano (Marco Túlio Cícero), como também a afinidade com o Direito. O Cícero do Império Romano foi um advogado reconhecido historicamente por sua oratória. O Cícero cantor e compositor carioca, por sua vez, se formou na área da advocacia, mas vem construindo carreira na área musical. Antes de investir na carreira solo, fazia parte de banda, chamada Alice, tendo lançado dois álbuns: Anteluz (2005) e Ruído (2007).

    Suas influências, consta, vêm da MPB, podendo, facilmente, criar afinidades com obras clássicas da bossa nova, com referência explícita à Antonio Carlos Jobim. Também é possível encontrar certa semelhança com Chico Buarque ou Caetano Veloso, mas seu estilo vai além e encontra um quê de rock e uma substância essencialmente indie.
    Seus primeiros discos foram gravados em casa. Canções de Apartamento (2011), seu disco de estreia, foi produzido inteiramente no apartamento do artista. Produzido, cantado e instrumentalizado unicamente por ele. Ou seja, trata-se de um artista singular que, por si só, consegue produzir música de altíssima qualidade, sem depender de outrem. Essa característica parece enraizada no som do primeiro disco e ecoa em toda a obra. Sentimos a solidão de Cícero por meio do ritmo, das letras, da sonoridade, de sua voz. Há uma atmosfera própria. Toda sua obra é um convite à imersão, um transporte ao interior do artista, onde há conflitos de amor, de tristeza, de saudade. Predomina o ar melancólico, de uma suavidade e um brilho ímpares, mas também podemos encontrar sorrisos. Auxiliando o caminho, há sons ambientes, de chuva e pássaros, por exemplo, o que cria o contexto necessário que caracteriza sua arte.
    Somos levados, nos álbuns seguintes, pelas ruas, em tom de sábado, pela praia e pelos centros urbanos. Uma viagem experimental. Sons repetitivos, em loopings, com versos simples e curtos. Foge do convencional, do padrão, e transforma o comum do habitual em incomum na música. Somente no quarto e último disco, junto da banda Albatroz, o pop volta com certa força, mas sem largar a essência construída até então. No todo, recomendo a “visita”.
    Na sequência, meu comentário acerca de cada um de seus discos, individualmente.

-

ÁLBUNS SOLO:

 
Canções de Apartamento (2011)
 

Nota pessoal: 9,3 (excelente)
Gênero: MPB; indie rock. Gravadora: Independente.

1.       "Tempo de Pipa"
2.       "Vagalumes Cegos"
3.       "Cecília e os Balões"
4.       "João e o Pé de Feijão"
5.       "Ensaio Sobre Ela"
6.       "Açúcar ou adoçante?"
7.       "Eu não tenho um barco, disse a árvore"
8.       "Laiá laiá"
9.       "Pelo Interfone"
10.    "Ponto Cego"

Comentário: O álbum de estreia do músico carioca, Cícero, traz elementos de MPB, como um eco da velha bossa nova, com características do rock. Gravado em seu apartamento, como sugere o título, o disco nos leva por meio dos conflitos internos do artista. Há um tom melancólico e uma bela poesia em cada letra. Em determinadas faixas, sentimo-nos ambientados por sons cotidianos: é possível ouvir pássaros, trovões, chuva. Tudo isso remete à solidão do interior de um apartamento. Tempo de Pipa, que abre a obra, contagia com sua batida de marchinha, seu acordeão e sua leveza pop. Em Cecília e os Balões, um toque tirado d’O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, no meio da canção, introduz uma batida mais pesada, com guitarra. Ensaio Sobre Ela e Açúcar ou Adoçante são minhas faixas favoritas. Duas canções poderosas e lindas. Em Pelo Interfone, uma homenagem à referência: “Fala pra ele / Do disco do Tom Jobim / Do seu apelido e de mim”. Outra referência à Tom acontece na mesma canção, que cita Dindi. No todo, o disco funciona muito bem, soando como Chico Buarque ou Radiohead, em muitos momentos. A voz levemente rouca e suave, sussurrada, de Cícero nos transporta com eficácia ao seu mundo particular.



Sábado (2013)
 
Nota pessoal: 6,5 (bom)
Gênero: Indie; rock experimental. Gravadora: Independente.

1.       "Fuga Nº3 da Rua Nestor"
2.       "Capim-Limão”
3.       "Ela e a Lata"
4.       "Fuga Nº4"
5.       "Pra Animar o Bar"
6.       "Por Botafogo"
7.       "Duas Quadras"
8.       "Asa Delta"
9.       "Porta, Retrato"
10.    "Frevo Por Acaso"

Comentário: Com participações de Marcelo Camelo e outros amigos de Cícero, o disco segue um rumo bem diferente do primeiro trabalho. Aqui, o músico trilha por sons experimentais, foge do óbvio e investe na imersão. É como se Cícero, em uma manhã de sábado, caminhasse pelas ruas, avenidas e bairros de sua cidade. O padrão convencional é desconstruído. Há um quê de Revolver dos Beatles, porém, não é pop. O mesmo tom de angústia do disco anterior é sentido, mas parece mais despretensioso, mais simples. A imersão se dá pela repetição das notas; um loop instrumental que não parece ter fim, embora as músicas sejam curtas. Isso gera um certo tédio. Em relação às letras, os versos são curtos e repetitivos, servindo para ilustrar panoramas e nos transportar para o ambiente. Embora esteja longe da qualidade apresentada em Canções de Apartamento, Sábado é um bom convite à meditação e ao ato de permitir-se ser guiado pelos sons. Talvez melhore com o tempo, ouvindo duas ou mais vezes, após passado o “estranhamento”.


A Praia (2015)
 
Nota pessoal: 7,4 (muito bom)
Gênero: Indie; rock experimental. Gravadora: Deckdisc.

1.       "Frevo por acaso Nº2"
2.       "A Praia"
3.       "Camomila"
4.       "De passagem"
5.       "O bobo"
6.       "Soneto de Santa Cruz"
7.       "Isabel (carta de um pai aflito)"
8.       "Albatroz"
9.       "Cecília e a Máquina"
10.    "Terminal Alvorada"

Comentário: Em seu terceiro disco solo, Cícero mantém elementos dos trabalhos anteriores. A repetição e as letras bem curtas, vagas e fora do padrão popular continuam, o que se mostra como uma certa identidade do artista. Porém, diferentemente de Sábado, este álbum se apresenta mais acessível, mais digerível. Outra vez, a inspiração parte do cotidiano, dos ares por onde o músico passa. Aqui, em especial, a praia. Soneto de Santa Cruz, sexta faixa, é de uma poética poderosa: “Há um descompasso no tempo / no asfalto e no peso do passo / o acaso perdendo terreno / a alegria faltando pedaço”. Momentos de rara inspiração surgem cá e lá, espalhados pelo disco. Em Cecília e a Máquina, com fundo de som ambiente, entre pássaros, a canção segue instrumental por mais de sua metade, como uma caixinha de música, em um tom lúdico e melancólico acompanhado do vocal de Luiza Mayall. Na sequência, encerrando a obra, Terminal Alvorada apresenta um contraponto: enfim uma canção alegre, para cima. Concluindo, um belo trabalho, melhor que o antecessor, mas não tão bom quanto o disco de estreia do compositor.


Cícero & Albatroz (2017)


Nota pessoal: 9,1 (excelente)
Gênero: Indie; MPB. Gravadora: Sony Music.


1.       "Aurora Nº 1"
2.       "A Ilha"
3.       "Não Se Vá"
4.       "À Deriva"
5.       "A Cidade"
6.       "Velho Sítio"
7.       "A Rua Mais Deserta"
8.       "A Grande Onda"
9.       "Aquele Adeus"
10.    "Um Arco"


Comentário: O mais recente trabalho de Cícero foi feito em conjunto com a banda Albatroz, o que trouxe uma rica sonoridade à obra. O som, aqui, é mais “encorpado” do que nos discos anteriores. Sentimos muito bem a presença e o poder dos instrumentos, o que deve funcionar muito bem nas apresentações ao vivo. Não Se Vá, a terceira faixa, tem uma vibe meio Beatles, meio What I Got de Sublime, resultando em uma peça deveras interessante. Autora Nº 1 e À Deriva, por sua vez, possuem uma sonoridade parecida, com batidas rápidas e altas sequências instrumentais. Existem canções agitadas, para o alto, com uma energia muito boa, que empolga, e canções mais lentas, meditativas. Soa mais pop que A Praia e Sábado, entretanto, mantém a “essência urbana” do artista, que nos leva por imagens de prédios, concretos, avenidas. Particularmente, gostei muito de A Ilha e A Grande Onda, ainda que todas as faixas tenham me agradado de algum modo. Segundo o artista, “o novo disco [Cícero & Albatroz] é sociológico, de uma observação mais ampla”[i].


Discografia completa do músico:

2017 – Cícero & Albatroz
2015 – A Praia
2013 – Sábado
2011 – Canções de Apartamento



FONTES: Todos os álbuns acima, em negrito; extra.globo.com; lounge.obviousmag.org; Wikipedia; cultura.estadao.com.br/

 

[i] cultura.estadao.com.br/noticias/musica,cicero-expande-sua-sonoridade-com-o-quarto-disco-cicero-e-albatroz,70002157847
 




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