Últimas postagens

Post Top Ad

Your Ad Spot

terça-feira, 17 de agosto de 2021

PETRA COSTA: comentando a filmografia completa

 

Análise e comentários:

FILMOGRAFIA DE PETRA COSTA

 

17 de agosto de 2021

Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia


foto: divulgação Netflix.

 

            Petra Costa, nascida em 1983 na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, é uma diretora de cinema, documentarista, bem como roteirista e produtora. Começou a estudar teatro aos 14 anos, depois se graduou em Antropologia pelo Barnard College, na Columbia University, Nova Iorque. Especificou-se, enfim, com mestrado em Psicologia Social, com o conceito de “trauma”, na London School of Economics, Reino Unido. Seus trabalhos são laureados internacionalmente – tendo sido indicada à maior categoria documental do cinema, o Oscar de melhor documentário em longa-metragem, por Democracia em Vertigem (2019), original da Netflix. Filha de militantes de esquerda, que enfrentaram a Ditadura Militar Brasileira, e neta de ricos empreiteiros, a vida da cineasta se entrelaça aos acontecimentos históricos e políticos do país.

Em 2005, teve sua primeira experiência na direção com Don Quixote de Bethlehem, mas o projeto não foi finalizado, tendo faltado a correção de cores, por isso não está disponível. Em 2009, dirigiu um curta, Olhos de Ressaca, um recorte poético sobre seus avós – onde a diretora se vale da poesia e da memória para construir um tom onírico. A consagração veio com seus três longas: Elena (2012), Olmo e a Gaivota (2014) e Democracia em Vertigem (2019).

Na arte, o estilo de Petra é bem característico. Ela funde os dados jornalísticos, presente nos noticiários, com sua visão intimista. São filmes bem pessoais. Portanto, não são documentários crus, frios, distanciados, mas cortes intensamente afetivos. Trata-se de uma escolha acertada, pois rejeita a neutralidade (impossível, ainda que dissimulada por veículos de comunicação) e aproxima o público, criando uma narrativa envolvente, que dá “um quentinho no coração”. Há fotos e vídeos públicos, bem como arquivos privados, de sua família. Nada impede a aproximação, que ela usa da melhor forma possível, com narrações em off. Os temas comumente giram em torno de uma figura feminina, cujo determinado incidente (depressão, gravidez ou mesmo um impeachment) entravam as potencialidades artísticas ou políticas. Isto é bem claro em Elena e Olmo e a Gaivota, com mulheres ocupando um espaço basilar. No mais recente, Democracia em Vertigem, Dilma Rousseff é como um capítulo, uma peça de quebra-cabeça, no meio da avalanche de eventos. Embora cada obra retrate a realidade, sem perder o vínculo objetivo, a experiência fílmica se assemelha ao plano fragmentado das memórias e dos sonhos. São filmes que nos levam às lágrimas, mas também às reflexões, carregados de ora doce, ora violenta poesia.

A seguir, deixo meus comentários sobre a obra de Petra, filme a filme.


Elena (2012)


Nota pessoal: 9,7 (excelente)

Rotten Tomatoes: 81% | IMDb: 7,6/10 | Metacritic: 81% | Filmow: 4.2/5

 

Comentário: Aos 19 anos, Elena Andrade, atriz, cometeu suicídio. Duas décadas depois, sua irmã, Petra – na época do incidente, com 7 anos –, mergulha em cartas, vídeos caseiros, jornais e lembranças, na expectativa de encontrar a irmã, dentro de si, e desvendar sua relação com o antigo luto. O filme é uma mistura de documentário e poesia. Há cenas reais, onde a diretora/protagonista segue os rastros da irmã e entrevista pessoas, como a própria mãe. O passado é ilustrado a montar o enigma: por quê? O que levou a jovem Elena ao prematuro fim? É extremamente pessoal o que vemos aqui. E talvez por isso a narrativa consiga nos tocar tão intensamente. Não é ficção. É uma diretora pondo em tela a sua “memória inconsolável”, como diz a própria, encarando a ardente cicatriz de seu espírito de infância. Petra se vê em Elena: seus traços, suas palavras, seus desejos se confundem. Elas se encontram na via da poesia, onde as dores escorrem, transformam-se em água nos ecos da memória. Petra entrega, ao fim, uma obra de absoluta beleza, conduzida com maestria e maturada por anos de reflexão.

 

Olmo and The Seagull (2014) | Olmo e a Gaivota

“codireção de Lea Glob”


Nota pessoal: 8,8 (ótimo)

Rotten Tomatoes: - | IMDb: 7,2/10 | Metacritic: - | Filmow: 3.9/5

 

Comentário: Prestes a estrear a peça teatral A Gaivota, do russo Tchekhov, Olivia se descobre em uma gravidez de risco, ao lado do marido, Serge. Assim, deve adiar seus planos e confrontar as limitações de seu próprio corpo. Este documentário, falado – a maior parte do tempo – em francês e realizado por Petra e Lea Glob, diretora dinamarquesa, mistura vida real e encenação. Assistimos a vida do casal, seus momentos de ternura, descobertas e desentendimentos. Tudo da forma mais transparente possível, como se as câmeras não existissem. Só notamos estar, de fato, vendo um filme, um documentário, quando a narrativa é interrompida, ainda que poucas vezes, pela produção. Isso traz uma rara originalidade ao projeto. Em off, ouvimos depoimentos, comumente de Olivia a relatar seus estados de espírito. São relatos sensíveis, nus e altamente poéticos, que revelam o turbilhão de emoções e medos da gestante. É um filme intimista, como Elena. Seu valor está, sobretudo, na naturalidade da forma e nos temas, onde a maternidade ocupa o centro.

 

Democracia em Vertigem (2019)


Nota pessoal: 9,8 (excelente)

Rotten Tomatoes: 97% | IMDb: 7,2/10 | Metacritic: 81% | Filmow: 4.1/5

 

Comentário: Dilma Rousseff sofre impeachment e deixa a Presidência da República Federativa do Brasil. Os motivos do processo são, aqui, questionados por Petra, que aproxima o cenário político brasileiro da história da própria família. O que, de fato – para além das aparências –, levou ao afastamento de Dilma? É uma discussão que divide o país, até hoje. Essa divisão se materializa no documentário: de um lado, os partidários das esquerdas; do outro, os opositores. A dicotomia está na raiz da família da diretora. Seus avós, de direita, eram parte da elite; seus pais, de esquerda, foram militantes políticos na época do regime militar. Ambos os lados são apresentados em suas contradições, ainda que a cineasta tome clara posição – não cega, mas crítica/consciente. Ela consegue imprimir seus maiores receios (que veem nossa democracia em xeque) por meio de uma bela e dramática narração. Isso humaniza o filme. Além disso, o tom de denúncia é evidente: a hipocrisia da classe política, regida não por valores morais, mas sim econômicos, por interesses/acordos pessoais, é destrinchada até às vísceras. Grandioso, intenso, arrebatador. Não à toa, ganhou os holofotes do mundo por meio do Oscar.

 

 

 

Filmografia completa da diretora:

 

2019 - Democracia em Vertigem

2014 - Olmo e a Gaivota (codireção de Lea Glob)

2012 - Elena

 

2009 - Olhos de Ressaca (documentário em curta-metragem)

 

FONTES: todos os filmes acima, em negrito; Wikipédia; Rotten Tomatoes; IMDb; Metacritic e Filmow;

Sites oficiais: elenafilme.com; olmoeagaivota.com.br; democraciaemvertigem.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad

Your Ad Spot

Páginas