Análise e comentários:
FILMOGRAFIA DE ANDREI TARKOVSKY
25
de maio de 2020
fonte da imagem: rbth.com/arts/329514-andrei-tarkovsky-films
Andrei Tarkovsky, nascido em 1932 e
morto em 1986, foi um diretor soviético, considerado um dos maiores cineastas
de todos os tempos. Ingmar Bergman, outro gigante da sétima arte, resume bem: “Quando
um filme não é documentário, ele é sonho. Por isso, Tarkovsky é o maior de
todos, pois se move, sem dúvida, no espaço do sonho [...]. Ele é um
sonhador que conseguiu pôr em cena suas visões, no mais pesado, mas também mais
dúctil, de todos os meios”. Sua vida foi relativamente breve, tendo falecido
aos 54 anos e dirigido, sozinho, sete longas-metragens, que vieram a se tornar
clássicos universais. Além disso, na época de estudante no Instituto Central de
Cinema da União Soviética, dirigiu um curta-metragem, em coautoria, e dois
médias-metragens, um também em coautoria e outro sozinho. Fechando, há também
um documentário, ao lado de Tonino Guerra. Carreira lacônica, mas brilhante. Em
terras russas, deu vida à cinco de seus longas; o sexto foi produzido na Itália
e o sétimo e último, na Suécia.
No que se refere ao seu estilo artístico,
podemos dizer que Tarkovsky foi quem melhor “capturou em tela” a poesia que há
no mundo, quem melhor materializou poemas. E ele fez isso por meio do elemento basilar
de sua arte: a manipulação do tempo. Inclusive, ele escreveu um livro sobre sua
técnica, chama-se Esculpir o Tempo. O título resume no que consiste sua
visão cinematográfica. Para Tarkovsky, assim como o escultor dá uma forma específica
à um bloco de mármore, o cineasta deve esculpir blocos de tempo. Com isso, ele
transmite uma experiência temporal, formatada por cada elemento em tela. Para
alcançar o resultado, o diretor constantemente se vale de mínimos cortes,
mantendo um ritmo sem o menor resíduo de pressa. Tudo é realizado com calma. A
câmera desliza como um pincel e, muitas vezes, estende-se na contemplação de
detalhes presentes no cenário ou mesmo na mise-en-scène aberta, como se
forçasse, na medida do possível, uma igualdade espaciotemporal entre elenco e
espectador (o som ambiente também desempenha papel fundamental). Isso, sem
dúvida, auxilia na imersão da obra. E aqui está, ao meu ver, o segredo para a
apreciação de seus filmes: permitir-se adentrar o âmago da história e se
envolver com os elementos apresentados. Por isso, é comum amar ou detestar seu
estilo. Quem imerge, normalmente entende a genialidade que há por trás; quem
não imerge, tende a achar seus filmes chatos, arrastados, excessivamente
lentos. O importante é notar que não há nada desproposital.
Entre os elementos materiais que compõem
seu estilo, podemos destacar a presença da natureza. Os personagens se misturam
às águas, à terra (e ao barro), ao ar e ao fogo. Em meio a ruínas, ecos do
tempo, a água transcorre, lambendo musgos e tijolos. O som de pingos d’água são
constantes. É possível perceber também a presença de obras de arte,
especialmente pinturas (Rublev e Da Vinci, por exemplo), e espelhos.
O pai do cineasta foi um grande
poeta russo, Arseny Tarkovsky. Seus versos aparecem em pelo menos três longas
do filho. A poesia, enquanto raiz do belo, também surge em sons e imagens
não-verbais, como nos planos oníricos de A Infância de Ivan (1962) e
lembranças, além da própria “realidade” fílmica, onde o real ganha camadas de
interpretação e se abre para reverberar em memória. Há sequências
inesquecíveis, que marcam para sempre o nosso espírito.
No instituto de cinema, como dito na
introdução, Tarkovsky codirigiu, ao lado de dois colegas de classe, seu
primeiro filme, Os Assassinos (1956), um curta-metragem noir
baseado em um conto do escritor Ernest Hemingway. O curta, apesar de realmente
bem simples, traz um apuro técnico interessante. Em seguida, ainda para o
instituto, codirigiu junto a Aleksandr Gordon, o média-metragem Hoje Não
Haverá Saída Livre (1959), que conta uma arriscada missão do exército. No
filme, construtores encontram toneladas de bombas enterradas. Nisso, evacua-se
a cidade e o exército é convocado para retirar, com segurança, o material
explosivo do local. Trata-se de uma produção considerável, que mobilizou grande
número de pessoas, pelo que se vê. O jogo entre construção de suspense e alívio
cômico funciona bem.
O próximo filme de Tarkovsky, outra
vez um média-metragem, chama-se O Rolo Compressor e o Violinista (1961).
Pela primeira vez, o cineasta assume sozinho a direção. E o resultado é
esplêndido. O que vemos é a história da construção da amizade entre um
garotinho violinista de sete anos e um condutor de rolo compressor. É um filme
gostoso como uma tarde de infância, cheio de detalhes, cores e planos
criativos.
Porém, a genialidade do diretor
atinge seu ápice estilístico apenas nos longas-metragens, onde as
características citadas se encontram em abundância e primazia. Neles, temos
questionamentos filosóficos e traços autobiográficos. Os temas podem ser muitos
– a depender do poder subjetivo do espectador –, mas parecem se guiar pela
influência do meio (seja histórico, social, estético) no ser humano. Em Tempo
de Viagem (1982), documentário realizado ao lado de Tonino Guerra, poeta e lendário
roteirista italiano, o diretor expõe um pouco do seu pensamento; fala de seus
cineastas favoritos e o que pretende com sua arte, por exemplo. Segundo ele,
seus filmes buscam superar rótulos, gêneros. Ele diz, inclusive, que considera Solaris
(1972), um de seus clássicos mais célebres, não tão bom, pois manteve
resquícios de ficção-científica, enquanto Stalker (1979) teve o mérito
de superar o mesmo gênero. Para ele, o que importa nessa dissolução de rótulos
é o voltar-se à complexidade da psique, tratar de questões genuinamente
humanas, que dialogam com o espectador.
Em sequência, eis o meu parecer
sobre cada um de seus longas, individualmente.
Зеркало
(1975) | O Espelho
Nota pessoal: 9,0 (excelente)
Rotten Tomatoes: 100% | IMDb: 8,1/10 | Filmow: 4.3/5
Comentário: Um homem, tomado por nostalgia e remorsos,
relembra o passado, especialmente sua infância. Neste filme, o diretor quebra
qualquer linearidade; inverte, mescla e sobrepõe linhas temporais que vão da
infância do protagonista – que não é revelado, exceto pela voz –, passa pelos
anos de Segunda Guerra Mundial até chegar no presente. Personagens diferentes,
em épocas distintas, por vezes, são interpretados pelos mesmos atores. Tudo
isso pode, em um primeiro contato, causar confusão em quem acompanha. Porém, Tarkovsky
faz isso propositalmente: o tempo reflete-se. Os mesmos erros do passado, erros
jamais remediados, repetem-se no desenrolar da trama. Tudo passa através do
espelho, símbolo que marca presença em diversas sequências. O hoje encara-se e
vê o passado. E o mesmo ocorre com a História (com “h” maiúsculo mesmo). Esse déjà-vu
faz parte da essência da obra – isso é fundamental para entende-la. Ao invés de
esperarmos por uma narrativa convencional, com começo, meio e fim, talvez
possamos apreciar melhor o conjunto cinematográfico, aqui, se considerarmos
cada sequência por si só e enquanto materialização de um movimento que ecoa no
tempo. O que vemos em tela é, além de tudo, profundamente autobiográfico, haja
visto que o diretor se inspirou em sua própria vida, seja por meio de
fatualidades (como o emprego de sua mãe) ou por meio de memórias. Por isso,
trata-se do projeto mais pessoal, mais íntimo de Tarkovsky. Ele também se vale
de fragmentos documentais, cenas reais, filmadas, por exemplo, durante a
guerra. Além disso, intercala as cenas com um off dos poemas de seu
próprio pai, o grande poeta russo Arseny Tarkovsky, declamados pelo próprio
diretor. Há também um forte componente onírico, ou seja, sonhos, entre a
realidade e as lembranças.
Ностальгия
(1983) | Nostalgia
Nota pessoal: 9,2 (excelente)
Rotten Tomatoes: 85% | IMDb: 8,1/10 | Filmow: 4.3/5
Comentário: Um poeta russo, acompanhado de uma bela
tradutora/guia italiana, viaja pela Itália a procura do passado de um antigo
compositor, também russo. O tema da nostalgia ecoa no próprio diretor do
projeto, que deixou a autoritária União Soviética para viver em terras
italianas, que emprestam os cenários e o idioma ao filme. Depois, os ecos
chegam ao poeta protagonista e acabam (ou começam) no misterioso e ausente
compositor. A sensação de não-pertencimento a desenraizar o russo nos introduz
à obra, que começa em um terreno nebuloso. O homem demonstra um desinteresse
contínuo, abrigando-se em imagens do passado – que Tarkovsky nos apresenta
constantemente em preto-e-branco, assim como as passagens oníricas. O
desinteresse é quebrado quando o russo e a italiana conhecem um excêntrico,
dito louco, que teima em querer atravessar a praça de águas termais de Bagno
Vignoni portando uma vela acesa (sempre impedido pelos moradores). Talvez seja
o longa mais contemplativo de Tarkovsky. Vivemos, não somente vemos, aquele
tempo esculpido. Os cortes são mínimos e o movimento da câmera é suave, quase
imperceptível. Em certos momentos, em off, versos são declamados; em
outros, a poesia recebe a forma de símbolos, como um livro a queimar ou pássaros
a ganhar liberdade. A presença de cães também é notável. Enquanto isso,
conhecemos a arquitetura toscana e romana. E viajamos por ambientes úmidos,
ruínas tomadas pela água e pelos séculos. A nostalgia se materializa nessas
ruínas, que marcam a existência de um tempo de completude e glória que se
perdeu no devir da humanidade. Nosso protagonista parece desnorteado entre dois
mundos, entre dois tempos. Ele busca um novo norte.
Андрей Рублёв
(1966) | Andrei Rublev
Nota pessoal: 9,4 (excelente)
Rotten Tomatoes: 95% | IMDb: 8,2/10 | Filmow: 4.4/5
Comentário: No meio de uma Rússia medieval desolada,
acompanhamos os passos do grande pintor de afrescos religiosos Andrei Rublev. O
filme é dividido em duas partes, com oito capítulos, um prólogo e um epílogo. O
pouco que sabemos do Rublev histórico são apenas âncoras no roteiro. O
restante, é romanceado pelos cineastas, que criam a partir das raízes de sua
nação. O protagonista, por vezes, torna-se coadjuvante ou ausente em determinados
capítulos. Não temos aqui uma construção dramatúrgica convencional, mas blocos
de tempo esculpidos. O processo de imersão é avassalador e vem naturalmente,
levando o espectador pro seio da Idade Média, mais precisamente para o início
do século XV, em vilarejos que se agarram à fé ortodoxa, onde a arte é ponte
para o divino. Por isso, muitos dos simbolismos versam acerca do maniqueísmo: o
cisne morto na lama (o bem e a beleza engolidos pela dureza da terra) e a
cobra, livre nas águas (como a liberdade do mal naqueles tempos). É como se
estivéssemos, de fato, dentro daquele período histórico. Uma angustia nos toma
conta defronte à nudez existencial daquelas pessoas, jogadas à terra, ao fogo,
à água (e até mesmo ao ar, como o homem içado ao balão, no início do longa). A
cena da invasão dos tártaros choca pelo realismo. São centenas de atores e
figurantes envolvidos, onde a câmera pincela movimentos certeiros por meio do
caos. Cenas, diria, não poéticas, mas cruas e terrivelmente reais. Por outro
lado, a celebração dos pagãos traz poesia, ainda que efêmera. Porém, no cenário
mais desumano, há espaço para o milagre e o arrebatamento do destino, que pode
remediar uma fé constantemente testada. No meu entender, é a mensagem mais
poderosa dessa complexa obra de Tarkovsky. ¹
Иваново детство (1962) | A Infância de
Ivan
Nota pessoal: 9,5 (excelente)
Rotten Tomatoes: 100% | IMDb: 8,1/10 | Filmow: 4.3/5
Comentário: Ivan é um jovem garoto soviético, órfão em
consequência da Segunda Guerra Mundial, que acaba por servir de espião aos
russos na frente de batalha. Sendo o primeiro longa-metragem de Tarkovsky, o
filme encanta por seu imenso poder poético, seja em imagens, atuações ou
roteiro, baseado no conto “Ivan”, de Bogomolov. O diretor trabalha com suas
linhas narrativas: os sonhos do garoto (onde podemos conhece-lo melhor por
intermédio de suas lembranças) e a realidade da guerra. Nos sonhos, somos
guiados pelas mais poderosas e inspiradas imagens. A guerra, por outro lado,
quase não é mostrada. É como se estivéssemos nos ecos da guerra – os sons
bélicos e os cenários devastados denunciam. Cada enquadramento parece fugir do
convencional. O “comum” e a “zona da facilidade” são rechaçados. No lugar
disso, temos poesia. O elenco também se estaca; cada olhar e cada movimento
corporal indicam entrelinhas das construções dos personagens. Ivan só parece
criança dentro das sequências oníricas. No real, o garoto parece embrutecido pela
morte da família. Movido pelo ódio, busca vingança. Há ainda a relação da
enfermeira Masha, brilhantemente interpretada, com os oficiais russos. A cena
de seu beijo, sob trincheiras, entrou para a História, sendo reconhecida até
hoje. No geral, Tarkovsky entrega um trabalho extremamente sensível, mas
igualmente pesado e contemplativo.
Солярис
(1972) | Solaris
Nota pessoal: 9,5 (excelente)
Rotten Tomatoes: 95% | IMDb: 8,1/10 | Filmow: 4.2/5
Comentário: Um psicólogo é enviado à uma estação espacial
que orbita um planeta chamado Solaris, composto integralmente por um único e
imenso oceano, cheio de mistérios que a ciência ainda não conseguiu desvendar.
Na estação, segundo se crê, há três pesquisadores emocionalmente abalados por
eventos enigmáticos. Este longa, o terceiro do diretor, fora inspirado na
ficção-científica do escritor polonês Stanisław Lem. Partindo de elementos
comuns ao gênero, como a viagem interplanetária, a obra entrega um drama
filosófico que levanta infindáveis questões acerca da natureza da existência.
Na primeira parte, acompanhamos o psicólogo a contemplar a natureza – em
contraste com a cenografia sem vida da estação no espaço. Em certo momento, somos
guiados por uma longa e silenciosa viagem de carro. Contornamos o tempo
partilhado. Na segunda parte, que se passa já no espaço, os méritos da obra se
perfazem em reflexões. O oceano de Solaris materializa entidades profundas da
psique de cada pesquisador. No caso do psicólogo, recém-chegado, vemos sua
falecida mulher. É a partir desse ponto, parte do plot principal da
história, que surgem as maiores questões: por quê? O que é o oceano? Qual seu
objetivo? Os convidados “materializados” são reais? O que é o real? O que é um
ser humano? Uma cópia – em carne e osso –, mapeada da memória de alguém, possui
a mesma legitimidade ontológica de um ser vivente, que nasceu e cresceu? Que
filosofia nos dá a chave de compressão? Podemos partir de dados físicos,
químicos, biológicos. Podemos considerar a dimensão moral, psicológica. Tudo
isso com o agravante: nosso protagonista ama a figura feminina e familiar que
se encarna diante de si. Eis os ingredientes de um dos maiores clássicos de
ficção-científica de todos os tempos. ²
Жертвоприношение
(1986) | O Sacrifício
Nota pessoal: 10 (perfeito)
Rotten Tomatoes: 85% | IMDb: 8,1/10 | Filmow: 4.4/5
Comentário: No dia de seu aniversário, um jornalista
ateu – e também antigo ator teatral e professor de Estética –, cercado de
familiares e amigos, recebe a notícia do início da Terceira Guerra Mundial –
nuclear e, portanto, partindo da iminência de um apocalipse. O último filme de
Andrei Tarkovsky, dedicado ao filho e passado na Suécia (de Ingmar Bergman), é
o mais imersivo de sua carreira. Como de costume, os planos se demoram
infindavelmente, sem qualquer pressa. Cada diálogo e cada monólogo revelam
estórias, indagações e filosofias. O conceito de eterno-retorno, de Nietzsche,
é citado. Nosso protagonista e seu filho pequeno iniciam o longa a plantar e
regar uma árvore aparentemente morta, quando Otto, o carteiro, chega. É um
início contemplativo e permeado por reflexões: a humanidade seguiu, ludibriada
pela própria tecnologia, o caminho errado? A ciência levou às bombas atômicas
(e sua potencial autodestruição), vale lembrar. Em casa, a mise-en-scène
é milimétrica, com o elenco indo e vindo, tal um jogo de xadrez. A quebra se dá
ao som de turbinas supersônicas a tremer os móveis da casa e derrubar um jarro
de leite. Quando se anuncia a guerra, cada personagem, confrontando o
inalienável medo da morte, reage de um jeito. O filme entra em uma atmosfera
mais densa, quase sufocante, apocalíptica. Aqui, o tempo parece quebrado, fora
de eixo. Cada segundo soa como o último. É como o estado, um tipo de limbo, que
antecede o sono, já estando, entretanto, embriagado desse sono. O ateu, então,
rende-se à fé e oferece tudo que lhe é sagrado (sua casa, sua voz, a relação
com seu filho) em troca da reversão daquela realidade – as cenas iniciais, na
natureza, ganham valor no contraste que se dá entre elas, tranquilas, e o
clamor desesperado da oração. Outra figura central na trama é Maria, a
empregada islandesa da família. Cada frame é um quadro e pode sustentar
leques de interpretações. Tudo filmado com a maestria do cineasta soviético.
Сталкер
(1979) | Stalker
Nota pessoal: 10 (perfeito)
Rotten Tomatoes: 100% | IMDb: 8,2/10 | Filmow: 4.4/5
Comentário: Após a suposta queda de algo não identificado
(talvez um meteoro ou algum artefato alienígena), o governo isola a área
atingida. O local, chamado de Zona, segundo reza a lenda, possui um quarto
secreto, onde se realizam os desejos mais profundos de cada visitante. Para
acessar o local, um escritor e um professor/cientista convocam um “stalker”,
uma espécie de guia que os conduzirá até o desejado objetivo. Chegando lá, em
meio à um cenário abandonado, onde a natureza sobrepuja os vestígios humanos, o
guia mostra-se cauteloso à cada passo, alertando sobre perigos iminentes –
embora o local pareça excepcionalmente calmo e seguro. Baseado levemente no
livro Piquenique na Estrada, dos irmãos Strugatsky, este filme alcança
excelência em tudo que lhe compete: direção, fotografia, som, cenografia,
elenco. É um dos trabalhos mais primorosos do cinema. Sua paleta de cores
divide-se em dois tipos. Por vezes, Tarkovsky opta pelo sépia – gerando o
resultado mais belo possível; em outras, permite que as cores preencham a tela.
Cada frame é uma poderosa obra de arte, uma pintura cinematográfica no
tempo. Da casa do stalker, passando pela cena do trem e do carro
seguindo pelos trilhos, até a chegada na Zona e toda sua extensão, não há
sequer um único take desfavorável. O diretor faz uso de planos longos,
bem longos, geralmente abertos, em movimento vagaroso. Para poder imergir, é
preciso desligar a impaciência e contemplar os instantes, a natureza e a
poesia. Os diálogos entre os três são responsáveis por conduzir reflexões de
cunho artístico e filosófico – que denotam temas complexos da humanidade. Seria
o stalker uma metáfora para quem se põe a conduzir nossa vida, como
líderes religiosos? Há também a declamação de poemas de Arseny Tarkovsky, como
ocorre em outros filmes do diretor. Os temas são variados e abertos à
interpretação, mas parecem se guiar pela noção de esperança (que habita o
famoso quarto dos desejos).
Na
sequência, apresento uma compilação de cenas da filmografia do diretor, montadas por mim:
Filmografia
completa do diretor:
1986
- Жертвоприношение (O Sacrifício)
1983
- Ностальгия (Nostalgia)
1979
- Сталкер (Stalker)
1975
- Зеркало (O Espelho)
1972
- Солярис (Solaris)
1966
- Андрей Рублёв (Andrei Rublev)
1962 - Иваново детство
(A Infância de Ivan)
FONTES: todos os filmes
acima, em negrito; Wikipédia; Rotten Tomatoes; IMDb; Metacritic e Filmow;
documentário Sacrifícios de Andrei Tarkovsky, dirigido por Denis
Trofimov; TELLES, Sérgio. Psicanálise
em debate: NOSTALGIA (1983), de Andrei Tarkovsky. Disponível em:
<polbr.med.br/ano14/psi0814.php>. Acesso em: 20 mai. 2020.
¹ Andrei Rublev //
Filmografias Tarkovsky // PP#138 (Canal Guilherme Pinheiro no YouTube).
² A Filosofia em Solaris
de Andrei Tarkovsky (Canal Fernanda Novaes no YouTube).
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