Análise e comentários:
DISCOGRAFIA DE JOÃO GILBERTO
1 de maio de 2021
Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia
Foto: Jack Vartoogian/Getty
Images.
João Gilberto, nascido em Juazeiro,
na Bahia, no ano de 1931 e morto em 2019, foi um dos maiores músicos
brasileiros da História. Talvez o maior. Seu jeito de cantar baixinho, suave,
na companhia de sua batida de violão, com a música de Tom Jobim e a poesia de
Vinicius de Moraes, fundaram o maior movimento musical brasileiro dos últimos
60 anos: a bossa nova. Esta influenciou não só a música no Brasil, abrindo
espaço para gerações de ouro na MPB, mas o mundo – por meio, primeiramente, de Getz/Gilberto
(1964), disco de João na companhia de Astrud Gilberto e do saxofonista norte-americano
Stan Getz.
Sem João Gilberto, uma escola inteira de músicos não
teria existido. Ou pelo menos existiria de forma bem diferente. Antes de Chega
de Saudade (1959), seu álbum de estreia – um divisor de águas na História
de nossa música popular, o próprio João era outro. Nos primeiros anos da
carreira, seu jeito de cantar era aberto, impostado, formal, com bastante
vibrato, muito influenciado pelos cantores da época, como Orlando Silva, seu
então ídolo. Era o modus operandi da música brasileira. O violão também
soava bem diferente. João, que integrou diversos pequenos grupos musicais, foi
para Porto Alegre e lá estudou música com o professor Armando Albuquerque.
Depois, migrou-se para Diamantina, Minas Gerais, onde passou vários meses na
casa da irmã. Durante esses meses, enclausurado, maturou suas técnicas de
violonista até encontrar o ritmo ideal, algo novo. A acústica do banheiro, onde
passava boa parte dos dias, era perfeita. Foi aí que brotou sua batida
específica de violão, basilar na criação da bossa nova. Seu canto também mudou,
deixando todo vibrato e se tornando doce, aveludado.
Segundo Roberto Menescal, “ele [João Gilberto] pegou o
tamborim, que é a essência da batida dele”. Ou seja, João fez uma síntese dos
instrumentos de percussão do samba, por meio do tamborim, e a aplicou às cordas
de seu violão. Isso fez com que o ritmo, o samba, se tornasse mais lento e terno.
Foi revolucionário. Na voz, o jeito “baixinho”, manso, tinha a “arquitetura” da
ambientação dos jovens músicos da época: o samba saía dos quintais abertos para
os apartamentos pequenos, de paredes finas, em Copacabana, o que
impossibilitava cantar alto, tendo em vista que os vizinhos precisavam acordar
cedo e reclamavam. A união entre esse modo de cantar e a batida de violão de
João foram a peça que faltava nas canções de Tom e Vinicius. Outra
característica, específica de João, era atrasar ou avançar a voz em relação ao
violão, fazendo um descompasso natural, que era compensado logo na sequência.
Enquanto o instrumento podia adiantar dois ou três compassos, o canto
continuava lá atrás. Algo possível em virtude do perfeccionismo do músico, que
dominava tanto as letras, quanto os acordes.
A bossa nova, no final dos anos 50, surgia como uma
novidade. Ela pegava o samba moderno e acrescentava a influência do jazz
americano e do impressionismo francês, de acordo com Tom Jobim. O contexto da
época, de certo, também teve papel essencial na criação do novo estilo: o país
passava por uma onda de otimismo, com Juscelino Kubitschek na presidência. No
lugar dos velhos sambas que buscavam expressar a dor e a desgraça, as letras de
Vinicius de Moraes e as melodias de Tom Jobim iam em outra direção: exaltavam
as belezas da natureza, a mulher brasileira, o amor, a sensualidade, a felicidade,
a ternura. Até mesmo a tristeza se tornou bela. E João Gilberto foi quem deu
forma a esse conteúdo.
Após desenvolver a batida ideal, ele participou, com
seu violão, do disco Canção do Amor Demais (1958), de Elizeth Cardoso. É
o canto do galo da bossa nova. A alvorada ocorreu com seu primeiro álbum solo, Chega
de Saudade (1959), onde o músico une, enfim, voz e violão na composição de
Tom e Vinicius. A primeira faixa, homônima ao disco, é um marco tão grande que
dividiu a música popular brasileira entre antes e depois. Para se ter uma
ideia, Gilberto Gil, um gigante da nossa MPB, diz claramente: “Foi esse disco,
esse momento especial da audição de Chega de Saudade, que me fez, enfim,
tocar violão. E com o violão veio tudo” ¹. Gal Costa, provavelmente nossa maior
cantora viva, é outra discípula: “João me ensinou tudo. Sou cantora por causa
dele” ². Chico Buarque, por sua vez, afirma: “Eu sei que eu toco violão desde a
hora em que aprendi a ouvir João Gilberto” ³. Caetano Veloso e até Andy Summers,
um dos maiores guitarristas do mundo, ex-integrante do The Police, foram
influenciados por João. Ele é visto como um grande pai artístico de todos esses
monstros sagrados da música, portanto, está pelo menos um degrau acima.
Um encontro marcante, que vale nota, deu-se no início
dos anos 70, no Rio de Janeiro, quando João visitou o apartamento dos Novos
Baianos. O encontro é lendário. Consta que, em um primeiro momento, o grupo
imaginou que João fosse da polícia, algum agente do Estado, em plena Ditadura
Militar, devido seu figurino engravatado. Depois, ambos trocaram experiências e
transformaram o estilo um do outro. Uma colisão entre dois mundos bem diferentes.
Com a influência direta do “papa da bossa nova”, os Novos Baianos incorporaram
elementos tradicionais do samba, como o pandeiro, e deram origem ao, segundo
amplo consenso de críticos, maior álbum da música brasileira, Acabou Chorare
(1972). João, por sua vez, recebeu a psicodelia do grupo e publicou o seu disco
mais “diferente” da carreira, João Gilberto (1973), mais conhecido como
seu “álbum branco”.
Sua discografia de estúdio segue basicamente as mesmas
características que o consagraram: voz e violão, na base, além de suporte
orquestral (com exceção do último álbum, puro, com João e seu instrumento
sozinhos – como era habitual em seus shows). Os três primeiros discos são
impecáveis. Todos se tornaram clássicos absolutos e marcaram capítulos
importantes da nossa História musical. Anos depois, nos Estados Unidos, gravou Getz/Gilberto
(1964), com Stan Getz ao saxofone, Tom Jobim ao piano e arranjos, Astrud Gilberto,
sua então mulher, nos vocais em inglês, Tião Neto no baixo e Milton Banana na bateria.
O disco ganhou 4 prêmios Grammy e apresentou Garota de Ipanema ao mundo.
Outro destaque em sua obra é o álbum Amoroso (1977), com arranjos de Claus
Ogerman. Uma discografia curta até, digamos, para o tempo de carreira de João.
Sua figura pública era de raríssimas aparições.
Praticamente não dava entrevistas, não aparecia na mídia e ficava só dentro de
seu apartamento. Isso criou uma aura de mitologia em torno dele. Detalhista ao
extremo, reclamava frequentemente da acústica de seus shows e até chegou a
abandonar o palco. Um mínimo som a mais era motivo de reprovação. Tudo devia
estar em perfeita afinação. Foi assim até o fim, quando se aposentou em 2008,
após ter conquistado milhares de admiradores nas Américas, Europa e Japão. No
fim da vida, com a saúde fragilizada, tornou-se ainda mais recluso.
Pessoalmente, mergulhar em seus discos foi uma
experiência das mais prazerosas. Eu já conhecia muito bem Tom Jobim, tanto é que publiquei uma resenha do mesmo tipo, sobre sua obra, aqui no blog. Dessa
vez, porém, a imersão foi um calmante, em meio à pandemia em que vivemos. Trouxe-me
paz e me levou a lugares belíssimos. Como diz Caetano Veloso, “melhor do que o
silêncio, só João”. A seguir, apresento meus comentários, disco a disco, desse grande
e genial artista brasileiro.
ÁLBUNS DE ESTÚDIO:
Chega de Saudade (1959)
Nota pessoal: 10,0
(perfeito)
Gênero: Bossa nova.
Gravadora: Odeon.
1. "Chega de Saudade" (Tom
Jobim, Vinicius de Moraes)
2. "Lobo Bobo" (Carlos
Lyra, Ronaldo Bôscoli)
3. "Brigas, Nunca Mais"
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
4. "Hô-bá-lá-lá"
5. "Saudade fez um Samba" (Carlos
Lyra, Ronaldo Bôscoli)
6. "Maria Ninguém" (Carlos
Lyra)
7. "Desafinado" (Tom
Jobim, Newton Mendonça)
8. "Rosa Morena" (Dorival
Caymmi)
9. "Morena Boca de Ouro" (Ary
Barroso)
10. "Bim Bom"
11. "Aos Pés da Cruz" (Marino
Pinto, Zé da Zilda)
12. "É Luxo Só" (Ary
Barroso, Luiz Peixoto)
Comentário: O disco de estreia de João Gilberto é um marco na música – brasileira e internacional, visto que o álbum ajudou a popularizar a bossa nova, ritmo que dominou o mundo entre os anos 50 e 60. É um clássico que dividiu a História da nossa música. Leve, bem-humorado, dançante, viciante. É difícil parar de ouvir. Cada canção personifica a essência daquele “novo samba”, em sua alvorada: a bossa nova em todo o seu brilho. João acentua milimetricamente cada sílaba, cada nota com maestria. Sua voz, muitas vezes sussurrada, calma, tem domínio da estrutura dos versos, bem como seu violão, na batida perfeita. Tom Jobim, por vezes na companhia de Vinicius e Newton Mendonça, assina três faixas – incluindo Chega de Saudade e Desafinado, puro-ouro da MPB. Há também letras de grandes nomes, como Ary Barroso, Carlos Lyra e Dorival Caymmi. Do próprio João Gilberto, duas faixas: Hô-bá-lá-lá e Bim Bom. Todas elas compartilham do mesmo gracioso espírito de alegria e encanto perante a vida. Uma camomila em forma de música.
O Amor, o Sorriso e a Flor
(1960)
Nota pessoal: 10,0
(perfeito)
Gênero: Bossa nova.
Gravadora: Odeon.
1. "Samba de
uma Nota Só" (Tom Jobim, Newton Mendonça)
2. "Doralice" (Antônio
Almeida, Dorival Caymmi)
3. "Só Em Teus Braços" (Tom
Jobim)
4. "Trevo de Quatro Folhas"
(Mort Dixon, Harry M. Woods, Nilo Sérgio)
5. “Se é Tarde, Me Perdoa" (Carlos
Lyra, Ronaldo Bôscoli)
6. "Um Abraço no Bonfá"
7. "Meditação" (Tom Jobim,
Newton Mendonça)
8. "O Pato" (Jayme Silva,
Neuza Teixeira)
9. "Corcovado" (Tom Jobim)
10. "Discussão" (Tom Jobim,
Newton Mendonça)
11. "Amor Certinho" (Roberto
Guimarães)
12. "Outra Vez" (Tom Jobim)
Comentário:
Continuando o sucesso e a qualidade do disco anterior, o álbum de 1960 é impecável,
em todos os aspectos. Não há sequer uma música ruim. Em metade das faixas,
temos a assinatura de Tom Jobim – o que, por si só, bate o carimbo da fina flor
da poesia nacional. Samba de uma Nota Só e Corcovado, daqui
saíram para o hall de grandes clássicos. Só Em Teus Braços, a
terceira faixa, é linda de doer, passível de lágrimas. Trevo de Quatro
Folhas é uma versão em português de I'm Looking Over a Four Leaf Clover,
dos anos 20. Um Abraço no Bonfá é a única composição de João no disco –
e também a única faixa instrumental. Meditação, de Jobim e Newton, é
outro clássico arrebatador, dando nome ao próprio álbum: "O amor, o
sorriso e a flor / Se transformam depressa demais". Na sequência, O
Pato, uma música com balanço delicioso e gostinho de infância. Cada canção
funciona bem, dentro ou fora do disco, e deixa sempre uma irresistível vontade
de querer mais.
João Gilberto (1961)
Nota pessoal: 10,0
(perfeito)
Gênero: Bossa nova.
Gravadora: Odeon.
1. "Samba da Minha Terra"
(Dorival Caymmi)
2. "O Barquinho" (Roberto
Menescal, Ronaldo Bôscoli)
3. "Bolinha de Papel" (Geraldo
Pereira)
4. "Saudade da Bahia" (Dorival
Caymmi)
5. "A Primeira Vez" (Alcebiades
Barcellos, Armando Marçal)
6. "O Amor em Paz" (Tom
Jobim, Vinicius de Moraes)
7. "Você e Eu" (Carlos
Lyra, Vinicius de Moraes)
8. "Trem de Ferro (Trenzinho)"
(Lauro Maia Teles)
9. "Coisa mais Linda"
(Carlos Lyra, Vinicius de Moraes)
10. "Presente de Natal" (Nelcy
Noronha)
11. "Insensatez" (Tom
Jobim, Vinicius de Moraes)
12. "Este seu Olhar" (Tom
Jobim)
Comentário:
Completando a magistral trilogia, que abriu uma nova era de novos músicos
brasileiros, o terceiro disco de João Gilberto não decepciona e entrega mais 12
faixas excepcionais, que entraram no cânone da bossa nova. O balanço, o ritmo,
a poesia, a batida de violão, o sussurro na voz, tudo nos leva para dentro de
uma época mágica, gloriosa, de paz. É como uma máquina do tempo. O Barquinho
traduz bem o sentimento: “Dia de luz, festa de Sol / E um barquinho a deslizar
/ No macio azul do mar”. Por sua vez, Saudade da Bahia, de Caymmi, apresenta
o choro sincero de alguém que sente falta de sua terra. Trem de Ferro
nos convida a viajar pela imaginação: “Acelera a marcha / O trem pelo sertão / E
eu só levo saudade no meu coração”. De Tom e Vinicius de Moraes, outro hit
histórico, Insensatez, capaz de destruir corações em milhões de
pedacinhos. Tudo embalado na voz e no toque único de um gênio, João Gilberto.
João Gilberto en
México (1970)
Nota pessoal: 9,1
(excelente)
Gênero: Jazz latino;
bolero; bossa nova. Gravadora: Orfeon, Tapecar.
1. "De Conversa em Conversa"
(Lúcio Alves, Haroldo Barbosa)
2. "Ela é Carioca" (Tom
Jobim, Vinicius de Moraes)
3. "O Sapo" (João Donato)
4. "Esperança Perdida" (Tom
Jobim, Billy Blanco)
5. "Trolley Song" (Irving
Berlin, Vrs. Haroldo Barbosa)
6. "João Marcelo"
7. "Farolito" (Agustin
Lara)
8. "Astronauta" (Samba da
Pergunta)" (Pingarilho, Marcos Vasconcellos)
9. "Acapulco"
10. "Bésame Mucho" (Consuelo
Velasquez)
11. "Eclipse" (Ernesto
Lecuona)
Comentário:
Durante os anos em que morou no México e, lá, participou de festivais de música,
João gravou este disco. Além da bossa tradicional, há canções em espanhol, como
Farolito e o clássico bolero mexicano Bésame mucho, de Consuelo
Velázquez. O uso de scat, técnica jazzística que consiste em emitir sons
com a boca sem pronunciar palavras específicas, é bastante empregado, como se
ouve em O Sapo e Acapulco, composição autoral de João. Outra
faixa de sua autoria é João Marcelo, um instrumental feito em homenagem
ao filho. O destaque do disco fica por conta de Ela é Carioca, outra
canção imortalizada no papel por Tom e Vinicius, ainda que minha favorita seja De
Conversa em Conversa.
João Gilberto (1973)
Nota pessoal: 9,8
(excelente)
Gênero: MPB; bossa
nova. Gravadora: Polydor.
1. "Águas de Março" (Tom
Jobim)
2. "Undiú"
3. "Na Baixa do Sapateiro"
(Ary Barroso)
4. "Avarandado" (Caetano
Veloso)
5. "Falsa Baiana" (Geraldo
Pereira)
6. "Eu Quero um Samba" (Janet
de Almeida, Haroldo Barbosa)
7. "Eu Vim da Bahia" (Gilberto
Gil)
8. "Valsa (Como são Lindos os
Youguis)"
9. "É Preciso Perdoar" (Carlos
Coqueijo, Alcivando Luz)
10. "Izaura" (Herivelto
Martins, Roberto Roberti)
Comentário:
Após encontro histórico com os Novos Baianos, onde houve troca mútua de
influência, João lançou seu disco mais diferente. Dar o play em seu
“álbum branco”, como ficou conhecido – em referência aos Beatles –, é como
entrar em um novo universo, onde não sabemos a saída e nem queremos sair. As
músicas estão em looping, dando voltas e voltas, nas letras e no
instrumental, dando uma sensação de perpetuidade. Há um quê hipnótico e
psicodélico nessa repetição, especialmente nas faixas instrumentais, cheias de scat.
Undiú, uma delas e composta pelo próprio João, tem quase 7 minutos. O
efeito parece um tipo de alucinógeno indígena, só que sonoro. A duração das
faixas segue a mesma pegada, normalmente passando de 4, 5 minutos, em contraste
com as canções ligeiras da trilogia de estreia do cantor. As características da
bossa nova permanecem, com a voz sussurrada e a batida lenta de samba, mas há
um tom mais melancólico. A primeira faixa, Águas de Março, outro
megassucesso de Tom Jobim, ilustra a atmosfera. Eu Vim da Bahia, de
Gilberto Gil, é extremamente contagiante – minha predileta do disco. Na última
faixa, Izaura, há vocal de apoio de Miúcha. No todo, o LP é uma obra
madura, sem vestígio do ar de infância de outrora. É um álbum corajoso,
experimental e minimalista: percussão discreta, violão basilar e vocal sereno.
Amoroso (1977)
Nota pessoal: 10,0
(perfeito)
Gênero: Jazz
latino; bossa nova. Gravadora: Warner Bros.
1. "'S Wonderful" (George
Gershwin, Ira Gershwin)
2. "Estate" (Bruno
Martino, Bruno Brighetti)
3. "Tin Tin Por Tin Tin" (Heraldo
Barbosa, Geraldo Jacques)
4. "Bésame Mucho" (Consuelo
Velázquez)
5. "Wave" (Tom
Jobim)
6. "Caminhos Cruzados"
(Tom Jobim, Newton Mendonça)
7. "Triste" (Tom Jobim)
8. "Zingaro" (Tom Jobim, Chico
Buarque)
Comentário:
Composto por 8 longas faixas, Amoroso (1977) é o álbum mais charmoso de
João Gilberto, com arranjos belíssimos, de texturas refinadas, do aclamado
alemão Claus Ogerman. No lugar do minimalismo instrumental, há diversos
instrumentos orquestrais. O disco é literalmente poliglota. Na abertura, 'S
Wonderful em inglês, seguida de Estate, canção italiana. Depois, Tin
Tin Por Tin Tin, em português mesmo, e Bésame Mucho, bolero em
espanhol, que João já havia gravado em 1970, mas que, aqui, aparece com uma roupagem
bem mais elegante. A outra metade do disco é composta por canções do velho
parceiro, Tom Jobim, começando por Wave, clássico inquestionável: “Vou
te contar... Os olhos já não podem ver / coisas que só o coração pode entender.
/ Fundamental é mesmo o amor, / é impossível ser feliz sozinho”. Para encerrar,
Zingaro, de Tom e Chico Buarque, mais conhecida por Retrato em Branco
e Preto. No todo, uma obra ímpar e que merece ser celebrada – ainda mais na
companhia de um bom vinho.
João (1991)
Nota pessoal: 9,5
(excelente)
Gênero: MPB; bossa
nova. Gravadora: Polygram.
1. "Eu Sambo Mesmo" (Janet
Almeida)
2. "Siga" (Fernando Lobo,
Helio Guimarães)
3. "Rosinha" (Jonas Silva)
4. "Málaga" (Fred Bongusto)
5. "Una Mujer" (Paul
Misraki, S. Pontal Riso, C. Olivare)
6. "Eu e meu Coração" (Inaldo
Vilarinho, Antonio Botelho)
7. "You Do Something to me"
(Cole Porter)
8. "Palpite Infeliz" (Noel
Rosa)
9. "Ave Maria no Morro" (Herivelto
Martins)
10. "Sampa" (Caetano Veloso)
11. "Sorriu pra Mim" (Garoto,
Luiz Claudio)
12. "Que Reste-t-il de Nos Amours"
(Charles Trenet, Leon Chauliac)
Comentário:
João, de 1991, apresenta o artista seguro de si, explorando novamente,
como no disco anterior, Amoroso (1977), outros idiomas. No total, cinco:
português, italiano, espanhol, inglês e francês. Mesmo assim, é um álbum que
exala brasilidade, como sentimos pelo samba do cantor, uma essência que
perpassa seu jeito peculiar de cantar, aqui, mais sussurrado do que nunca, e
seu inconfundível violão, na batida da bossa. Na faixa 8, Palpite Infeliz,
temos letra do grande sambista Noel Rosa, 1910–1937, pela primeira vez na
discografia de João. O destaque do álbum é a décima faixa, Sampa, com
letra de Caetano Veloso, onde o músico homenageia a cidade de São Paulo: “[...]
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas / Eu vejo surgir teus poetas de
campos, espaços / Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva [...] / Alguma
coisa acontece no meu coração / Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São
João”. Outra pérola é a última canção, Que Reste-t-il de Nos Amours,
cantada em francês, de uma delicadeza ímpar e um charme irresistível.
João Voz e Violão (2000)
Nota pessoal: 9,4
(excelente)
Gênero: Bossa nova.
Gravadora: Universal.
Grammy (2001):
Melhor Álbum de World Music.
1. "Desde que o Samba é Samba"
(Caetano Veloso)
2. "Você Vai Ver" (Tom
Jobim)
3. "Eclipse" (Margarita
Lecuona)
4. "Não Vou Pra Casa" (Antônio
de Almeida, Roberto Roberti)
5. "Desafinado" (Tom
Jobim, Newton Mendonça)
6. "Eu Vim da Bahia"
(Gilberto Gil)
7. "Coração Vagabundo" (Caetano
Veloso)
8. "Da Cor do Pecado" (Bororó)
9. "Segredo" (Herivelto
Martins, Marino Pinto)
10. "Chega de Saudade" (Tom
Jobim, Vinicius de Moraes)
Comentário: O último álbum de estúdio da carreira de João Gilberto – e único do novo milênio – é também o mais cru, o que melhor capta a essência do artista. Há apenas sua voz, controlada, em domínio absoluto, sussurrada, e seu violão maroto a sambar. Voz e violão formam uma unidade que se traduz no ritmo perfeito de sua criação, a bossa nova, sem tirar, nem pôr. É assim que João se apresenta ao público e é assim que o disco se propõe. Um João já na terceira idade, mas sem perder o pique de seu talento. É de se imaginar a dificuldade em cantar e tocar cada acorde ao mesmo tempo, trabalho maturado por décadas. Aqui, ele repete sucessos da carreira, atualizados, além de canções jamais gravadas por ele em álbuns, como Você Vai Ver, uma delícia da musicografia de Tom Jobim. Além de Tom, Caetano e Gilberto Gil também assinam determinadas faixas. Para encerrar, Chega de Saudade, seu maior sucesso: é a última canção do último disco e a primeira canção do primeiro disco, de 1959. Começo e fim interligados por laços de ouro.
ÁLBUNS COLABORATIVOS:
Getz/Gilberto (1964)
“Com Stan Getz, Tom Jobim e Astrud Gilberto”
Nota pessoal: 10,0
(perfeito)
Gênero: Jazz;
bossa nova. Gravadora: Verve.
Grammy (1965):
Melhor Álbum do Ano; Melhor Instrumental em Álbum de Jazz; Melhor Arranjo Não
Clássico; Melhor Gravação do Ano – para a faixa The Girl from Ipanema.
1. "The Girl from Ipanema"
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Norman Gimbel)
2. “Doralice” (Antônio Almeida,
Dorival Caymmi)
3. “Para Machucar Meu Coração” (Ary
Barroso)
4. “Desafinado” (Tom Jobim, Newton
Mendonça)
5. “Corcovado (Quiet Nights of Quiet
Stars)” (Tom Jobim, Gene Lees)
6. “Só Danço Samba” (Tom Jobim, Vinicius
de Moraes)
7. “O Grande Amor” (Tom Jobim, Vinicius
de Moraes)
8. “Vivo Sonhando” (Tom Jobim)
Comentário: Fenômeno de críticas e vendas, o disco
popularizou a música brasileira em todo o mundo, fazendo explodir a bossa nova,
descrita como uma mistura de jazz e samba. João Gilberto, aqui, toca seu violão
e canta de modo doce e minimalista. De todas as faixas, somente a segunda e a
terceira não constam da composição de Tom Jobim, que assume o piano e alguns
arranjos. Há também o vocal feminino, cantado em inglês, de Astrud Gilberto,
então mulher de João; e Stan Getz, saxofonista norte-americano. A primeira
faixa é a versão definitiva de uma das canções mais célebres da História: Garota
de Ipanema, na voz de João, em português, e Astrud, em inglês. Para
Machucar Meu Coração, de Ary Barroso, terceira faixa, é a minha favorita.
Há uma junção entre o improviso jazzístico e o toque, o balanço da bossa nova.
Essa mistura rendeu elogios elevadíssimos tanto do meio especializado, que
premiou o disco com mais de um Grammy (incluindo Melhor Álbum do Ano – feito
incrível para um álbum de jazz), tanto do público, visto que a obra vendeu
milhões de exemplares. Devido sua exímia qualidade, trata-se de um disco
impecável, um clássico da música mundial.
The Best of Two Worlds (1976)
“Com Stan Getz e Miúcha”
Nota pessoal: 8,3
(ótimo)
Gênero: Jazz; MPB.
Gravadora: Columbia.
1. "Double Rainbow"
(Tom Jobim, Gene Lees)
2. "Águas de Março" (Tom
Jobim)
3. "Lígia" (Tom Jobim)
4. "Falsa Baiana" (Geraldo
Pereira)
5. "Retrato em Branco e Preto"
(Tom Jobim, Chico Buarque)
6. "Izaura" (Herivelto
Martins, Roberto Roberti)
7. "Eu Vim da Bahia" (Gilberto
Gil)
8. "João Marcelo"
9. "É Preciso Perdoar" (Alcivando
Luz, Carlos Coqueijo Costa)
10. "Just One of Those Things"
(Cole Porter)
Comentário: Tentando repetir a mistura perfeita de
jazz e samba, de Getz/Gilberto (1964), este disco traz novas composições
do mundo da MPB, faz a desconstrução, reinterpreta e transforma em uma nova
versão, unindo o som brasileiro e o som estadunidense. No lugar de Astrud, é
Miúcha quem assume os vocais femininos cantados em inglês. O resultado é, outra
vez, muito interessante, mas não chega nem perto da originalidade da proposta
inicial, da década de 60. As versões originais, dos discos solo de João
Gilberto, são melhores. De todo modo, serve como uma extensão da experiência
anterior e se inscreve no movimento, que fez tão grande sucesso internacional.
Brasil (1981)
“Com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia”
Nota pessoal: 9,0
(excelente)
Gênero: MPB.
Gravadora: Warner Music Group.
1. "Aquarela do Brasil" (Ary
Barroso)
2. "Disse Alguém" (Haroldo
Barbosa, Gerald Marks, Seymour Simons)
3. "Bahia com H" (Augusto
Duarte Ribeiro)
4. "No Tabuleiro da Baiana"
(Ary Barroso)
5. "Milagre" (Dorival
Caymmi)
6. "Cordeiro de Nanã" (Dadinho,
Mateus Aleluia)
Comentário: Quatro entre os dez maiores músicos
brasileiros dos últimos 60 anos estão aqui. Só por esse fato, vale conhecer.
São 6 faixas, sendo as 5 primeiras de longa duração. Na abertura, quiçá o maior
clássico de nosso cancioneiro, Aquarela de Brasil, de Ary Barroso, que
também assina a quarta faixa, No Tabuleiro da Baiana, única canção do
disco onde Maria Bethânia assume versos inteiros no vocal principal. A segunda,
Disse Alguém, é uma versão maravilhosa, em português mesmo, de All of
Me, clássico jazzístico do começo dos anos 30. A interação entre João
Gilberto, Caetano e Gil é orgânica, natural, complementar, tudo que se espera
de três gênios. Por vezes, parece João a cantar com dois ecos. Ele, João, é o
centro, a base, mas dá espaço para todos poderem brilhar. São hinos de pura
brasilidade, que exalam Brasil em cada nota, em cada verso.
ÁLBUNS AO
VIVO:
Getz/Gilberto Vol.
2 (1966)
“Ao vivo / com Stan Getz”
Nota pessoal: 8,9
(ótimo)
Gênero: Ao vivo; jazz;
bossa nova. Gravadora: Verve.
1. "Grandfather's Waltz"
2. "Tonight I Shall Sleep (With
a Smile on My Face)"
3. "Stan's Blues"
4. "Here's That Rainy Day"
5. "Samba da Minha Terra"
6. "Rosa Morena"
7. "Um Abraço No Bonfá"
8. "Bim Bom"
9. "Meditação"
10. "O Pato"
Comentário: Diferentemente do primeiro volume de Getz/Gilberto,
este disco não une os dois universos, do jazz e do samba, nas mesmas canções,
criando algo novo. Aqui, as quatro primeiras faixas são músicas convencionais
de jazz norte-americano, com a banda de Stan Getz tocando como de hábito. Da
quinta à décima faixa, por outro lado, temos um “mini show” de João Gilberto,
cantando e tocando alguns sucessos de seus primeiros álbuns, com o
acompanhamento do baixo e da percussão. Algo intimista até. Há versão do disco
que acrescenta mais cinco faixas ao fim, mas o LP original traz apenas as dez
listadas. O concerto foi gravado no Carnegie Hall, mais célebre casa de
espetáculos dos Estados Unidos, localizada em Manhattan, Nova Iorque.
João Gilberto
Prado Pereira de Oliveira (1980)
“Ao vivo”
Nota pessoal: 9,5
(excelente)
Gênero: Ao vivo; bossa
nova. Gravadora: WEA.
1. "Menino do Rio"
2. "Curare"
3. "Retrato Em Branco E Preto"
4. "Chega de Saudade"
(feat. Bebel Gilberto)
5. "Desafinado"
6. "O Pato"
7. "Eu e a Brisa"
8. "Joujoux e Balangandãs"
(feat. Rita Lee)
9. "Canta Brasil"
10. "Aquarela do Brasil"
11. "Bahia Com H"
12. "Tim Tim Por Tim Tim"
13. "Estate"
Comentário: Gravado em 1980 como um especial da TV
Globo, este show traz duas grandes participações, além da performance solo de
João: Bebel Gilberto, sua filha com Miúcha, estreia na carreira musical
cantando o maior clássico do pai, Chega de Saudade; a outra participação
especial é Rita Lee, fazendo dueto com João em Joujoux e Balangandãs, de
Lamartine Babo. Destaco a apresentação belíssima de Estate, na última
faixa. O show, no geral, é excelente. João, ao violão, no centro de um palco
circular, canta tão bem quanto em seus discos de estúdio. Ao fundo, à meia-luz,
temos a orquestra sob arranjos de Claus Ogerman.
Live
in Montreux (1987)
“Ao vivo”
Nota pessoal: 9,2
(excelente)
Gênero: Ao vivo;
bossa nova; MPB. Gravadora: Elektra/Musician.
1. "Sem Compromisso"
2. "Menino do Rio"
3. "Retrato em Branco e Preto"
4. "Pra que Discutir com Madame"
5. "Garota de Ipanema"
6. "Adeus América"
7. "Estate"
8. "Morena Boca de Ouro"
9. "A Felicidade"
10. "Preconceito"
11. "Isto Aqui o Que É"
12. "Rosa Morena"
13. "Aquarela do Brasil"
Comentário: Edição solo de uma versão dupla, o show
foi gravado em 1985 no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Diferente
do disco ao vivo anterior, Live in Montreux apresenta um João Gilberto
puro, sem a companhia da orquestra. É algo bem mais intimista, como padrão nos
concertos do músico: voz e violão, só. E nem por isso perde qualidade. O
repertório abrange clássicos antigos, incluindo Garota de Ipanema, tão
rara na discografia de João, aparecendo, até então, somente na abertura de Getz/Gilberto
(1964), mas também inclui boas surpresas, como Adeus América e A
Felicidade, dos velhos amigos, Tom e Vinicius. Destaco Pra que Discutir
com Madame, uma delícia de samba. No encerramento, oito minutos de Aquarela
do Brasil. Oito minutos de repetição, o que pode cansar um pouco – único
ponto negativo, ao meu ver.
Stan Getz Meets
João & Astrud Gilberto (1990)
“Ao vivo / com Stan Getz e Astrud Gilberto”
Nota pessoal: 9,7
(excelente)
Gênero: Ao vivo; jazz;
bossa nova. Gravadora: Giants of Jazz.
1. "Corcovado (Quiet Nights)"
2. "O Pato"
3. "It Might as Well Be Spring"
4. "Samba De Minha Terra"
5. "One Note Samba"
6. "Tonight I Shall Sleep with a
Smile on My Face"
7. "Bim Bom"
8. "The Singing Song"
9. "The Telephone Song"
10. "Here's That Rainy Day"
11. "Eu e Você"
12. "Rosa Morena"
13. "Grandfather's Waltz"
14. "Only Trust Your Heart"
15. "Um Abraço no Bonfá"
16. "Stan's Blues"
17. "Meditação"
18. "Summertime"
19. "Six-Nix-Pix-Flix"
Comentário: Lançado em 1990, o disco reúne faixas ao
vivo, gravadas em Nova Iorque em 1964, ano em que a bossa nova fazia tremendo sucesso
nos Estados Unidos. Parte das gravações ocorreu no Greenwich Village, Cafe Au
Go Go; outra parte, no Carnegie Hall. Diferentemente de Getz/Gilberto Vol. 2
(1966), este disco traz a mistura entre o som de Getz e a bossa brasileira;
isto ocorre nas canções cantadas por Astrud Gilberto. Ela tem bastante destaque
aqui, cantando em português (pela primeira vez) e em inglês. Vale ressaltar que
Astrud não era uma cantora profissional quando aceitou protagonizar, ao lado do
então marido, João, os discos de Getz. Mesmo assim, ela fez um trabalho
formidável e reconhecível até hoje, apesar da falta de reconhecimento no
Brasil. Getz, por sua vez, participa como sempre ao saxofone, acompanhando
Astrud ou nos instrumentais americanos. João Gilberto, ao contrário, participa
do disco, cantando, somente na companhia de seu violão, um baixo e uma
percussão.
Eu Sei Que Vou Te
Amar (1994)
“Ao vivo”
Nota pessoal: 9,4
(excelente)
Gênero: Ao vivo; bossa
nova. Gravadora: Epic.
1. "Eu Sei Que Vou Te Amar"
2. "Desafinado"
3. "Você Não Sabe Amar"
4. "Fotografia"
5. "Rosa Morena"
6. "Lá Vem a Baiana"
7. "Pra Que Discutir Com Madame"
8. "Isto Aqui O Que É?"
9. "Meditação"
10. "Da Cor Do Pecado"
11. "Guacyra"
12. "Se é Por Falta de Adeus"
13. "Chega de Saudade"
14. "A Valsa de Quem Não Tem Amor"
15. "Corcovado"
16. "Estate"
17. "O Amor em Paz"
18. "Aos Pés da Cruz"
Comentário: O concerto, assim como Live in Montreux
(1987), traz um João intimista e puro, com voz, violão e plateia. No início,
temos Eu Sei Que Vou Te Amar, pela primeira e única vez na discografia de
João. É uma interpretação belíssima da letra de Vinicius de Moraes. Sucessos do
passado, como Desafinado e Chega de Saudade, estão presentes, mas
também novidades, tal Fotografia, de Tom Jobim. Estate, canção
italiana, continua em destaque na setlist do artista, sendo a única
música do show em língua estrangeira. É, de fato, uma grande exceção, tendo em
vista a brasilidade intensa de cada verso das faixas. Outra característica do
disco são as durações menores, em cada canção, destoando das repetições de outros
shows.
Live at Umbria Jazz (2002)
“Ao vivo”
Nota pessoal: 9,4
(excelente)
Gênero: Ao vivo; bossa
nova. Gravadora: EGEA.
1. "Isto Aqui o Que É?"
2. "De Conversa em Conversa"
3. "Pra Que Discutir com Madame?"
4. "Málaga"
5. "Estate"
6. "Lá Vem a Baiana"
7. "Corcovado"
8. "Doralice"
9. "Rosa Morena"
10. "Desafinado"
11. "Saudade da Bahia"
12. "O Pato"
13. "Chega de Saudade"
14. "Garota de Ipanema"
Comentário: Gravado em 1996 e lançado em 2002, o disco
ao vivo nos leva para o Festival Umbria Jazz, na Itália. É outro show
convencional de João, minimalista, com voz e violão. Um destaque interessante é
a segunda canção da setlist, De Conversa em Conversa, samba de
Lúcio Alves que não aparecia na discografia do músico desde João Gilberto en
México (1970). Há também a surpresa boa de Doralice, uma das músicas
principais de Getz/Gilberto (1964). Na “saideira”, os dois maiores
clássicos: primeiro, Chega de Saudade, em uma repetição de seis minutos;
depois, Garota de Ipanema.
In
Tokyo (2004)
“Ao vivo”
Nota pessoal: 9,6
(excelente)
Gênero: Ao vivo; bossa
nova. Gravadora: Verve Records.
1. "Acontece Que Eu Sou Baiano"
2. "Meditação"
3. "Doralice"
4. "Corcovado"
5. "Este Seu Olhar"
6. "Isto Aqui o Que É?"
7. "Wave"
8. "Pra Que Discutir com Madame?"
9. "Lígia"
10. "Louco"
11. "Bolinha de Papel"
12. "Rosa Morena"
13. "Adeus América"
14. "Preconceito"
15. "Aos Pés da Cruz"
Comentário: João Gilberto fez um sucesso
extraordinário durante a passagem de sua turnê pelo Japão. Consta que foi
aplaudido durante 25 minutos pelos milhares de espectadores ⁴. Começa o show
dizendo “Konbanwa”, boa noite em japonês, e segue com Acontece Que Eu
Sou Baiano e um combo de três sucessos. Tem até Wave na setlist,
mas os dois maiores clássicos de sua carreira, que encerraram Live at Umbria
Jazz (2002), ficaram de fora. Gravado em 2003, em Tóquio, e lançado no ano
seguinte, temos aqui um João já idoso – ele veio a se aposentar dos palcos em
2008. Isso não interfere em nada na sua qualidade enquanto cantor e violinista.
Continua impecável, mas com a voz um pouco mais baixa, mais sussurrada, do que
de costume. O minimalismo também continua, dessa vez com uma tecnologia mais
aprimorada na captação do áudio. No todo, um baita show.
Um Encontro no Au
bon Gourmet (2015)
“Ao vivo / com Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os
Cariocas”
Nota pessoal: 9,8
(excelente)
Gênero: Ao vivo; bossa
nova. Gravadora: Doxy.
1. "Só Danço Samba"
2. "Samba de uma nota só"
3. "Corcovado"
4. "Samba da Bênção"
5. "Amor em Paz"
6. "Bossa Nova e Bossa Velha"
7. "Samba do Avião"
8. "O Astronauta"
9. "Samba da minha terra"
10. "Insensatez"
11. "Garota de Ipanema"
12. "Devagar com a louça"
13. "Só Danço Samba [2]"
14. "Pot-pourri"
Comentário: Trata-se de um show histórico, ocorrido em
2 de agosto de 1962 – e só lançado em disco no ano de 2015. Gravado no
restaurante Au bon Gourmet, Copacabana, o que temos aqui é simplesmente
o encontro entre os três criadores da bossa nova, Tom, Vinicius e João, com o
acompanhamento d’Os Cariocas, conjunto vocal formado em 1942, além do baixista Otávio
Bailly e do baterista Milton Banana. Foi durante um desses shows, no Au bon
Gourmet, que ouvimos, pela primeira vez ao público, uma das canções mais
famosas de todos os tempos: Garota de Ipanema. Ela aparece com uma
introdução especial, cantada pelos “três pais”: João Gilberto: “Tom, e se você
fizesse agora uma canção / Que possa nos dizer / Contar o que é o amor?”; Tom
Jobim: “Olha Joãozinho / Eu não saberia / Sem Vinicius pra fazer a poesia”;
Vinicius de Moraes: “Para essa canção / Se realizar / Quem dera o João para
cantar”; João Gilberto: “Ah, mas quem sou eu? / Eu sou mais vocês / Melhor se
nós cantássemos os três”. Então começa, na voz do trio: “Olha que coisa mais
linda / Mais cheia de graça [...]”. Histórico. O show inteiro tem um ar
bem-humorado, leve, feliz. No encerramento, um Pot-pourri que termina em
Se Todos Fossem Iguais a Você.
Getz/Gilberto '76 (2016)
“Ao vivo / com Stan Getz”
Nota pessoal: 9,5
(excelente)
Gênero: Ao vivo; jazz;
bossa nova. Gravadora: Resonance Records.
1. "Spoken Intro by Stan Getz"
2. "É Preciso Perdoar"
3. "Águas de Março"
4. "Retrato em Branco e Preto"
5. "Samba da Minha Terra"
6. "Chega de Saudade"
7. "Rosa Morena"
8. "Eu Vim da Bahia"
9. "João Marcelo"
10. "Doralice"
11. "Morena Boca de Ouro"
12. "Um Abraço No Bonfá"
13. "É Preciso Perdoar (Encore)"
Comentário: Publicado em 2016, o show ocorreu em Keystone
Korner, um clube de jazz localizado em São Francisco, no ano de 1976. Aqui, a
boa e velha mistura entre o saxofone de Getz e a voz e o violão de João se faz
presente. Na abertura, umas palavras de Getz, antes de iniciar o concerto. Há
boas novidades, especialmente Chega de Saudade, que fez mais sucesso no
Brasil e não ingressou em Getz/Gilberto (1964), lançado 12 anos antes.
João tem bastante destaque na setlist, com duas composições autorais e
instrumentais de violão, João Marcelo e Um Abraço No Bonfá.
Apesar da ausência de Astrud, a atmosfera confortável e charmosa do primeiro
disco da parceria é sentida, ainda que o brilho seja menor. Faz até mais
sentido chamar este álbum de “volume 2”, ao invés daquele lançado em 1966. Um
ótimo presente aos fãs.
Discografia
completa do músico:
Álbuns de estúdio
2000
– João Voz e Violão
1991
– João
1977
– Amoroso
1973
– João Gilberto
1970
– João Gilberto en México
1961 – João Gilberto
1960 – O Amor, o Sorriso e a Flor
1959 – Chega de Saudade
Álbuns colaborativos
1981
– Brasil (com Caetano Veloso, Gilberto Gil e
Maria Bethânia)
1976
– The Best of Two Worlds (com Stan Getz e Miúcha)
1964
– Getz/Gilberto (com Stan Getz, Tom
Jobim e Astrud Gilberto)
Álbuns ao vivo
2016 – Getz/Gilberto '76 (ao vivo / com Stan Getz)
2015 – Um Encontro no Au bon Gourmet (ao vivo /
com Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas)
2004 – In Tokyo (ao vivo)
2002 – Live at Umbria Jazz (ao vivo)
1994 – Eu Sei Que Vou Te
Amar (ao vivo)
1990 – Stan Getz Meets
João & Astrud Gilberto (ao vivo / com Stan Getz e Astrud Gilberto)
1987 – Live in
Montreux (ao vivo)
1980 – João Gilberto Prado
Pereira de Oliveira (ao vivo)
1966 – Getz/Gilberto
Vol. 2 (ao vivo / com Stan Getz)
FONTES:
Todos os álbuns acima, em negrito; Wikipedia;
¹
Canal Brasil. Gilberto Gil lembra de quando ouviu "Chega de
Saudade". Disponível em youtu.be/Upgrha874Ng
²
Folha de S. Paulo. 'João Gilberto mudou para sempre a música do mundo', diz
Gal Costa. 6 de julho de 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/lista-de-discipulos-de-joao-gilberto-inclui-caetano-gil-e-ate-ex-guitarrista-do-police.shtml
³
Programa Fantástico, TV GLOBO. Sensibilidade e busca pela perfeição criaram
o estilo de João Gilberto. Exibido em 7 de julho de 2019. Disponível em: globoplay.globo.com/v/7746984/
⁴
Folha de S. Paulo. Em apresentação no Japão, João Gilberto continua nos
detalhes. 8 de maio de 2004. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u44016.shtml
Folha
de S. Paulo. Lista de discípulos de João Gilberto inclui Caetano, Gil e até
ex-guitarrista do Police. 6 de julho de 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/lista-de-discipulos-de-joao-gilberto-inclui-caetano-gil-e-ate-ex-guitarrista-do-police.shtml
GSHOW. Como João Gilberto “desencaixotou os pandeiros” dos Novos Baianos e foi decisivo para Acabou Chorare. 23 de setembro de 2020. Disponível em: https://gshow.globo.com/ep/replay-acabou-chorare/noticia/como-joao-gilberto-desencaixotou-os-pandeiros-dos-novos-baianos-e-foi-decisivo-para-acabou-chorare.ghtml
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