É quase meio de janeiro:
O bafo quente do verão solta todos os insetos!
É pernilongo, mariposa, barata
Marchando pra tudo “qué” lado, como num protesto.
Bicho voando ou se espreitando,
Atropelando tudo o que tem pela frente,
Ganhando espaço de tu,
Ganhando espaço de mim,
Ganhando espaço de gente.
Saem dos esgotos, dos campos, dos ninhos,
E vão invadindo os aposentos humanos.
“Até em minha cama já subiram” – conta fulano,
“Até em meu banho” – conta sicrano.
Compartilham o mesmo piso, o mesmo quarto,
Assoalho, cimento, terra, azulejo, não importa;
Tem barata até atrás da porta!
Mas também tem bicho maior, bicho de asa e pena.
É passarinho bebericando na vasilha do cachorro,
Defecando sobre as roupas no varal,
(As bermudas pedindo socorro,
Minha toalha: alvo em potencial)
Disputam lugar com o gato
Comendo os restos de comida do almoço.
Certo dia, pousaram em meu prato.
Noutro, comeram abacate,
— Meu Deus, sobrou só o caroço!
“Poxa moço” – pensa o passarinho
“Vivo também sou,
Sede também sinto,
Esse calor também me mata,
Repito e não minto.”
Comovido pelo olhar dócil do bichinho,
Desbloqueio sua passagem,
Pego um pedaço de pão e ainda lhe dou um pouquinho.
Mas, com barata, não há diálogo, não.
Bicho invade meu quarto, e vem todo valentão,
“Moras aí tu, – pensa a barata –
Mas viva também sou,
Sede também sinto,
Esse calor também me mata,
Repito e não minto.”
Sem conversação, ela parte para cima
Em batalha de domínio,
Correndo em disparada
Em meu humilde domicílio.
A porta está aberta e a vassoura em minha mão,
Mostro-lhe a saída:
— Chega de atuação!
Lá fora, suas amigas, só restam a esperar.
Baratas e mais baratas paradas estão,
Ansiosas para aqui entrar,
Mas, afinal, é compreensível
O porquê de tantos manifestos.
Já é quase meio de janeiro.
O bafo quente do verão solta todos os insetos!
Adorei a poesia. Retratou exatamente o que experiencio❤️
ResponderExcluirBoa!
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