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terça-feira, 16 de junho de 2020

SOFIA COPPOLA: comentando a filmografia completa


Análise e comentários:
FILMOGRAFIA DE SOFIA COPPOLA

16 de junho de 2020
Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia

fonte da imagem: c7nema.net/tv-musica/item/53186-serie-de-sofia-coppola-a-caminho-da-apple-tv.html

            Sofia Coppola, nascida em Nova Iorque no ano de 1971, é diretora, roteirista, produtora e atriz. Ela é filha do lendário cineasta Francis Ford Coppola, responsável pela direção da trilogia O Poderoso Chefão, onde Sofia pôde atuar. Tendo crescido e amadurecido dentro desse contexto, onde sua referência paterna, na própria casa, representa um marco na História do cinema, Sofia passou a desenvolver o desejo de realizar filmes autorais, dirigidos e escritos por ela. Nisso, trouxe ao público, até agora, seis longas-metragens, que caracterizam seu estilo, além de um curta-metragem, comerciais, um videoclipe e um média-metragem especial de Natal. Enquanto atriz, não obteve grande êxito, sendo bastante criticada. Sua arte é muito melhor reconhecida enquanto roteirista, tendo ganhado o Oscar, e diretora, uma das pouquíssimas cineastas mulheres a concorrer na categoria de melhor direção de Prêmios da Academia.
            Acerca dos longas, a diretora aposta em dramas, onde há certa melancolia atmosférica, assim como um certo humor politicamente incorreto. Os temas mais comuns, que aparecem, de modo central ou “cultural”, giram em torno do estado psicológico de adolescentes, especialmente meninas. Somente em Encontros e Desencontros (2003), seu segundo longa, tal temática não é basilar, ainda que apareça na cultura gamer dos jovens japoneses. Em seus outros cinco filmes, há jovens psicologicamente complexas. As relações entre suas personagens é um dos pontos fortes de seu trabalho. Tais conexões ocorrem ora por acaso, gerando vínculos inexplicáveis, ora por interesses superficiais em comum; por imperativos morais de época ou laços familiares. Uma crítica pertinente, talvez seja sua inclinação a mostrar apenas as dores de quem está em posição social de alto privilégio, provável reflexo de seu próprio universo pessoal.
            Seu estilo cinematográfico preza por uma fotografia de tons pasteis, amarelos debotados, azuis e rosas. Isso cria uma aura doce, um quê de fantasia, de sonho. Ligado a isso, temos cenários extremamente realistas – muitos deles, sendo locações reais. No, já citado, Encontros e Desencontros, vemos Tóquio. Em Maria Antonieta (2006), Sofia rodou diversas cenas no verdadeiro Palácio de Versalhes. Aqui, a diretora trabalha um filme de época, assim como ocorre em O Estranho Que Nós Amamos (2017), com o melhor uso possível de figurino (sempre uma prioridade, visto o gosto da diretora pela Moda), maquiagem e cabelo. É tudo muito vistoso. Toda essa estética, dos cenários à construção estilística dos personagens, cria uma originalidade própria, uma ambientação que influencia diretamente o comportamento de cada protagonista, coadjuvante e figurante. Em seus elencos, Kirsten Dunst é recorrente. Na trilha sonora, o pop-rock é constante, gerando certa vibe nas mais diversas cenas.
            Em 2015, Coppola realizou o especial natalino A Very Murray Christmas, com Bill Murray, com quem já havia trabalhado. É uma comédia-musical simples, sem grandes pretensões, que reúne algumas estrelas de Hollywood, como George Clooney. Em sua filmografia, também podemos encontrar Lick The Star (1998), seu curta-metragem de estreia; um videoclipe da banda The White Stripes e comerciais de uma marca de perfumes.
            Em seguida, apresento minha resenha e avaliação pessoal sobre cada um de seus longas-metragens, do pior ao melhor.


Somewhere (2010) | Um Lugar Qualquer
Nota pessoal: 7,3 (muito bom)
Rotten Tomatoes: 71% | IMDb: 6,3/10 | Metacritic: 67% | Filmow: 3.3/5

Comentário: Um ator hollywoodiano de meia-idade vive um cotidiano tedioso, vazio de sentido, até precisar passar um tempo com a filha, Cleo, de 11 anos. O filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Nada mal. Os temas centrais deste longa são o tédio e a paternidade. O vazio é retratado sem pressa, com atitudes e diálogos superficiais, sem qualquer sopro de empolgação. O protagonista é um sujeito controverso, que parece não valorizar as significações, permanecendo em uma rotina de sexo descompromissado e voltas com sua Ferrari. O retrato pode causar identificação tanto no vazio (ou tédio) em estrelas de cinema, quanto em pais ausentes. No primeiro caso, vejo pouco valor, pois soa como um “lamento dos privilegiados”, como disse a revista Sight & Sound. No tema paternidade, o filme ganha melhor dimensionamento. Na trilha sonora, há momentos de pop-rock, comuns à filmografia da diretora, e momentos de silêncio.

The Bling Ring (2013) | Bling Ring - A Gangue de Hollywood
Nota pessoal: 8,1 (ótimo)
Rotten Tomatoes: 59% | IMDb: 5,6/10 | Metacritic: 66% | Filmow: 3.0/5

Comentário: Um grupo de jovens, após pesquisa na internet, invade casas de celebridades para furtar objetos valiosos. Baseado em uma história real, o filme faz uma crítica à obsessão pela vida dos famosos, que representam o ápice do status em uma sociedade de valores superficiais. Ostentar o pertence de uma Paris Hilton, por exemplo, acaba sendo mais significativo que o medo de acabar na prisão, por furto. A crítica se estende à facilidade de encontrar endereços na internet e em como os criminosos, por terem furtado pessoas famosas, acabam ganhando os holofotes, gerando fama ao invés de repúdio. Considero que o longa, apesar das notas baixas em vários sites, é subestimado. A superficialidade está nos personagens em tela, na cultura de adoração às superstars, propositalmente, não na forma, que mira e expõe justamente o conteúdo. Tudo recheado com o uso de drogas e referências ao mundo da moda, na linguagem e na estética. Outro ponto positivo é a montagem, criativa e eficaz. Há também um caráter documental, com os personagens depondo os crimes do passado.

The Virgin Suicides (1999) | As Virgens Suicidas
Nota pessoal: 8,2 (ótimo)
Rotten Tomatoes: 76% | IMDb: 7,2/10 | Metacritic: 76% | Filmow: 3.8/5

Comentário: Cinco adolescentes norte-americanas despertam a paixão e o fascínio – causado pelo mistério – dos garotos da vizinhança. A história, baseada em livro homônimo de Jeffrey Eugenides, é contada em off pelos garotos, no futuro, em tom quase documental, com em Bling Ring. Eles relembram (em detalhes poéticos, de alto primor literário, vale destacar) o raro convívio com as garotas, criadas de forma mecânica por pais repressivos. A caçula sofre de depressão; as demais, aparentam certo entusiasmo pela vida, embora todas carreguem o peso da atmosfera familiar. É um filme que flerta com um humor ácido, controverso, ainda que apresente temas relevantes, como as causas do suicídio entre jovens. Neste seu primeiro longa, Sofia cria um quê de melancólico, frio, distante como sonhos quebrados a juntar poeira no sótão do passado. No geral, o resultado é redondo, envolvente e (propositalmente) desconfortável.

The Beguiled (2017) | O Estranho Que Nós Amamos

Nota pessoal: 8,4 (ótimo)
Rotten Tomatoes: 79% | IMDb: 6,3/10 | Metacritic: 77% | Filmow: 3.2/5

Comentário: Um soldado ferido, durante a Guerra Civil dos Estados Unidos, encontra abrigo e recuperação dentro de um internato para mulheres. Baseado em romance de Thomas P. Cullinan, este remake do filme de 1971 nos ambienta com perfeição, seja por meio da cenografia, dos figurinos ou da cultura. Há a utilização, em diversas cenas, de luz natural e velas. A trilha sonora é quase nula, com maior presença do silêncio e sons naturais, como dos pássaros. É um filme que acerta em cheio na construção do suspense, nas tensões sexuais e no desenvolvimento dos personagens. A relação entre eles é o que mais prende o público, não as ações em tela. Outro ponto alto é o elenco, com grandes performances de Nicole Kidman, Colin Farrell, Kirsten Dunst e Elle Fanning.

Marie Antoinette (2006) | Maria Antonieta
Nota pessoal: 8,5 (ótimo)
Rotten Tomatoes: 57% | IMDb: 6,4/10 | Metacritic: 65% | Filmow: 3.8/5
Oscar: melhor figurino.

Comentário: Maria Antonieta, princesa da Áustria, casa-se com o príncipe da França, Luís XVI, no período que antecede a Revolução Francesa. É o longa mais vistoso da diretora, que transforma pinturas barrocas em cinema moderno. O figurino é exuberante e preenche a tela com texturas, cores e formas detalhadas. A narrativa acompanha a princesa (e posterior rainha) nos rigorosos hábitos monárquicos de etiqueta aos festejos e brincadeiras livres. Não é um filme político, nem um documentário, visto se basear na realidade, mas construir ficções em torno dela. Politicamente, o filme é raso. Esteticamente, poderoso. Centra-se no psicológico da princesa, que se vê no ápice das coerções de sua posição, sendo obrigada a gerar herdeiros. Ambientado em cenários reais (como o Palácio de Versalhes), a jovem parece completamente indiferente aos problemas sociais da França – o “mundo distante” dos camponeses pobres soa como um eco longínquo, citado raríssimas vezes. Sofia opta, também, pela utilização de músicas de nosso tempo, dividindo espaço com a música clássica da época, modernizando a narrativa, dando uma originalidade que conecta a obra às novas gerações.

Lost in Translation (2003) | Encontros e Desencontros
Nota pessoal: 8,9 (ótimo)
Rotten Tomatoes: 95% | IMDb: 7,7/10 | Metacritic: 89% | Filmow: 3.9/5
Oscar: melhor roteiro original.

Comentário: Dois norte-americanos, um ator de uma famosa marca de uísque e uma jovem em busca da profissão (acompanhando o namorado fotógrafo), encontram-se, por acaso, em um hotel na cidade de Tóquio. Apesar das diferenças, desenvolvem de imediato uma forte conexão. Neste longa, Sofia nos coloca, junto de seus dois protagonistas, dentro da cultura japonesa. Os dois parecem deslocados, entediados, perdidos em um mundo estranho, confuso, do avesso. Japão, aqui, é como uma realidade alternativa. O desalinho entre o subjetivo e o ambiente só encontra uma ponte quando os dois destinos se enlaçam. Bill Murray (principalmente) e Scarlett Johansson estão impecáveis nos papeis, transmitindo cada estado de espírito na sutileza do olhar. A direção gira em torno dos dois, obnubilando os coadjuvantes. O ritmo é lento e, aliado à fotografia, ressalta o estranhamento – onde surgem os momentos de humor mais hilários. Há também muita música, que “colore” esse ritmo. O essencial, porém, está nas entrelinhas, nos sentimentos que resultam do acaso, dos excepcionais encontros fortuitos.


Na sequência, um vídeo com cenas da obra completa da cineasta:


Filmografia completa da diretora:

2017 - The Beguiled (O Estranho Que Nós Amamos)
2013 - The Bling Ring (Bling Ring - A Gangue de Hollywood)
2010 - Somewhere (Um Lugar Qualquer)
2006 - Marie Antoinette (Maria Antonieta)
2003 - Lost in Translation (Encontros e Desencontros)
1999 - The Virgin Suicides (As Virgens Suicidas)

FONTES: todos os filmes acima, em negrito; Wikipédia; Rotten Tomatoes; IMDb; Metacritic e Filmow; “Como Sofia Coppola Faz um Filme!” (Canal Gustavo Cruz no YouTube).


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