ENTREVISTA
com Rodrigo Yudi Honda:
pintor
retrata a “brasilidade” do cotidiano
9
de agosto de 2020
Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia
Autorretrato
– “Silêncio de Pombo” (óleo sobre tela), por Rodrigo Yudi Honda.
Rodrigo Yudi Honda é um jovem pintor
paulista, nascido em São Bernardo do Campo. Nos últimos anos, seu trabalho vem
se tornando expressivamente reconhecido nas redes sociais, com centenas e
milhares de compartilhamentos no Facebook, além de destaque no Instagram.
Formado em Arquitetura e Urbanismo, em 2012, pela USP, o artista chegou a
trabalhar com projetos arquitetônicos e de engenharia, mas seguiu pelas vias
das artes plásticas, consolidando um estilo bem característico e original.
Ele retrata, costumeiramente, a “brasilidade” – palavra muito associada às suas pinturas. No óleo, na tela e nas pinceladas, nasce um Brasil das ruas e casas, como também dos detalhes mais sutis, em formas e cores. A obra de Honda, para além da beleza (aqui, carregada de elementos subjetivos do espectador) de uma ordinária tigela ou casca de banana, em primor técnico, vale destacar, põe em tela um tempo e um espaço. É uma arte que imortaliza não o instante, mas a essência de um conjunto de características que, em grau elevado, definem a nossa realidade cultural. Obras que evocam a nostalgia imediata, a identificação – por meio de uma certa essência nacional, ainda que Rodrigo, conscientemente, não busque retratar o espírito do país, tão grande, mas sim aquilo que lhe é mais próximo, como seu bairro, sua cidade. Nas palavras do pintor: “O fato de pessoas de regiões tão distantes se identificarem com meus cenários me leva a crer que existe um Brasil contido no meu quintal”.
“Feriado Nacional” (óleo sobre tela), por Rodrigo Yudi Honda.
Sua
experiência particular, ao se ver materializada nos quadros, reflete imagens no
fundo do baú das lembranças de brasileiros do Norte ao Sul. Dá um gostinho de
“acolhimento”, pois remete, em tanta gente, ao que, espacialmente, há de mais
próximo no nosso cotidiano: o lar. Apesar disso, uma melancolia ronda o efeito
de seus pincéis. Por quê? Eu não sei. E creio que, ao contemplar seu trabalho,
não é preciso entendê-lo conceitualmente. A experiência direta, sem ruídos
discursivos, basta por si mesma, sendo suficiente para, na medida da atenção e
do envolvimento, provocar a emersão de determinada memória/emoção.
Logo mais, acompanhe uma entrevista que fizemos com Rodrigo.
“Quintal Ensolarado” (óleo sobre tela), por Rodrigo Yudi Honda.
DOUGLAS:
Antes de tudo, muito obrigado por nos ceder tempo à
entrevista. Para começar, como tem passado a quarentena? Tem produzido arte?
RODRIGO: Eu
que te agradeço, Douglas! Olha… tenho produzido normalmente. Com essa
quarentena, minha rotina continua praticamente a mesma, porque eu não sou muito
de sair…
DOUGLAS:
Como encontrou/construiu o seu estilo? Foi um
processo espontâneo ou surgiu de alguma reflexão ou objetivo pré-definido?
RODRIGO: Acho
que as coisas mais importantes não nascem das nossas intenções.
É
comum as pessoas acreditarem que o estilo é uma maneira do sujeito se
diferenciar dos demais criando uma “marca registrada” pra chamar de sua. O
problema é que quando você pensa dessa forma, acaba caindo num paradoxo: para
afirmar pros outros que você está sendo “você mesmo”, você se vê na necessidade
de incorporar um personagem que ironicamente não será você mesmo… Isso nos leva
a um pseudo-estilo, que está mais para uma afetação marqueteira que para uma
identidade genuína.
Imagine
que cada pessoa é uma pedra bruta a ser lapidada. Assim como numa lapidação, o
estilo autêntico surge da eliminação da casca, daquilo que é supérfluo e
superficial. Isso significa duas coisas: Primeiro, que o estilo não é um
ponto-final onde você chega e permanece, pois a lapidação é um processo que se
estende por toda nossa vida. Segundo, que o estilo surge do desapego. Uma
pessoa que quer “ter estilo” por pura vaidade está somente preocupada com as
aparências e não estará propensa a abandonar sua casca, tal como exige uma
lapidação genuína. E é aí que mora a cilada: querer “ter estilo” é justamente o
que nos impede de encontrar o estilo… Querer ser o diferentão da festa é o que
nos afasta da nossa real identidade…
DOUGLAS:
Sua formação em Arquitetura e Urbanismo te auxilia,
de alguma forma, na composição dos quadros? Como?
RODRIGO: Acredito
que sim. Por exemplo, acho que meu hábito de representar os cenários urbanos em
épura vem muito dessa formação. O jogo de perspectiva convencional pode
conferir um movimento dramático à cena, mas eu tenho preferido a representação
em épura porque ela induz um olhar mais estático, como se estivéssemos parados,
olhando pra uma parede. Isso torna a cena mais apática e impessoal, o que, ao
meu ver, retrata melhor a realidade psicológica das grandes cidades.
DOUGLAS:
O que as artes plásticas representam na sua vida?
RODRIGO: Pra
mim, a arte tem sido apenas a consequência estética de uma busca existencial.
DOUGLAS:
Quais os seus planos na arte – a curto, médio e
longo prazo?
RODRIGO: Atualmente,
não tenho planos a longo prazo. Meu único plano tem sido terminar o próximo
quadro.
DOUGLAS:
Como de costume aqui no blog, quais são os seus
livros e filmes favoritos – ou que simplesmente tenham te marcado?
RODRIGO: Um
livro que me marcou muito foi “A Desumanização da Arte”, do Ortega y Gasset,
que li há uns dez anos e que influenciou minha concepção sobre arte desde
então.
E
um filme… eu adoro Borat! É um dos meus filmes favoritos!
DOUGLAS:
Para encerrar, como os interessados no seu trabalho
podem te contactar? Você faz encomendas? Vende para qualquer parte do país – ou
de fora?
RODRIGO: Eu
vendo para qualquer lugar do país e do mundo e atualmente não estou trabalhando
com encomendas.
Quem
quiser pode me acompanhar nas minhas redes sociais: Facebook, Instagram e
Twitter. É só procurar por “Rodrigo Yudi Honda” e você vai me encontrar. E tem
mais informações no meu site www.rodrigoyudihonda.com
Muito
obrigado!
Conheça
o trabalho de Rodrigo Yudi Honda:
Facebook – Instagram – Twitter – rodrigoyudihonda.com
“Happy
Hour” (óleo sobre tela), por Rodrigo Yudi Honda.
“Pão
na mesa” (óleo sobre tela), por Rodrigo Yudi Honda.
“Passeio
Noturno” (óleo sobre tela), por Rodrigo Yudi Honda.
FONTES: site oficial: rodrigoyudihonda.com/sobre
GLETTE. Gabriela. Rodrigo
Yudi Honda e a poesia de cenas corriqueiras do cotidiano brasileiro in
Hypeness. Disponível em: hypeness.com.br/2020/05/rodrigo-yudi-honda-e-a-poesia-de-cenas-corriqueiras-do-cotidiano-brasileiro/
PAVARIN, Guilherme. O
artista que expõe a beleza melancólica dos subúrbios do Brasil in Vice.
Disponível em:
vice.com/pt_br/article/ne5ngz/o-artista-expoe-a-beleza-melancolica-dos-suburbios-do-brasil
LUIZ, Caio. O
brasileiro Rodrigo Honda transforma cotidiano em arte in Ideafixa.
Disponível em:
ideafixa.com/posts/a-brasilidade-urbana-de-rodrigo-honda
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