Últimas postagens

Post Top Ad

Your Ad Spot

sábado, 29 de abril de 2023

MUSE: comentando a discografia completa

 

Análise e comentários:

DISCOGRAFIA DE MUSE

 

29 de abril de 2023

Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia


Foto: Valery Hache / AFP.

 

            Muse é uma banda de rock britânica, formada pelo trio Matthew Bellamy, vocalista-guitarrista, Christopher Wolstenholme, baixista, e Dominic Howard, baterista. Amigos desde os tempos colegiais, decidiram se unir musicalmente, após suas respectivas bandas fracassarem, participando de (e ganhando) um concurso, ainda sob o nome de Rocket Baby Dolls. Com a designação atual, Muse, lançaram até então nove álbuns de estúdio, com grande ascensão popular a partir de Absolution (2003) e Black Holes & Revelations (2006). Mesclando dificílimos agudos e solos de guitarra, riffs icônicos de baixo, música eletrônica e clássica, conquistaram milhões de fãs e dois Grammys de Melhor Álbum de Rock, com os impecáveis The Resistance (2009) e Drones (2015). Em 2012, com o single Survival, assinaram a canção-tema dos Jogos Olímpicos de Verão, realizados naquele ano, em Londres.

            Matt, principal vocalista, é multi-instrumentista, tocando principalmente piano e guitarras personalizadas, cheias de efeitos. Apesar da aparência franzina, o músico se agiganta nos palcos, com falsetes e impressionantes agudos vocais, em total simbiose com sua guitarra. Instrumento e instrumentista se tornam uma coisa só, inseparáveis, com cada qual funcionando em sua área, simultaneamente, a partir do mesmo agente. É como se as cordas metálicas fossem uma extensão dos nervos e da mente do vocalista, que ostenta alguns dos melhores solos do século – como em Plug In Baby, Hysteria e Knights of Cydonia. Ao vivo, ainda sobra espaço ao improviso. Não à toa, foi eleito um dos melhores guitarristas do mundo, algumas vezes. Chris, baixista, com seu jeito sério, intimidador, traz a base, o fundamento da maioria das músicas, com riffs de baixo, tendo o controle do ritmo em suas mãos. Isso, por certo, abre espaço para a guitarra “sair dos eixos” e delirar a seu bel-prazer. Ele ainda assume os vocais (de apoio ou mesmo principais), em diversas canções. Dom, o loiro baterista, não deixa por menos, com sua habilidade de turbinar beats, como em Stockholm Syndrome. O trio, em si, é o núcleo criativo, a essência do grupo, mas podemos citar ainda músicos adicionais, como Morgan Nicholls e Dan Lancaster, que já acompanharam a banda em turnê, ou mesmo orquestras e corais, comuns nas gravações em estúdio.

            O nome Muse pode remeter às musas olímpias da mitologia grega, responsáveis por inspirar poetas e cantores, mas também pode apontar ao arquétipo feminino, centro romântico de diversas letras, como I Belong to You. Boa parte das composições do trio retratam a relação (por vezes conturbada, por vezes florida) entre homem-mulher. O subjetivismo é constante, explorando os mais plurais estados sentimentais. Com o avançar dos discos, temas politizados foram sendo priorizados, em sintonia com à realidade contemporânea. Nisso, o eu-lírico se vê confrontado pelo autoritarismo, coagido por drones e algoritmos, buscando se libertar e impor levantes populares contra o sistema. Resistir e contra-atacar são tópicos recorrentes. Percebe-se também uma nítida afinidade pelos assuntos astronômicos, com menções a buracos negros, estrelas e até Cydonia, uma região de Marte. Nos videoclipes, essa estética fica ainda mais evidente.

            No que concerne aos gêneros e estilos musicais, podemos associar o Muse ao space rock, com seus efeitos eletrônicos hipnóticos a conduzir boa parte da experiência. Nos primeiros discos, reinavam guitarra e piano, em ritmos acelerados, extasiantes. Avançando, foram incrementando elementos de música eletrônica, deixando as canções mais dançantes, voltadas ao pop, e um tom épico, de violinos e corais, próprio da música clássica. Em Drones (2015), chegaram inclusive a compor uma faixa em canto gregoriano. É uma sonoridade que, não raras vezes, assemelha-se às bandas de sucesso da segunda metade do século passado, como Queen e Radiohead.

            Pessoalmente, é uma das minhas bandas favoritas, desde fins da adolescência. Lembro que, na primeira vez que ouvi, ainda em Supermassive Black Hole, no meu preconceito e baixo repertório, não gostei. Foi apenas em 2009, com Undisclosed Desires, que passei a explorar de forma mais interessada a discografia. Na sequência, deixo meus comentários acerca de cada disco, incluindo álbuns ao vivo e singles:

  


ÁLBUNS DE ESTÚDIO:

 

Showbiz (1999)

Nota pessoal: 8,5 (ótimo)

Gênero: Rock alternativo. Gravadora: Taste.

 

1.       "Sunburn"

2.       "Muscle Museum"

3.       "Fillip"

4.       "Falling Down"

5.       "Cave"

6.       "Showbiz"

7.       "Unintended"

8.       "Uno"

9.       "Sober"

10.    "Escape"

11.    "Overdue"

12.    "Hate This & I'll Love You"

 

Comentário: Como álbum de estreia, apresenta o poderoso som da banda. E faz isso muito bem. Soa meio Radiohead, querendo ou não. Com letras muitas vezes exageradas, não tão marcantes como suas sucessoras, flerta com o surrealismo. Por exemplo, em Falling Down, com o eu-lírico a cair para cima, numa inversão de gravidade. A faixa que dá nome ao disco, Showbiz, coloca-nos em ambiente opressivo, hipnótico, com o vocalista, Bellamy, a tomar (e gritar) consciência da manipulação sofrida: “E eles me fazem, me fazem sonhar seus sonhos / E eles me fazem, me fazem gritar seus gritos”, em performance progressivamente radical, enfeitada de falsetes e uma guitarra “surtada”. Esta, por sua vez, é o centro vital de cada faixa, com baixo e bateria a construir uma espécie de fundamento. Outro instrumento notável é o piano, que surge na excelente abertura, Sunburn, sobre o desejo de fugir da ofuscante e pesada consciência: “Vou me esconder do mundo / Atrás de um quadro quebrado”. Ótimo, embora constantemente ignorado, disco – o germe espacial e frenético de tudo que veio depois.

 

Origin of Symmetry (2001)

Nota pessoal: 8,8 (ótimo)

Gênero: Rock alternativo; space rock. Gravadora: Taste.

 

1.       "New Born"

2.       "Bliss"

3.       "Space Dementia"

4.       "Hyper Music"

5.       "Plug In Baby"

6.       "Citizen Erased"

7.       "Micro Cuts"

8.       "Screenager"

9.       "Dark Shines"

10.    "Feeling Good" (composição de Leslie Bricusse & Anthony Newley)

11.    "Megalomania"

 

Comentário: O segundo disco avança em qualidade, com mais consistência e abertura de novas possibilidades líricas-sonoras. Continua, em sua maior parte, subjetivo, cantando as múltiplas facetas da humanidade, mas poeticamente superior. Como em Micro Cuts: “Tenho visto o que você está fazendo comigo / Rompendo as cordas de marionetes de nossas almas”. Em termos sonoros, podemos situá-lo no subgênero “space rock”, isto é, carregado de elementos estereotípicos do espaço-sideral, como efeitos eletrônicos – criando uma aura hipnótica. É algo que, em realidade, vem desde o primeiro álbum, ganhando aqui contornos de som mais enfáticos. Na base, o baixo de Wolstenholme segura a unidade das faixas, permitindo que a guitarra flutue soberana em solos, loops e criativos desvarios. Destaco o clássico riff de Plug In Baby, longuíssimo, alucinante, a enlouquecer multidões em estádios. No vocal, Bellamy alcança notas de extremo agudo, unindo não-raras-vezes sílabas em singulares fôlegos. Conceitualmente, a “origem da simetria” remete ao que há no fundo do mistério (quiçá teológico) da vida: de onde vem toda ordem, em contraposição ao caos, da realidade? Outra boa surpresa é o cover, Feeling Good, de Leslie Bricusse & Anthony Newley.

 

Absolution (2003)

Nota pessoal: 9,8 (excelente)

Gênero: Rock alternativo/sinfônico. Gravadora: Taste.

 

1.       "Intro"

2.       "Apocalypse Please"

3.       "Time Is Running Out"

4.       "Sing for Absolution"

5.       "Stockholm Syndrome"

6.       "Falling Away With You"

7.       "Interlude"

8.       "Hysteria"

9.       "Blackout"

10.    "Butterflies and Hurricanes"

11.    "The Small Print"

12.    "Endlessly"

13.    "Thoughts of a Dying Atheist"

14.    "Ruled by Secrecy"

 

Comentário: O tom épico, tão marcante nos trabalhos posteriores, inicia-se em peso aqui. É um passo (muito) além na discografia do trio, com dois grandes clássicos do rock britânico no novo século: Hysteria e Time Is Running Out, de emblemáticos riffs de baixo e poderosíssimos refrões. No início, Apocalypse Please, percebemos alusões bélicas – reflexo do contexto de criação do disco, com a ascensão da Guerra iraquiana: “É hora de algo bíblico / nos tirar dessa”. Outra faixa de destaque é Stockholm Syndrome, cujo título remete ao estado psicopatológico de uma pessoa que sente simpatia por seu malfeitor. Guitarra, baixo e bateria, nesta faixa, estão como que turbinadas, com o pé no acelerador. Percebe-se, no disco, principalmente em Time Is Running Out, um quê de enfeitiçado (ou amaldiçoado), como um leve toque bruxuleante do amor no amante. E a amada, a musa, no centro do furacão passional. Outra característica é um certo tom de súplica, como uma oração secularizada, em resposta ao silêncio transcendental da divindade. Há, ainda, elementos de música erudita e eletrônica, potencializando os arranjos pautados no rock e inovando a sonoridade da banda.

 

Black Holes and Revelations (2006)

Nota pessoal: 9,5 (excelente)

Gênero: Space rock; rock eletrônico. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

 

1.       "Take a Bow"

2.       "Starlight"

3.       "Supermassive Black Hole"

4.       "Map of the Problematique"

5.       "Soldier’s Poem"

6.       "Invincible"

7.       "Assassin"

8.       "Exo-Politics"

9.       "City of Delusion"

10.    "Hoodoo"

11.    "Knights of Cydonia"

 

Comentário: Com uma pegada mais eletrônica e pop, o quarto disco fez grande sucesso, com o dançante single Supermassive Black Hole, cantado em falsete, alcançando altas posições nas paradas internacionais. As temáticas política e espacial nunca tiveram tanto destaque – inclusive, estando juntas na faixa Exo-Politics. Em Take a Bow, na abertura, já somos defrontados pela agressiva mensagem sociopolítica: “Você corrompe / Traz corrupção a tudo que toca”. O título, “Buracos-negros e Revelações”, orienta-nos ao ambiente, de astros, estrelas e entidades alienígenas em que somos imersos. A última faixa, Knights of Cydonia, é uma espécie de faroeste marciano, com cavalarias revolucionárias, lutando por seus direitos, em oposição ao Estado corrompido: “Venha cavalgar comigo / Através das veias da História / Irei lhe mostrar um Deus / Que adormece no trabalho”. É, sem dúvida, uma das melhores composições do trio, com a bateria simulando galopes, instrumentos de sopro e complexos solos de guitarra. Outra inovação vem em City of Delusion, com uma vibe tropical. Diria que, no todo, o álbum é quase uma experiência cinematográfica, com nossa imaginação a ilustrar os caminhos, sempre guiada pelas várias camadas de som.

 

The Resistance (2009)

Nota pessoal: 10 (perfeito)

Gênero: Rock progressivo/sinfônico. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

Grammy (2011): Melhor Álbum de Rock.

 

1.       "Uprising"

2.       "Resistance"

3.       "Undisclosed Desires"

4.       "United States of Eurasia"

5.       "Guiding Light"

6.       "Unnatural Selection"

7.       "MK Ultra"

8.       "I Belong to You (Mon Cœur S'ouvre à ta Voix)"

9.       "Exogenesis: Symphony Part I (Overture)"

10.    "Exogenesis: Symphony Part II (Cross Pollination)"

11.    "Exogenesis: Symphony Part III (Redemption)"

 

Comentário: Com 8 canções e 1 sinfonia, dividida em 3 partes, o disco abraça a música erudita, com orquestra, clarinete, órgão, piano e violinos. É ainda mais politizado que seu antecessor, com gritos de guerra contra a ordem do sistema, como vemos em Uprising: “Eles não vão nos forçar / Eles vão parar de nos degradar / Eles não vão nos controlar / Nós seremos vitoriosos”. Há críticas ácidas às manipulações do Estado e da grande mídia. Em Unnatural Selection, ilustra-se a divisão de classes, forjada pela meritocracia, e o ressentimento de quem (impotente) cai. Em MK Ultra, projeto estadunidense de lavagem cerebral durante a Guerra Fria, o eu-lírico colapsa, perdendo o controle. Antes da grande e poética trilogia sinfônica, ao fim, temos I Belong to You, com base no piano e versos em francês, tirados de parte da ópera Sansão e Dalila, de Camille Saint-Saëns. Outro grande destaque é a terceira faixa, Undisclosed Desires, um pop rock eletrônico e dançante, de deliciosa batida: “Quero reconciliar a violência em seu coração / Quero reconhecer que sua beleza não é só uma máscara / Quero exorcizar os demônios do seu passado / Quero satisfazer os desejos secretos em seu coração”. Soa, muitas vezes, como Queen ou Depeche Mode, com vocais e riffs bem-elaborados, além de elementos clássicos e eletrônicos a se fundir no rock. Melhor e mais conceitual disco, até então.

 

The 2nd Law (2012)

Nota pessoal: 9,2 (excelente)

Gênero: Rock eletrônico/sinfônico; Dubstep. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

 

1.       "Supremacy"

2.       "Madness"

3.       "Panic Station"

4.       "Prelude"

5.       "Survival"

6.       "Follow Me"

7.       "Animals"

8.       "Explorers"

9.       "Big Freeze"

10.    "Save Me"

11.    "Liquid State"

12.    "The 2nd Law: Unsustainable"

13.    "The 2nd Law: Isolated System"

 

Comentário: O sucessor de The Resistance (2009) se volta mais ao eletrônico e pop, mas mantendo as orquestras em determinadas faixas. A abertura é a melhor de toda discografia, até aqui, com Supremacy, rock sinfônico, em tom sublime. O subgênero Dubstep, com samples rapidamente cortados e intensos, surge na balada romântica Madness, um dos principais singles. Arranjos eletrônicos ainda estão muito presentes em outras faixas, como Follow Me. São músicas mais dançantes, coloridas, leves, ora ou outra em roupagens épicas e orquestrais, mas sem deixar de lado os tradicionais solos de guitarra. Entre seus temas, temos um pacto de salvamento e coragem do eu-lírico consigo mesmo e com sua amada. É algo bem mais otimista, se compararmos com os discos anteriores. Em Survival, tema oficial das Olimpíadas de Verão de 2012, Londres, temos um hino ao encorajamento esportivo: “Vou manter o ritmo / Vou revelar minha força a toda raça humana”. Críticas ao capitalismo se fazem sentir em Animals; e questões ambientalistas, em Explorers. Uma grande inovação vem em Liquid State, que retrata a luta contra o alcoolismo, com Christopher Wolstenholme, o baixista, assumindo os vocais principais. Seu título, “A Segunda Lei [da termodinâmica]”, refere-se em como a entropia aumenta a “desordem” e “dispersão” energéticas, em sistemas isolados. Aplica-se o conceito à nossa economia pós-moderna, resultando em um veredicto, anunciado nas duas últimas (eletrônicas, sinfônicas) faixas: insustentável.

 

Drones (2015)

Nota pessoal: 10 (perfeito)

Gênero: Rock progressivo; hard rock. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

Grammy (2016): Melhor Álbum de Rock.

 

1.       "Dead Inside"

2.       "[Drill Sergeant]"

3.       "Psycho"

4.       "Mercy"

5.       "Reapers"

6.       "The Handler"

7.       "[JFK]"

8.       "Defector"

9.       "Revolt"

10.    "Aftermath"

11.    "The Globalist"

12.    "Drones"

 

Comentário: Melhor (e mais pesado) álbum do Muse, conceitual do início do fim, com progressão narrativa linear. Em Dead Inside, o eu-lírico percebe sua amada como “radiante e viva por fora, mas morta por dentro”, rendida às manipulações do sistema. Com o avanço da canção, o próprio se torna “exatamente com ela”, passando a encarnar os atributos de “vivo por fora, morto por dentro”. Na sequência, um comandante militar grita coercivamente com um recruta, intimidando-o a obedecer. Aí começa Psycho, onde inocentes são transformados em soldados psicopatas/assassinos, pela guerra. O mundo parece em chamas, com drones (movidos a controle remoto) invadindo, destruindo, matando nações. Como uma Terceira Guerra Mundial. Em The Handler, nosso protagonista-lírico escapa do controle psicossomático, tornando-se um desertor, líder-inspirador da revolta. Cansado de lutar, volta para casa, aos braços da amada. Porém, tão logo desiludido do amor, torna-se ele próprio o comandante bélico, com a potência nuclear nas mãos. Contagem regressiva... Fogo! O mundo acabou: “Não existem mais países / para lutar e conquistar”, como diz The Globalist. Só o casal sobrevive. No fundo, ele só precisava ser amado (de verdade). Na última faixa, Drones, temos um canto gregoriano acapella, como um pós-morte trágico, com todos mortos por drones. Apesar de unido pela narrativa, cada música funciona surpreendentemente bem sozinha, com um rock agressivo, em alta escala, até à nona faixa, quando dá uma acalmada, como se fatigado. Não à toa, ganhou o Grammy na categoria Melhor Álbum de Rock.

 

Simulation Theory (2018)

Nota pessoal: 8,0 (ótimo)

Gênero: Synth-pop; rock eletrônico. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

 

1.       "Algorithm"

2.       "The Dark Side"

3.       "Pressure"

4.       "Propaganda"

5.       "Break it to Me"

6.       "Something Human"

7.       "Thought Contagion"

8.       "Get Up and Fight"

9.       "Blockades"

10.    "Dig Down"

11.    "The Void"

 

Comentário: É o álbum mais dançante, de discoteca, com muitas batidas e efeitos eletrônicos, em uma estética oitentista, comum às ficções científicas da época, e ao mesmo tempo futurista – como se vê na arte neon de capa. O Universo é uma simulação computadorizada? O que é, de fato, real? O disco nos leva por ambientes artificiais e coloridos, não sendo possível distinguir com exatidão percussões geradas por bateria ou softwares. Por vezes, torna-se evidente a “tunada” nos elementos, tirando-nos do chão sólido e palpável para um desorientado mundo digital. É mais próximo de Michael Jackson do que aquilo que convencionamos como próprio ao rock, ainda que tenham (enfeitadas) guitarras. Os refrões são todos simples e curtos, com muitos corais de apoio, como em Dig Down, que se assemelha em gênero às cantorias gospels norte-americanas. Por trás de tudo, há um desejo de se humanizar, escapar da onipresente malha de simulacros da internet (e seus algoritmos manipuladores), mídia e especialmente propaganda. O humano estranha a própria criação binária automatizada, cheia de robôs, em lágrimas de nostalgia, distante do não-máquina. Existe alguma saída do labirinto? Apesar dos novos ares, os arranjos soam genéricos, tornando o disco levemente enfadonho. Destaco três faixas: The Dark Side, Pressure e Thought Contagion.

 

Will of the People (2022)

Nota pessoal: 9,7 (excelente)

Gênero: Rock alternativo. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

 

1.       "Will of the People"

2.       "Compliance"

3.       "Liberation"

4.       "Won't Stand Down"

5.       "Ghosts (How Can I Move On)"

6.       "You Make Me Feel Like It's Halloween"

7.       "Kill Or Be Killed"

8.       "Verona"

9.       "Euphoria"

10.    "We Are Fucking Fucked"

 

Comentário: De volta ao rock pesado, o mais recente disco mergulha nos temas políticos e ambientais da atualidade. É um álbum quente, agressivo, revigorante, com elementos de toda discografia do grupo, com solos, efeitos, gritos e pianos. Por vezes, lembra o rock do século passado, em especial pelos marcantes vocais de apoio, simulando a voz das multidões. Produzido durante a pandemia de covid-19, temos a sociedade aqui refletida nas letras, desde a faixa homônima, Will of the People, “A vontade do povo”, como ebulição social em países democráticos. Efervescência tão grande que corre o risco de, a partir das ruinas do passado, criar-se algo perigoso, quando a raiva toma as rédeas da razão. Na última faixa, um tanto pessimista, o desamparo perante as notícias fica evidente, com menções à pandemia, guerras, tsunamis, terremotos e incêndios. Uma boa surpresa é You Make Me Feel Like It's Halloween, com seu toque de filme de terror: “Quando você apaga as luzes / Você me faz sentir como se fosse Halloween”. Verona, parece retratar o amor shakespeareano de Romeu e Julieta; e Ghosts, com uma das letras mais belas do Muse, trata a questão do luto. Toda mixagem é da mais alta qualidade tecnológica. Deve agradar, no geral, os fãs mais antigos do trio, que debutou em sons mais pesados há mais de duas décadas.

 

 

 

ÁLBUNS AO VIVO & COMPILAÇÃO:

 

Hullabaloo Soundtrack (2002)

“Compilação / Ao vivo + DVD”

Nota pessoal: 6,5 (bom)

Gênero: Rock alternativo; ao vivo. Gravadora: Taste.

 

Disco 1: B-Sides 1999-2001

 

1.       "Forced In"

2.       "Shrinking Universe"

3.       "Recess"

4.       "Yes Please"

5.       "Map of Your Head"

6.       "Nature_1"

7.       "Shine Acoustic"

8.       "Ashamed"

9.       "The Gallery"

10.    "Hyper Chondriac Music"

 

Disco 2: Live at Le Zenith, Paris

 

11.    "Dead Star"

12.    "Micro Cuts"

13.    "Citizen Erased"

14.    "Showbiz"

15.    "Megalomania"

16.    "Darkshines"

17.    "Screenager"

18.    "Space Dementia"

19.    "In Your World"

20.    "Muscle Museum"

21.    "Agitated"

 

Comentário: O disco duplo traz, no primeiro CD, uma série de B-sides, isto é, canções “não priorizadas” na divulgação do trabalho principal, e um show gravado em 2001, em Paris, no segundo CD. O disco de B-sides é um tanto regular, beirando o ruim, com composições fracas, experimentais, descartadas. A melhor é a versão-beta de Hyper Music, aqui nomeada Hyper Chondriac Music. Para compensar, o show é ótimo, mostrando o repertório do Muse em início de carreira, com composições dos dois primeiros álbuns. Há ainda um DVD duplo, dessa apresentação, com a inclusão de muitas novas faixas, e bônus, como um documentário, fotos e videoclipes.

 

HAARP (2008)

“Ao vivo + DVD”

Nota pessoal: 8,5 (ótimo)

Gênero: Rock alternativo; ao vivo. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

 

1.       "Intro/Dance of the Knights"

2.       "Knights of Cydonia"

3.       "Hysteria"

4.       "Supermassive Black Hole"

5.       "Map of the Problematique"

6.       "Butterflies and Hurricanes"

7.       "Invincible"

8.       "Starlight"

9.       "Time Is Running Out"

10.    "New Born"

11.    "Unintended"

12.    "Micro Cuts"

13.    "Stockholm Syndrome"

14.    "Take a Bow"

15.    "City of Delusion"

 

Comentário: Gravado no Estádio de Wembley, em Londres, apresenta 15 faixas ao vivo – sendo 20 na versão em DVD, contendo canções dos quatro primeiros álbuns da banda, de Showbiz (1999) à Black Holes & Revelations (2006). Inicia-se com Dance of the Knights, peça erudita do compositor russo Serguei Prokofiev. Há uma boa medida da sonoridade do trio até então, com mesclas de hard rock e efeitos eletrônicos. Matthew Bellamy está brilhante, improvisando com sua guitarra, em êxtase absoluto. É um show bem ruidoso, cheio de distorções improvisadas de guitarra e participação constante da multidão de fãs, em uníssono.

 

Live at Rome Olympic Stadium (2013)

“Ao vivo + DVD”

Nota pessoal: 8,7 (ótimo)

Gênero: Rock alternativo; ao vivo. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

 

1.       "Supremacy"

2.       "Panic Station"

3.       "Resistance"

4.       "Hysteria"

5.       "Animals"

6.       "Knights of Cydonia"

7.       "Explorers"

8.       "Follow Me"

9.       "Madness"

10.    "Guiding Light"

11.    "Supermassive Black Hole"

12.    "Uprising"

13.    "Starlight"

 

Comentário: Embora com menos faixas, em sua versão em CD, que o álbum ao vivo antecessor, traz mais diversidade de gêneros musicais, com a inclusão de faixas de The Resistance (2009) e The 2nd Law (2012), com suas influências da música erudita e eletrônica. Isso proporciona ao espetáculo uma gama maior de tons, por assim dizer. Musicalmente, segue com a mesma qualidade de HAARP (2008). Nas versões em DVD, Blu-ray e 4K, o número de faixas sobe para 21, com uma sensação de maior completude.

 

 

 

SINGLES:

 

Dead Star/In Your World (2002)

Single

Nota pessoal: 8,6 (ótimo)

Gênero: Metal alternativo. Gravadora: Taste.

 

1.       "Dead Star"

2.       "In Your World"

3.       "Futurism"

4.       "Can't Take My Eyes Off You" (cover de Frankie Valli)

 

Comentário: Com 4 faixas, destaca-se a excelente e pesada Dead Star – quiçá, entre as composições que não estão em álbuns, a melhor composição do Muse: “Envergonhe-se / em achar / que você é uma exceção. / Nós todos somos culpados. / Colidindo contra a Terra, / desperdiçando e queimando, / apagando como uma estrela morta”. Futurism, por sua vez, aparece na versão japonesa do segundo disco de estúdio, Origin of Symmetry (2001). In Your World, presente no título do single, também é ótima, mas destaco em especial o belíssimo cover, em rock, do clássico Can't Take My Eyes Off You.

 

Neutron Star Collision (Love Is Forever) (2010)

Single in The Twilight Saga: Eclipse (Original Motion Picture Soundtrack)”

Nota pessoal: 8,5 (ótimo)

Gênero: Rock alternativo. Gravadoras: Warner Bros.; Helium-3.

 

1.       "Neutron Star Collision (Love Is Forever)"

 

Comentário: Composto como tema ao longa Eclipse, da saga Crepúsculo, a canção segue por uma lírica amorosa convencional, mas se destaca pela alta performance dos músicos, com a inclusão de piano, e vocal excepcional de Matthew Bellamy. Gosto, em particular, da quinta estrofe: “Saudações, pregadores falsos e orgulhosos. / Suas doutrinas serão nuvens / que se dissiparão como flocos de neve no oceano”. É a terceira colaboração do trio com a franquia, tendo cedido os direitos de Supermassive Black Hole e I Belong to You, em filmes anteriores.

 

 

 

Discografia completa da banda:

 

Álbuns de estúdio

 

2022 – Will of the People

2018 – Simulation Theory

2015 – Drones

2012 – The 2nd Law

2009 – The Resistance

2006 – Black Holes and Revelations

2003 – Absolution

2001 – Origin of Symmetry

1999 – Showbiz

 

Álbuns ao vivo & compilação

 

2013 – Live at Rome Olympic Stadium (ao vivo)

2008 – HAARP (ao vivo)

2002 – Hullabaloo Soundtrack (compilação, ao vivo)

 

Singles

 

2010 – Neutron Star Collision (Love Is Forever) (single)

2002 – Dead Star/In Your World (single)


 

FONTES: Todos os álbuns acima, em negrito; Spotify; Wikipedia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad

Your Ad Spot

Páginas