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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

CHICO BUARQUE: comentando a discografia completa


Análise e comentários:

DISCOGRAFIA DE CHICO BUARQUE


30 de outubro de 2025

Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia


fonte: Leo Aversa.


    Chico Buarque de Hollanda, nascido no Rio de Janeiro em 1944, é o maior artista vivo da música brasileira. Poeta/letrista, cantor, romancista e dramaturgo, Chico nasceu em família praticamente aristocrática, cercado por influências diretas de grandes músicos e literatos, que frequentavam habitualmente sua casa, muito em conta de seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, um dos historiadores brasileiros mais importantes do século XX. Sua versatilidade rítmica é sentida em toda discografia, tendo composto sambas, marchinhas, choros e valsas, bem como fados, tangos, entre demais gêneros.¹ Ganhou, por três vezes, o Prêmio Jabuti, por suas obras literárias; e em 2019, o Prêmio Camões, mais importante da Língua Portuguesa no mundo. Sagrou-se ainda vencedor de importantes festivais musicais, no início da carreira: em 1966, com A Banda; e em 1968, com Sabiá, junto de Tom Jobim, atraindo imensa popularidade – tido por “unanimidade nacional”, nas palavras de Millôr Fernandes. Do “bom moço” de família, sobreveio nas décadas seguintes, durante o Regime Militar, o poeta politicamente ativo, maduro, contestador, símbolo contra o autoritarismo. Sempre reservado (não necessariamente tímido), seu talento reside sobretudo na arte da composição, não sendo tão virtuoso enquanto cantor – o que, de certa forma, transmite um quê de humanidade, aproximando-nos do artista, sem precisar alcançar a perfeição vocal para nos encantar, bastando a qualidade lírica. Ainda assim, soltou a voz em três idiomas, tendo músicas regravadas em diversos países, em especial na Itália. Paralelamente aos discos, assinou peças teatrais, mais comuns entre os anos 60 e 80, e romances, nas últimas décadas.

    Seus temas são variados. Um dos mais notáveis é a atenção dada à parcela menos favorecida econômica e socialmente: operários braçais, prostitutas, ex-escravizados, moradores de favelas. Os holofotes líricos de Chico dão luz aos invisíveis, marginalizados. Exemplo disso ocorre logo no álbum de estreia, ainda em 1966, antes mesmo da fase mais claramente politizada de sua carreira, com a canção Pedro Pedreiro, onde o personagem homônimo espera a vida toda pela tão sonhada (e nunca chegada) prosperidade. Na obra-prima Construção, outro desvalido, dessa vez a se embriagar e cair acidentalmente das alturas – levando-nos a constatar a desvalorização (pela total falta de segurança) do trabalhador, visto como descartável pelo sistema. Em O Velho Francisco, um negro alforriado a discorrer sua história; em Sinhá, por sua vez, outro escravizado, a sofrer duras penas por uma acusação. Nesses casos, o poeta encarna os personagens em primeira pessoa, aumentando a veracidade do texto.

    Como poucos, refletiu brilhantemente o Zeitgeist, isto é, o “espírito de sua época”, com canções movidas pelo ódio, pelo ressentimento, durante os anos de chumbo da Ditadura; e pela alegria, pela leveza, com o alvorecer da democracia. Percebemos claramente, em ordem cronológica, a atmosfera política do país por meio de sua obra. Para escapar à censura, Chico infiltrou as reais e poderosas mensagens das músicas em camadas mais profundas de suas letras, com metáforas e outras figuras de linguagem. O exemplo mais notório ocorre em Cálice, brincando com o título em referência ao silenciamento de artistas: “cale-se”. Roda Viva, outro clássico, faz da “roda”, da “engrenagem que representa o sistema”, metonímia para o próprio regime ditatorial, levando embora (como diz a letra) o destino, a roseira, a viola e a saudade. Apesar de você é uma virada de chave, ainda sobre o contexto político, mas com esperanças concretas do ocaso da censura.

    O Carnaval é outro centro temático, em especial a Estação Primeira de Mangueira, escola do coração do poeta. Representa o lado mais lúdico, mais festivo, de Chico, que se permite o êxtase da vida. Também do lado diurno, livre, de sua musicografia, vemos temas futebolísticos, outra paixão do artista.

    O eu-lírico feminino é uma de suas marcas mais características. Em canções como O Meu Amor e Olhos nos Olhos, as personas de cada letra são mulheres – há quem diga que poucos homens compreenderam tão bem o feminino, por meio da arte. O eu-real do poeta se dissolve, dando espaço a novos pontos de vista, novas vivências. Não só no papel, haja visto a quantidade de mulheres que assumem os vocais de suas obras, como Gal Costa, Nara Leão e Elba Ramalho.

    Na literatura, publicou em 1970 o livro infantil Chapeuzinho Amarelo, relançado décadas mais tarde com ilustrações de Ziraldo, sobre uma menina que deixava de aproveitar a vida pelo excesso de medo. Nos romances, estreou em 1991, com o premiado Estorvo, sobre um narrador obsessivo, entre sonho e realidade. Depois, em 1995, foi a vez de Benjamim, com um enigma sobre a morte de uma mulher. Em 2003, Budapeste, com um escritor “escondido” por pseudônimos, a desembarcar na capital da Hungria. Em 2010, Leite Derramado, Chico critica a decadência da elite brasileira, com um velho a contar histórias de sua ascendência portuguesa. Com Irmão Alemão, de 2014, o escritor ficcionaliza uma inspiração da vida real: a descoberta de um meio-irmão a nascer e crescer distante do Brasil, na Alemanha. Na sequência, Essa Gente, de 2019, outro romance, dessa vez sobre as mazelas da sociedade carioca contemporânea. Em 2021, um livro de contos, Anos de Chumbo, passado no período da Ditadura. Por fim, o mais recente, Bambino a Roma, de 2024, romance inspirado nas memórias de infância do autor. Há, ainda, inúmeros trabalhos teatrais, que serão abordados mais a frente, durante os comentários das trilhas sonoras compostas pelo artista.

    Entre os discos assinados (mas não “executados”) por Chico estão a musicalização do poema Morte e Vida Severina (1966), de João Cabral de Melo Neto; uma adaptação para a língua portuguesa do clássico infantil Os Saltimbancos (1977), de Luis Enríquez Bacalov; e Gota D’água (1977), trilha sonora de peça homônima, escrita por Chico e Paulo Pontes, na voz de Bibi Ferreira. Há também trilhas para filmes, como o caso de Para viver um grande amor (1983), com participação de Tom e Djavan, e Ópera do Malandro (1985). Destaco ainda discos de compilações, isto é, coletâneas de canções já gravadas anteriormente, como Álbum de Teatro (1997), com Edu Lobo, e Duetos (2002), incluindo a inesquecível parceria com Nara Leão.

    Porém, aqui, para a presente resenha, deixo meus comentários sobre cada álbum em que Chico não só assinou as letras, mas contribuiu gravando a própria voz, seja solo ou na companhia de outros artistas.


ÁLBUNS DE ESTÚDIO:


Chico Buarque de Hollanda (1966)

 Nota pessoal: 9,7 (excelente)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: RGE.


  1. "A Banda"

  2. "Tem Mais Samba"

  3. "A Rita"

  4. "Ela e Sua Janela"

  5. "Madalena Foi Pro Mar"

  6. "Pedro Pedreiro"

  7. "Amanhã, Ninguém Sabe"

  8. "Você Não Ouviu"

  9. "Juca"

  10. "Olê, Olá"

  11. "Meu Refrão"

  12. "Sonho de um Carnaval"


Comentário: O álbum de estreia de Chico Buarque foi o melhor início possível para o jovem compositor, que demonstra toda sua criatividade melódica e talento, ainda com voz de menino. Na primeira faixa, um dos maiores clássicos da música popular brasileira, A Banda, que traz com riqueza de detalhes, apesar da curta duração, uma pintura imagética da passagem de uma banda pelas ruas da cidade, alegrando seus concidadãos: “Estava à toa na vida / O meu amor me chamou / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor”. Em Pedro Pedreiro, o autor demonstra consciência social acerca da população mais pobre do país, característica que marca toda sua discografia, com um trabalhador braçal a infinitamente esperar por um futuro melhor. O álbum é, muitas vezes, metalinguístico, ao falar do samba, isto é, do poder do próprio gênero, como ocorre na décima faixa, Olê, Olá: “Não chore ainda não / Que eu tenho a impressão / Que o samba vem aí / E um samba tão imenso / Que eu às vezes penso / Que o próprio tempo / Vai parar pra ouvir”. No todo, para além da célebre capa, que se tornou meme na internet, trata-se de um clássico indissolúvel.


Chico Buarque de Hollanda – Volume 2 (1967)

 Nota pessoal: 9,1 (excelente)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: RGE.


  1. "Noite dos Mascarados" (part. Jane Moraes, Os Três Moraes)

  2. "Logo Eu?"

  3. "Com Açúcar, Com Afeto" (vocal: Jane Moraes)

  4. "Fica"

  5. "Lua Cheia" (Chico Buarque/Toquinho)

  6. "Quem Te Viu, Quem Te Vê"

  7. "Realejo"

  8. "Ano Novo"

  9. "A Televisão"

  10. "Será Que Cristina Volta?"

  11. "Morena dos Olhos d'Água"

  12. "Um Chorinho"


Comentário: O segundo volume da estreia de Chico, em álbum solo de estúdio, foi publicado apenas 1 ano após seu antecessor, com novamente 12 faixas, 6 de cada lado do disco, como era comum na época. A primeira faixa, Noite dos Mascarados, traz um dueto romântico, teatral, de Chico com Jane Moraes, do afinadíssimo trio Os Três Moraes, cantando o lúdico da permissividade carnavalesca, durante um baile de máscaras: “Mas é carnaval / Não me diga mais quem é você / Amanhã, tudo volta ao normal / Deixe a festa acabar / Deixe o barco correr / Deixe o dia raiar / Que hoje eu sou / Da maneira que você me quer”. Em Com Açúcar, Com Afeto, Jane Moraes canta outra vez, dessa vez sozinha, sobre a ausência de um esposo boêmio. Não é um disco tão marcante quanto o primeiro, mas mais eclético, com sambas lentos, contemplativos, bem como agitados, elétricos. Todas as faixas foram compostas unicamente por Chico, com exceção de Lua Cheia, em parceria com o mestre da bossa-nova, Toquinho.


Chico Buarque de Hollanda – Volume 3 (1968)

 Nota pessoal: 9,6 (excelente)

Gênero: MPB; bossa-nova. Gravadora: RGE.


  1. "Ela desatinou"

  2. "Retrato em branco e preto"(Chico Buarque/Tom Jobim)

  3. "Januária"

  4. "Desencontro" (vocal de apoio: Toquinho)

  5. "Carolina"

  6. "Roda viva" (part. MPB4)

  7. "O velho"

  8. "Até pensei"

  9. "Sem fantasia" (part. Cristina Buarque)

  10. "Até segunda-feira"

  11. "Funeral de um lavrador"(Chico Buarque/João Cabral de Melo Neto)

  12. "Tema para Morte e Vida Severina" (instrumental)


Comentário: O terceiro volume de estreia é mais elegante, mais orquestral, que os dois primeiros, com uma crescente impressionante de maturidade poética. O próprio Chico dedica o disco ao grande poeta João Cabral de Melo Neto, cuja participação se faz na letra da penúltima faixa e no título da última, um instrumental para o clássico cabralino Morte e Vida Severina. Tom Jobim marca presença, com a coautoria da belíssima Retrato em Branco e Preto. Toquinho também canta, como segunda voz em Desencontro; bem como Cristina Buarque, irmã mais nova de Chico, em dueto na faixa Sem Fantasia. A terceira canção, Januária, é inspirada em quadro homônimo, recebido de presente pelo pintor modernista Di Cavalcanti. Há um quê de bossa-nova, de João Gilberto, na voz do autor – certamente uma influência, tornando o álbum mais delicado e suave. O destaque vem na sexta canção, Roda Viva, com participação vocal do quarteto MPB4, uma composição histórica, que metaforiza a Ditadura Militar Brasileira, em pleno vigor no ano de 1968, criticando de forma velada a censura e toda angústia que ela causa: “No peito, a saudade cativa / Faz força pro tempo parar / Mas eis que chega a roda-viva / E carrega a saudade pra lá”.


Chico Buarque na Itália (1969)

 Nota pessoal: 8,2 (ótimo)

Gênero: Samba; bossa-nova. Gravadora: RGE.


  1. "Far Niente"

  2. "La Banda"

  3. "Juca"

  4. "Olê, Olá"

  5. "Rita"

  6. "Non Vuoi Ascoltar"

  7. "Una Mia Canzone"

  8. "C'è Più Samba"

  9. "Maddalena è Andata Via"

  10. "Carolina"

  11. "Pedro Pedreiro"

  12. "La TV".


Comentário: Gravado durante o exílio de Chico na Itália, para fugir da repressão ditatorial, o disco apresenta versões em italiano de clássicos do autor, como A Banda, Juca e Olê, Olá, com novos arranjos, incluindo instrumentação elétrica, o que dá uma nova sonoridade às canções; além de nova mixagem estéreo, com jogadas de efeito entre os dois lados. É interessante notar como se dá a adaptação para o outro idioma, incluindo o contexto cultural de cada país, como ocorre na quinta faixa, Rita, trocando, na letra, a menção ao nome do nosso brasileiro Noel por Caruso, célebre tenor italiano. No Spotify, ainda há duas faixas bônus. Apesar do sucesso, tendo vendido 200 mil cópias na Itália, as versões não sustentam o mesmo brilho das originais, em português.


Per un pugno di samba (1970)

 Nota pessoal: 7,9 (muito bom)

Gênero: Samba. Gravadora: RGE.


  1. "Rotativa"

  2. "Samba e amore"

  3. "Sogno di un carnevale"

  4. "Lei no, lei sta ballando"

  5. "Il nome di Maria"

  6. "Funerale di un contadino"

  7. "In te"

  8. "Queste e quelle"

  9. "Tu sei una di noi"

  10. "Nicanor"

  11. "In memoria di un congiurato"

  12. "Ed ora dico sul serio"


Comentário: Tendo as canções adaptadas ao italiano pelo letrista Sergio Bardotti, o disco conta com arranjos orquestrais de Ennio Morricone, um dos maiores compositores de trilhas sonoras da história do cinema. O próprio título do álbum faz referência à obra de Ennio, especialmente à trilha do longa Por um punhado de dólares (1964), dirigido por Sergio Leone. Algumas das faixas têm sua versão “original”, em português, no quarto volume da estreia de Chico, publicada também ano de 1970. Segue a mesma pegada de seu antecessor, Chico Buarque na Itália (1969), mas com alguns elementos ainda mais estranhos à brasilidade, como a utilização de órgão e vozes femininas espectrais, ficando no limbo entre a música popular brasileira e a italiana, sem pertencer a uma ou outra.


Chico Buarque de Hollanda – Volume 4 (1970)

Nota pessoal: 8,7 (ótimo)

Gênero: MPB; bossa-nova. Gravadora: CBD/Philips Records.


  1. "Essa moça tá diferente"

  2. "Não fala de Maria"

  3. "Ilmo. sr. Ciro Monteiro ou Receita pra virar casaca de neném"

  4. "Agora falando sério"

  5. "Gente humilde"(Garoto/Vinicius de Moraes/Chico Buarque)

  6. "Nicanor"

  7. "Rosa-dos-ventos"

  8. "Samba e amor"

  9. "Pois é"(Chico Buarque/Tom Jobim)

  10. "Cara a cara" (part. MPB4)

  11. "Mulher, vou dizer quanto te amo"

  12. "Tema de Os Inconfidentes"(Chico Buarque/Cecília Meireles)


Comentário: Gravado inicialmente durante o exílio de Chico na Itália, e finalizado no Rio de Janeiro, o quarto volume foi entendido pelo próprio Chico como um “disco de transição”, feito rapidamente em troca de um bom contrato, com gravadora nova. Em Falando Sério, o poeta confessa seu estado de espírito, fugindo de seu próprio estereótipo com uma brincadeira acerca de A Banda, um de seus maiores sucessos: “Agora falando sério / Eu queria não cantar [...] / Dou um fora no violino / Faço a mala e corro / Pra não ver banda passar”. É um álbum menos pop, com poucos refrões, como poemas corridos musicalizados. Aliás, dois grandes poetas do Modernismo dividem a autoria de duas faixas, Vinícius de Moraes, em Gente Humilde, e Cecília Meireles, com seus célebres versos para Os Inconfidentes. Tom Jobim, outro parceiro histórico, também marca coautoria, na bela letra de Pois é. Com arranjos caprichados, há bastante experimentalismo na sonoridade, por exemplo, com um toque de rock e psicodelismo na sétima faixa, Rosa-dos-ventos. É um disco bem-humorado e reflexivo, como aparece na letra de Cara a cara, com participação do MPB4. No geral, não é de todo desinspirado, longe de ser medíocre, mas de fato um pouco aquém dos primeiros.


Construção (1971)

Nota pessoal: 10 (perfeito)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Philips.


  1. "Deus lhe pague"

  2. "Cotidiano"

  3. "Desalento"(Chico Buarque/Vinicius de Moraes)

  4. "Construção"

  5. "Cordão"

  6. "Olha, Maria"(Tom Jobim/Vinicius de Moraes/Chico Buarque)

  7. "Samba de Orly"(Toquinho/Chico Buarque/Vinicius de Moraes)

  8. "Valsinha"(Chico Buarque/Vinicius de Moraes)

  9. "Minha história (Gesù bambino)"(Dalla/Palotino/versão: Chico Buarque)

  10. "Acalanto para Helena"


Comentário: Marco na discografia de Chico Buarque, Construção é uma obra-prima. Muito disso se deve à canção homônima, sobre a morte acidental (muito comum na época) de um operário da construção civil, arquitetada em versos dodecassílabos terminados em proparoxítonas, com finais cambiáveis entre as estrofes. A composição primorosa, a mais complexa do autor, deixa de forma implícita o desvalor social, a desumanização, a que os trabalhadores braçais (e toda classe mais pobre) estão sujeitos. No disco, há críticas ao Estado brasileiro de então, com muita ironia e agressividade, como na primeira faixa, Deus lhe pague, cuja letra ressurge no fim da supracitada Construção: “Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir / A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir / Por me deixar respirar, por me deixar existir, / Deus lhe pague”. Há também críticas veladas à ditadura, como em Cordão. Para além do viés político, Chico compõe pérolas amorosas, tal Cotidiano, clássico irredutível: “Todo dia ela faz tudo sempre igual / Me sacode às seis horas da manhã / Me sorri um sorriso pontual / E me beija com a boca de hortelã”. Vinícius de Moraes participa, como coautor, de quatro letras, incluindo as deliciosas Olha, Maria e Valsinha. No geral, é um disco completo. Sem dúvida, um dos maiores de nosso cancioneiro popular.


Sinal Fechado (1974)

Nota pessoal: 8,5 (ótimo)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Philips.


  1. "Festa imodesta" (Caetano Veloso)

  2. "Copo vazio" (Gilberto Gil)

  3. "Filosofia" (Noel Rosa)

  4. "O filho que eu quero ter" (Toquinho/Vinicius de Moraes)

  5. "Cuidado com a outra" (Augusto Tomaz Júnior/Nelson Cavaquinho)

  6. "Lágrima" (José Garcia/José Gomes Filho/Sebastião Nunes)

  7. "Acorda amor" (Leonel Paiva/Julinho da Adelaide)

  8. "Lígia" (Tom Jobim)

  9. "Sem compromisso" (Geraldo Pereira/Nelson Trigueiro)

  10. "Você não sabe amar" (Carlos Guinle/Dorival Caymmi/Hugo Lima)

  11. "Me deixe mudo" (Walter Franco)

  12. "Sinal Fechado" (Paulinho da Viola)


Comentário: Sofrendo com a censura da Ditadura Militar, que fez cortes em sua trilha sonora da peça teatral Calabar, publicada em disco no ano anterior, Chico ficou impedido por um tempo de assinar suas canções. Em razão disso, gravou o álbum Sinal Fechado, com letras de grandes amigos, como Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Vinícius de Moraes, além de letristas históricos, como Noel Rosa, uma de suas maiores influências. O título do disco é também uma canção, de Paulinho da Viola, que figura na última faixa, e faz clara alusão à proibição da qual sua carreira se vitimava. Curiosamente, mesmo com o severo crivo estatal, há uma canção de Chico no disco, a excelente Acorda, amor, assinada sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide, que se inicia ao som de sirenes policiais, com o eu-lírico acordando no meio da noite, com medo de ser levado (implicitamente, pelos militares). É uma de suas melhores músicas.


Meus Caros Amigos (1976)

Nota pessoal: 10 (perfeito)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Philips.


  1. "O que será (À flor da terra)" (part. Milton Nascimento)

  2. "Mulheres de Atenas" (Chico Buarque/Augusto Boal)

  3. "Olhos nos olhos"

  4. "Você vai me seguir" (Chico Buarque/Ruy Guerra)

  5. "Vai trabalhar vagabundo"

  6. "Corrente (Este é um samba que vai pra frente)"

  7. "A noiva da cidade" (Chico Buarque/Francis Hime)

  8. "Passaredo" (Chico Buarque/Francis Hime)

  9. "Basta um dia"

  10. "Meu caro amigo" (Chico Buarque/Francis Hime)


Comentário: Novamente podendo assinar suas canções, o artista lança outro álbum histórico, recheado de clássicos da mais fina-flor lírica. De início, O Que Será (À Flor da Terra), com sua extasiante e enigmática letra, com Milton Nascimento a dividir os vocais de Chico: “O que será que será/ Que vive nas ideias desses amantes / Que cantam os poetas mais delirantes / Que juram os profetas embriagados / Que está na romaria dos mutilados”. Em seguida, Mulheres de Atenas, com referências à Helena, da Guerra de Troia, e Penélope, da Odisseia de Homero, com uma letra irônica, onde o autor nos pede que miremos para o exemplo (ou melhor, o contraexemplo) das mulheres (submissas, silenciadas) da Grécia Antiga. Na terceira faixa, Olhos nos Olhos, Chico canta um eu-lírico feminino a se empoderar, após uma separação amorosa, em uma das melodias mais belas de sua discografia: “Olhos nos olhos, quero ver o que você faz / Ao sentir que, sem você, eu passo bem demais”. Destaco as referências às canções de ninar em A Noiva da Cidade e o elenco de pássaros citados na letra de Passaredo. No encerramento, outro clássico: Meu Caro Amigo, um samba a explicar a situação política do Brasil, ainda em regime autoritário, aos amigos exilados na Europa. Grande parte do álbum é composta por canções que serviram de trilha sonora para peças teatrais e filmes, o que explica a referência fílmica na capa.


Chico Buarque (1978)

Nota pessoal: 9,4 (excelente)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Philips.


  1. "Feijoada completa"

  2. "Cálice" (part. Milton Nascimento, Gilberto Gil/Chico Buarque)

  3. "Trocando em miúdos" (Francis Hime/Chico Buarque)

  4. "O meu amor" (vocais: Maneta Severo & Elba Ramalho)

  5. "Homenagem ao malandro"

  6. "Até o fim"

  7. "Pedaço de mim" (part. Zizi Possi)

  8. "Pivete" (Francis Hime/Chico Buarque)

  9. "Pequeña serenata diurna" (Silvio Rodriguez)

  10. "Tanto mar"

  11. "Apesar de você" (part. MPB-4 & Quarteto em Cy)


Comentário: Com sua carreira “respirando melhor”, segundo o próprio, o disco de 1978 usufrui de um período de cada vez maior liberdade artística no país, ainda durante a ditadura, com duas músicas de protesto: Cálice, que usa o título da canção como trocadilho com “cale-se”, em referência à censura, e participação de Milton Nascimento: “Pai, afasta de mim esse cálice / De vinho tinto de sangue”; e Apesar de você, campeã de acessos no Spotify, um samba histórico, sobre o futuro enfim democrático: “Apesar de você/ Amanhã há de ser / Outro dia / Inda pago pra ver / O jardim florescer / Qual você não queria”. É um álbum mais leve, feliz e maduro, mas sem perder o viés político, principalmente nas duas canções supracitadas. Feijoada Completa, Homenagem ao Malandro e Até o Fim são muito bem-humoradas. O Meu Amor, outro clássico romântico de Chico, em eu-lírico feminino, aparece aqui na voz de duas mulheres, Marieta Severo, então esposa do compositor, e Elba Ramalho: “Eu sou sua menina, viu? / E ele é o meu rapaz / Meu corpo é testemunha / Do bem que ele me faz”. Representa, portanto, uma nova fase em sua carreira, permitindo-se sorrir novamente, após anos de repressão severa.


Vida (1980)

Nota pessoal: 8,6 (ótimo)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Polygram/Philips.


  1. "Vida"

  2. "Mar e lua"

  3. "Deixe a menina"

  4. "Já passou"

  5. "Bastidores"

  6. "Qualquer canção"

  7. "Fantasia"

  8. "Eu te amo" (part. Telma Costa, letra: Chico Buarque/Tom Jobim)

  9. "De todas as maneiras"

  10. "Morena de Angola"

  11. "Bye bye, Brasil" (Chico Buarque/Roberto Menescal)

  12. "Não sonho mais"


Comentário: Lançado em 1980, Vida conta com canções ora curtas, ora longas, sem muito meio-termo. São intensamente líricas, mas também objetivamente narrativas, normalmente sobre as dores de uma separação amorosa. A primeira faixa, homônima ao álbum, é uma pérola, com toques surrealistas: “Toquei na ferida / Nos nervos, nos fios / Nos olhos dos homens / De olhos sombrios”. Duas faixas são mais puxadas para o samba, Deixe a Menina e Morena de Angola, com seu refrão incessante: “Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela / Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela?”. Há bastante presença de piano, na maioria das músicas. Duas delas foram parte de trilhas sonoras de filmes homônimos, Bye Bye Brasil, com sua vibe oitentista e uso de sintetizador, e Eu te Amo, da mais bela letra, em coautoria de Tom Jobim e participação vocal de Telma Costa. Para encerrar, Não Sonho Mais, onde um eu-lírico feminino narra um sonho maluco, divertido e escatológico envolvendo o marido.


Almanaque (1981)

Nota pessoal: 8,5 (ótimo)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Ariola/Philips.


  1. "As vitrines"

  2. "Ela é dançarina"

  3. "O meu guri"

  4. "A voz do dono e o dono da voz"

  5. "Almanaque"

  6. "Tanto amar"

  7. "Angélica" (Chico Buarque/Miltinho)

  8. "Moto-contínuo" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  9. "Amor barato" (part. Carlinhos Vergueiro, letra: Chico Buarque/Francis Hime)


Comentário: Lançado em 1981, Almanaque traz um Chico soltando mais a voz, alcançando notas mais difíceis e agudas, o que é incomum em sua carreira, como na quarta faixa, A Voz do Dono e o Dono da Voz, e na quinta faixa, homônima ao disco. A abertura, com As Vitrines, traz uma poesia bem imagética, com vitrines e letreiros coloridos a ambientar os passos da amada. O Meu Guri, terceira faixa, traz a tradicional crítica social, sobre um menino pobre, levado (tão cedo) a integrar o mundo do crime: “Chega suado e veloz do batente / E traz sempre um presente pra me encabular / Tanta corrente de ouro, seu moço / Que haja pescoço pra enfiar / Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro / Chave, caderneta, terço e patuá / Um lenço e uma penca de documentos / Pra finalmente eu me identificar”. A penúltima faixa, Moto-contínuo, em coautoria de Edu Lobo, é quiçá a mais bem construída e criativa do disco. No encerramento, um sambinha leve e carnavalesco, com participação vocal de Carlinhos Vergueiro. No todo, não é um álbum tão memorável quanto seus antecessores, mas tem sua graça.


Chico Buarque en Español (1982)

Nota pessoal: 8,9 (ótimo)

Gênero: Samba; bossa-nova. Gravadora: Polygram/Philips.


  1. "Que será (O que será à flor da terra)" (part. Milton Nascimento)

  2. "Mar y luna (Mar e lua)"

  3. "Geni y el zepelin (Geni e o zepelim)"

  4. "Apesar de usted (Apesar de você)"

  5. "Querido amigo (Meu caro amigo)"

  6. "Construcción (Construção)"

  7. "Te amo (Eu te amo)" (part. Telma Costa)

  8. "Cotidiano (Cotidiano)"

  9. "Acalanto (Acalanto para Helena)"

  10. "Mambembe (Mambembe)"


Comentário: Disco com adaptações de grandes clássicos de Chico para a língua espanhola, incluindo O Que Será, Construção e Cotidiano. É o terceiro (e último) álbum internacional, após os dois discos em italiano, gravados durante o exílio do autor, na Itália, entre 1969 e 1970. Aqui, as canções funcionam mais naturalmente, mantendo arranjos, métricas e boa parte da essência dos versos, com auxílio do músico Daniel Viglietti na adaptação. Há até uma versão, em espanhol, de Geni e o Zepelim, que aparece originalmente no álbum homônimo ao musical Ópera do Malandro, de 1979.


Chico Buarque (1984)

Nota pessoal: 9,1 (excelente)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Polygram/Philips.


  1. "Pelas tabelas"

  2. "Brejo da cruz"

  3. "Tantas palavras" (Dominguinhos/Chico Buarque)

  4. "Mano a mano" (João Bosco/Chico Buarque)

  5. "Samba do grande amor"

  6. "Como se fosse a primavera" (Nicolas Guillén/Pablo Milanés)

  7. "Suburbano coração"

  8. "Mil perdões"

  9. "As cartas"

  10. "Vai passar" (Francis Hime/Chico Buarque)


Comentário: Lançado no ano das Diretas Já, 1984, movimento popular brasileiro no sentido da retomada democrática, o álbum se inicia com Pelas Tabelas, onde o eu-lírico teme “perder a cabeça”, isto é, sair do poder, ao ver a multidão de roupa amarela, batendo panela, o que pode ser uma referência ao último presidente da ditadura, João Figueiredo, contemplando a volta da democracia. É um disco com muitas mensagens subliminares e mesmo surrealistas, como em Brejo da Cruz. Há um certo otimismo, paixão e humor, com o alívio do fim dos anos de chumbo. Em Samba do Grande Amor, Chico brinca sobre desilusão amorosa, como se tivesse perdido a fé no amor, mas confessa a si mesmo que é mentira: “Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito / Exijo respeito, não sou mais um sonhador / Chego a mudar de calçada / Quando aparece uma flor / E dou risada do grande amor / Mentira!”. Na sexta faixa, uma canção em espanhol, de Nicolas Guillén e Pablo Milanés, Como se Fosse a Primavera. Uma boa surpresa é a penúltima, subestimada, As Cartas, com um quê de fábula, a nos pedir que desfaçamos as ilusões. Para encerrar, outro clássico da musicografia do autor, Vai Passar, um samba histórico exaltando a luta pela liberdade, por meio da metáfora carnavalesca, do passado sombrio até o futuro glorioso: “Vai passar / Nessa avenida um samba popular / Cada paralelepípedo da velha cidade / Essa noite vai se arrepiar / Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais / Que aqui sangraram pelos nossos pés / Que aqui sambaram nossos ancestrais”.


Francisco (1987)

Nota pessoal: 8,2 (ótimo)

Gênero: MPB. Gravadora: RCA.


  1. "O velho Francisco"

  2. "As minhas meninas"

  3. "Uma menina"

  4. "Estação derradeira"

  5. "Bancarrota blues" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  6. "Ludo real" (Chico Buarque/Vinicius Cantuária)

  7. "Todo o sentimento" (Chico Buarque/Cristovão Bastos)

  8. "Lola"

  9. "Cadê você" (Chico Buarque/João Donato)

  10. "Cantando no toró"


Comentário: Lançado em 1987, Francisco estreou em vinil com 4 fotos de capa diferentes. Na abertura, a melhor do disco, O Velho Francisco, com congas, caxixi, guiro e xequerê, num som bem abrasileirado em melodia marcante, que conta em primeira pessoa a história de um velho ex-escravo, inspirando Chico a escrever, décadas mais tarde, seu quarto romance, Leite Derramado, de 2009: “Fui eu mesmo alforriado / Pela mão do Imperador / Tive terra, arado / Cavalo e brida / Vida veio e me levou”. Seguindo pela segunda faixa, outra bela canção, As Minhas Meninas, utilizada na peça As Quatro Meninas, adaptada por Lenita Ploncynski: “Vão as minhas meninas / Levando destinos / Tão iluminados de sim / Passam por mim / E embaraçam as linhas / Da minha mão / As meninas são minhas / Só minhas na minha ilusão”. Há citações à Estação Primeira de Mangueira na quarta faixa, Estação Derradeira, e um interessante blues em coautoria de Edu Lobo, em Bancarrota Blues. Outros destaques são Todo o Sentimento e Lola. No encerramento, Cantando no Toró, um divertido samba. No geral, é um álbum um pouco menos inspirado que a média, mas ainda com a essência de Chico, numa vibe oitentista e leve, de bem com a vida.


Chico Buarque (1989)

Nota pessoal: 8 (ótimo)

Gênero: MPB. Gravadora: BMG.


  1. "Morro Dois Irmãos"

  2. "Trapaças"

  3. "Meio-dia, meia-lua" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  4. "Baticum" (Chico Buarque/Gilberto Gil)

  5. "A permuta dos santos" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  6. "O futebol"

  7. "A mais bonita" (part. Bebel Gilberto)

  8. "Uma palavra"

  9. "Tanta saudade" (Chico Buarque/Djavan)

  10. "Valsa brasileira" (Chico Buarque/Edu Lobo)


Comentário: Também conhecido como “Morro Dois Irmãos”, o álbum não traz grandes sucessos, como é de costume. Baticum, a quarta faixa, com participação e coautoria de Gilberto Gil, fala sobre uma festa popular à beira-mar, que acaba sendo monopolizada por grandes corporações, como a Warner, a Rede Globo e o Carrefour. A Permuta dos Santos, na próxima faixa, é uma das mais divertidas, com a população trocando as imagens dos santos de igreja para igreja, em troca de bençãos. O Futebol é uma homenagem ao esporte, com referências aos jogadores Mané Garrincha, Didi e Pelé. A Mais Bonita, por sua vez, traz uma belíssima letra e interpretação de Bebel Gilberto, filha de João Gilberto e sobrinha materna do próprio Chico. Tanta Saudade, em coautoria e arranjo de Djavan, faz parte da trilha sonora do filme Para viver um grande amor, de 1983, e ostenta um ritmo tropical, bem distinto do restante do disco. No encerramento, Valsa Brasileira, com sua belíssima e surrealista letra: “E pela porta de trás / Da casa vazia / Eu ingressaria / E te veria / Confusa por me ver / Chegando assim / Mil dias antes de te conhecer”.


Paratodos (1993)

Nota pessoal: 10 (perfeito)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: BMG/RCA.


  1. "Paratodos"

  2. "Choro bandido" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  3. "Tempo e artista"

  4. "De volta ao samba"

  5. "Sobre todas as coisas" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  6. "Outra noite" (Chico Buarque/Luiz Cláudio Ramos)

  7. "Biscate" (part. Gal Costa)

  8. "Romance"

  9. "Futuros amantes"

  10. "Piano na Mangueira" (part. Tom Jobim, letra: Chico Buarque/Tom Jobim)

  11. "Pivete" (Chico Buarque/Francis Hime)

  12. "A foto da capa"


Comentário: Paratodos, logo de início, em faixa homônima, traz homenagem de Chico à sua ascendência (O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano), além de reverenciar grandes músicos brasileiros, especialmente Tom Jobim (Meu maestro soberano / Foi Antonio Brasileiro), bem como Dorival Caymmi, Pixinguinha, Noel Rosa, João Gilberto, Nara, Gal, Bethânia, entre outros. Todas as faixas são da mais alta fina flor do cancioneiro buarquiano, como Choro Bandido, que alude à origem mitológica grega da poesia, com Apolo a criar a primeira lira. Em Tempo e Artista, o próprio tempo encarna os artistas do palco. Na quinta faixa, Sobre Todas as Coisas, o eu-lírico apela à Criação de Deus para não ser abandonado pela pessoa amada. Em Biscate, sinônimo de bico, pequeno trabalho remunerado, há um divertido dueto entre Chico e Gal Costa, que interpretam um casal com suas brigas e sonhos. Futuros Amantes, na nona faixa, é outro clássico, com um hipotético futuro (de milênios) onde o Rio de Janeiro é submerso e escafandristas encontram vestígios (Fragmentos de cartas, poemas / Mentiras, retratos) do amor então vivido pelo eu-lírico no presente, podendo inspirar casais vindouros: “Futuros amantes, quiçá / Se amarão sem saber / Com o amor que eu um dia / Deixei pra você”. Em Piano na Mangueira, outro dueto, em samba, dessa vez com o amigo Tom Jobim. Pivete é uma regravação, com nova roupagem, da canção do disco de 1978. Sem dúvida, um dos melhores álbuns de Chico Buarque.


Uma Palavra (1995)

Nota pessoal: 8,8 (ótimo)

Gênero: MPB. Gravadora: Sony/BMG.


  1. "Estação derradeira"

  2. "Morro Dois Irmãos"

  3. "Ela é dançarina"

  4. "Samba e amor"

  5. "A Rosa"

  6. "Joana Francesa"

  7. "O futebol"

  8. "Ela desatinou"

  9. "Quem te viu, quem te vê"

  10. "Pelas tabelas"

  11. "Eu te amo" (Chico Buarque/Tom Jobim)

  12. "Valsa brasileira" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  13. "Amor barato" (Chico Buarque/Francis Hime)

  14. "Vida"

  15. "Uma palavra"


Comentário: Publicado em 1995, Uma Palavra traz regravações de canções de Chico, em novos arranjos, do álbum de 1967 até o álbum de 1989, especialmente dos últimos. As exceções são A Rosa, exclusiva do disco, e Joana Francesa, que mescla versos em português e francês, em primeira gravação de estúdio – Chico já havia tocado ela ao vivo anteriormente. Nas outras faixas, há duas com diferenças significativas: Ela é Dançarina, aqui, tem uma letra maior que a original, do álbum Almanaque, de 1981; e Eu Te Amo não conta com a voz feminina de Telma Costa, presente no disco de 1980, Vida.


As Cidades (1998)

Nota pessoal: 8,7 (ótimo)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: RCA.


  1. "Carioca"

  2. "Iracema voou"

  3. "Sonhos sonhos são"

  4. "A ostra e o vento" (part. Branca Lima)

  5. "Xote de navegação" (Chico Buarque/Dominguinhos)

  6. "Você, você" (Chico Buarque/Guinga)

  7. "Assentamento" (part. Cristina Buarque)

  8. "Injuriado"

  9. "Aquela mulher"

  10. "Cecília" (Chico Buarque/Luiz Cláudio Ramos)

  11. "Chão de Esmeraldas" (Chico Buarque/Hermínio Bello de Carvalho)


Comentário: As Cidades, último álbum de estúdio de Chico no século passado, é uma viagem por diversos cenários, começando pelo Rio de Janeiro, com Carioca, onde o poeta descreve a cultura, as delícias, o sublime e até o lado problemático (a prostituição das jovens) da cidade. Em Iracema Voou, uma cearense se muda para os Estados Unidos, em busca de vida nova. Um voo de avião também aparece em Sonhos, Sonhos São, com uma viagem onírica e surrealista, passando por diversas metrópoles de quatro continentes. O tema da viagem também surge em Assentamento, que faz parte do livro Terra (1997), em parceria com Sebastião Salgado e José Saramago, sobre o drama migratório dos desabrigados brasileiros. Como de praxe, há participações de vocais femininos: Branca Lima, filha de Telma Costa, faz dueto com Chico em A Ostra e o Vento, tema de filme homônimo; e Cristina Buarque, irmã do músico, faz vocal de apoio em Injuriado. Xote de Navegação, em coautoria de Dominguinhos, traz reflexões filosóficas, com um barco a fluir no rio do tempo. No entanto, a melhor canção do disco é a penúltima faixa, Cecília, com seu belíssimo lamento amoroso: “Quantos poetas / Românticos, prosas / Exaltam suas musas / Com todas as letras / Eu te murmuro / Eu te suspiro / Eu, que soletro / Teu nome no escuro”.


Carioca (2006)

Nota pessoal: 9 (excelente)

Gênero: MPB; bossa-nova. Gravadora: Biscoito Fino.


  1. "Subúrbio"

  2. "Outros Sonhos"

  3. "Ode aos ratos" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  4. "Dura na Queda"

  5. "Porque era ela, porque era eu"

  6. "As Atrizes"

  7. "Ela Faz Cinema"

  8. "Bolero Blues" (Chico Buarque/Jorge Helder)

  9. "Renata Maria" (Chico Buarque/Ivan Lins)

  10. "Leve" (Chico Buarque/Carlinhos Vergueiro)

  11. "Sempre"

  12. "Imagina" (part. Mônica Salmaso, letra: Chico Buarque/Tom Jobim)


Comentário: Lançado em 2006, o álbum é o primeiro de Chico em uma gravadora independente, a Biscoito Fino. É um disco romântico, bem próximo da sonoridade da bossa-nova, à lá João Gilberto, com poemas cantados de forma suave, calma. Fala-se de ser feliz, apesar as adversidades da vida, e toca o sublime em muitos momentos. A exceção é a terceira faixa, Ode aos Ratos, um rock de rabeca e flautas, com uma embolada (espécie de rap nordestino) no final: “Rato de rua / Aborígene do lodo / Fuça gelada / Couraça de sabão / Quase risonho / Profanador de tumba / Sobrevivente / À chacina e à lei do cão”. Logo na abertura, uma homenagem ao subúrbio carioca, com menção às comunidades e suas culturas (estéticas, religiosas, musicais): “Lá […] não tem frescura nem atrevimento / Lá não figura no mapa / No avesso da montanha, é labirinto / É contra-senha, é cara a tapa”. A segunda faixa, Outros Sonhos, com Dominguinhos no acordeão, ilustra um sonho impossível e bom – é a canção mais gostosa do disco, com estrofe final cantada em espanhol. As Atrizes e Ela Faz Cinema, nos meados do álbum, são homenagens à arte de atuar, com o eu-lírico enciumado com a namorada a contracenar romances com outrem e, depois, perdido, sem saber se a amada atua ou não na vida real.


Chico (2011)

Nota pessoal: 8,9 (ótimo)

Gênero: MPB. Gravadora: Biscoito Fino.


  1. "Querido Diário"

  2. "Rubato" (Chico Buarque/Jorge Helder)

  3. "Essa pequena"

  4. "Tipo um baião"

  5. "Se eu soubesse" (part. Thais Gulin)

  6. "Sem você nº 2"

  7. "Sou eu" (part. Wilson das Neves, letra: Chico Buarque/Ivan Lins)

  8. "Nina"

  9. "Barafunda"

  10. "Sinhá" (Chico Buarque/João Bosco)


Comentário: O sucessor de Carioca (2006) continua seu estilo calmo e romântico, com canções doces, como Essa Pequena, um blues sobre uma amada jovem e ruiva, e Nina, outra amada, dessa vez russa, que escreve cartas ao eu-lírico brasileiro: “Nina anseia por me conhecer em breve / Me levar para a noite de Moscou / Sempre que esta valsa toca / Fecho os olhos, bebo alguma vodca / E vou”. A melhor canção do disco é a quinta faixa, Se Eu Soubesse, um gostoso dueto de Chico com Thais Gulin. Sou Eu, na sétima faixa, traz outro dueto, dessa vez com o experiente sambista Wilson das Neves, e uma mulher a bailar (e incendiar de desejo o salão), na letra. Em Barafunda, uma divertida confusão, com o poeta a embaralhar as peças de sua memória: “E salve este samba, antes que o esquecimento / Baixe seu manto / Seu manto cinzento”. No encerramento, Sinhá, em coautoria de João Bosco, com o relato de um escravizado a sofrer as penas de (supostamente) ter espiado sinhá se banhando. É uma letra deveras dolorosa. No todo, o disco é centrado em mulheres – e seus efeitos sobre o poeta.


Caravanas (2017)

Nota pessoal: 9,8 (excelente)

Gênero: MPB. Gravadora: Biscoito Fino.


  1. "Tua Cantiga" (Chico Buarque/Cristovão Bastos)

  2. "Blues pra Bia"

  3. "A moça do sonho" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  4. "Jogo de bola"

  5. "Massarandupió" (Chico Buarque/Chico Brown)

  6. "Dueto" (part. Clara Buarque)

  7. "Casualmente" (Chico Buarque/Jorge Helder)

  8. "Desaforos"

  9. "As caravanas"


Comentário: Caravanas é o mais recente álbum de estúdio do músico, com sete canções inéditas e duas regravações, dessa vez na voz do próprio Chico: A Moça do Sonho foi gravada primeiramente por Edu Lobo, para o disco Cambaio (2001); e Dueto, aqui na companhia da voz de Clara Buarque, neta de Chico, foi primeiramente apresentada no disco de Nara Leão, Com Açúcar, Com Afeto (1980). Esta, na versão de Caravanas, traz um vigor de atualidade, com menção às redes sociais ao fim, mas mantendo a letra consagrada: “Consta nos astros, nos signos, nos búzios / Eu li num anúncio, eu vi no espelho / Tá lá no evangelho, garantem os orixás / Serás o meu amor, serás a minha paz”. Na abertura, Tua Cantiga, que alcançou enorme sucesso nas plataformas digitais, o eu-lírico se declara de várias formas à amante: “Se as tuas noites não têm mais fim / Se um desalmado te faz chorar / Deixa cair um lenço / Que eu te alcanço / Em qualquer lugar”. Na sequência, um blues sobre um amor inviável, de um garoto hétero por uma garota lésbica, Blues Pra Bia. Na sétima faixa, Casualmente, com letra predominantemente em espanhol, somos conduzidos por um quente bolero. No encerramento, As Caravanas, uma crônica de denúncia ao racismo sofrido pelos povos negros das favelas, comparados a terroristas, vindos de “comboios” às praias de Copacabana. No todo, um álbum magistral, com o brilho lírico das obras mais inspiradas de Chico Buarque.




ÁLBUNS AO VIVO:


Caetano e Chico - Juntos e Ao Vivo (1972)

Ao vivo com Caetano Veloso”

Nota pessoal: 7,8 (muito bom)

Gênero: Ao vivo; MPB; tropicalismo. Gravadora: Philips.


  1. "Bom conselho"

  2. "Partido alto"

  3. "Tropicália" (Caetano Veloso)

  4. "Morena dos olhos d'água"

  5. "A Rita" / "Esse Cara" (Caetano Veloso)

  6. "Atrás da porta" (Chico Buarque/Francis Hime)

  7. "Você não entende nada" (Caetano Veloso) / "Cotidiano"

  8. "Bárbara" (Chico Buarque/Ruy Guerra)

  9. "Ana de Amsterdam" (Chico Buarque/Ruy Guerra)

  10. "Janelas abertas nº 2" (Caetano Veloso)

  11. "Os argonautas" (Caetano Veloso)


Comentário: Reunindo dois gigantes da MPB, ainda jovens, o show ocorreu no Teatro Castro Alves, nos dias 10 e 11 de novembro de 1972, em Salvador, logo após o retorno de Caetano do seu exílio em Londres, imposto pela Ditadura Militar. A setlist é composta por canções de Chico e Caetano, que cantam separadamente na maior parte do disco. As duas vozes soam juntas em raros momentos, como na sétima faixa, que une Você Não Entende Nada, de Caetano, e Cotidiano, de Chico. Ainda há participação dos músicos do MPB4. É um show curto, e a qualidade da gravação preserva bem os vocais, mas fica aquém da qualidade posterior, muito devido às limitações da época.


Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo (1975)

Ao vivo com Maria Bethânia”

 Nota pessoal: 8,5 (ótimo)

Gênero: Ao vivo; MPB. Gravadora: Philips.


  1. "Olê, olá"

  2. "Sonho impossível (The impossible Dream)" (J. Darion, M. Leigh/versão: Chico Buarque, Ruy Guerra)

  3. "Sinal Fechado" (Paulinho da Viola)

  4. "Sem fantasia"

  5. "Sem açúcar"

  6. "Com açúcar, com afeto"

  7. "Camisola do dia" (David Nasser/Herivelto Martins)

  8. "Notícia de jornal" (Haroldo Barbosa/Luis Reis)

  9. "Gota d'água"

  10. "Tanto mar"

  11. "Foi assim" (Lupicínio Rodrigues)

  12. "Flor da idade"

  13. "Bem querer"

  14. "Cobras e lagartos" (Hermínio Bello de Carvalho/Sueli Costa)

  15. "Gita" (Paulo Coelho/Raul Seixas)

  16. "Quem te viu, quem te vê"

  17. "Vai levando" (Chico Buarque/Caetano Veloso)

  18. "Noite dos mascarados"


Comentário: Gravado no Canecão, Rio de Janeiro, no ano de 1975, o show reúne Chico e Bethânia, com o repertório dos dois artistas e performances solos e conjuntas. A potência vocal de Bethânia se mostra muito mais virtuosa que a do parceiro de palco, que se coloca mais como “um compositor que canta”, sem grandes impressões. Na versão do disco em Portugal, há uma diferença: a faixa Tanto Mar possui letra. No Brasil, devido à censura da Ditadura Militar, tiveram que substituir a faixa por uma versão instrumental. Um bom destaque é Com Açúcar, Com Afeto, na sexta faixa, cantada por Chico, diferentemente da versão de estúdio. Outro ponto de interesse é Gota d’Água, também cantada aqui pelo compositor, tendo a interpretação de Bibi Ferreira como a mais famosa, para peça homônima de Chico e Paulo Pontes – outras canções da peça fazem parte do show com Bethânia. Na penúltima faixa, uma das mais conhecidas – e que não figura na discografia do artista, Vai Levando, em coautoria de Caetano Veloso: “Mesmo com toda a fama / Com toda a Brahma / Com toda a cama / Com toda a lama […] / A gente vai levando essa chama”.


Melhores Momentos de Chico & Caetano (1986)

Ao vivo com Caetano Veloso”

 Nota pessoal: 7,8 (muito bom)

Gênero: Ao vivo; MPB. Gravadora: Som Livre.


  1. "Festa imodesta" (Caetano Veloso, nas vozes de Chico e Caetano)

  2. "Billy Jean" (Michael Jackson, na voz de Caetano)

  3. "Roberto corta essa" (Jorge Ben, na voz do mesmo)

  4. "Adíos Nonino" (Astor Piazzola/instrumental)

  5. "Tiro de misericórdia" (João Bosco/Aldir Blanc, na voz de Elza Soares)

  6. "Não quero saber mais dela" (Beth Carvalho, Chico, Caetano, Fundo de Quintal, Sombrinha e Almir Guinéto)

  7. "London, London" (Caetano Veloso, nas vozes do próprio e Paulo Ricardo)

  8. "Águas de março" (Tom Jobim, nas vozes do próprio, Chico e Caetano)

  9. "Sentimental" (Chico Buarque, na voz do próprio)

  10. "Luz Negra" (Nelson Cavaquinho/Irahy Barros, na voz de Cazuza)

  11. "Merda" (Caetano Veloso, nas vozes do próprio, Chico, Rita Lee e Luís Caldas)


Comentário: Seleção de alguns momentos, em áudio, do programa Chico & Caetano, da Rede Globo, com diversas participações especiais, como Jorge Ben Jor; Elza Soares; Paulo Ricardo, vocalista da banda de rock RPM; Cazuza e até Tom Jobim, que canta Águas de Março junto de Caetano e Chico. Há até uma versão de Billy Jean, do Michael Jackson, na voz de Caetano. Porém, os dois artistas do título não aparecem tanto quanto seria esperado, ainda mais Chico, que solta a voz em menos da metade das faixas, fazendo com que o disco se torne mais uma “festa de convidados” do que propriamente dos dois gigantes da MPB.


Chico Buarque Ao Vivo: Paris, Le Zenith (1990)

Ao vivo”

 Nota pessoal: 8,9 (ótimo)

Gênero: Ao vivo; MPB; samba. Gravadora: RCA.


  1. "Apresentação / Desalento" (Chico Buarque/Vinicius de Moraes)

  2. "A Rita"

  3. "Samba do grande amor"

  4. "Gota d'água"

  5. "As vitrines"

  6. "A volta do malandro"

  7. "Partido alto"

  8. "Sem compromisso" (Geraldo Pereira/Nelson Trigueiro)

  9. "Deixe a menina"

  10. "Suburbano coração"

  11. "Palavra de mulher"

  12. "Todo o sentimento" (Chico Buarque/Cristovão Bastos)

  13. "Joana Francesa"

  14. "Rio 42"

  15. "Não existe pecado ao sul do Equador" (Chico Buarque/Ruy Guerra)

  16. "Brejo da cruz"

  17. "O que será (À flor da pele)"

  18. "Vai passar" (Chico Buarque/Francis Hime)

  19. "Samba de Orly" (Chico Buarque/Vinicius de Moraes/Toquinho)

  20. "João e Maria" (Chico Buarque/Sivuca)

  21. "Eu quero um samba (Haroldo Barbosa/Janet de Almeida) / Essa moça tá diferente"


Comentário: Gravado em 1989, no Teatro Le Zenith, na cidade de Paris, e publicado no ano seguinte, o show reúne vasto repertório buarqueano, com a grande maioria das faixas de composição exclusiva do músico, desde o primeiro álbum de estúdio, com A Rita, ainda em 1966, até discos menos conhecidos, de trilhas sonoras para peças teatrais, como Calabar (1973), com a faixa Não existe pecado ao sul do Equador. As exceções são duas: Sem Compromisso e Eu quero um samba, de outros compositores. Destaque para a faixa Joana Francesa, perfeita para performar em Paris; e Vai Passar, aqui cantada inteiramente por Chico, diferentemente da versão de estúdio, que traz um coral de sambistas nos vocais.


Chico Ao Vivo (1999)

Ao vivo”

 Nota pessoal: 9,6 (excelente)

Gênero: Ao vivo; MPB; samba. Gravadora: BMG/RCA.


Disco 1


  1. "Paratodos"

  2. "Amor barato" (Chico Buarque/Francis Hime)

  3. "A noiva da cidade" (Chico Buarque/Francis Hime)

  4. "A volta do malandro"

  5. "Homenagem ao malandro"

  6. "A ostra e o vento"

  7. "Sem você" (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)

  8. "Cecília" (Chico Buarque/Luiz Cláudio Ramos)

  9. "Aquela mulher"

  10. "Sob medida"

  11. "O meu amor"

  12. "Teresinha"

  13. "Injuriado"

  14. "Quem te viu, quem te vê"


Disco 2


  1. "As vitrines"

  2. "Iracema voou"

  3. "Assentamento"

  4. "Como se fosse a primavera" (Nicolas Guillén/Pablo Milanés)

  5. "Cotidiano"

  6. "Bancarrota blues" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  7. "Xote de navegação" (Chico Buarque/Dominguinhos)

  8. "Construção"

  9. "Sonhos sonhos são"

  10. "Carioca"

  11. "Capital do samba" (José Ramos) / "Chão de Esmeraldas" (Chico Buarque/Hermínio Bello de Carvalho)

  12. "Futuros amantes"

  13. "Vai passar" (Chico Buarque/Francis Hime)

  14. "João e Maria" (Chico Buarque/Sivuca)


Comentário: Gravado em abril de 1999, no Palace, São Paulo, para a turnê do disco As Cidades (1998), o álbum duplo ao vivo traz todas as canções do supracitado, menos Você, Você. São 29 canções em 28 faixas – uma delas com Capital do Samba, de José Ramos, da Velha Guarda da Mangueira, e Chão de Esmeraldas. Até mesmo Construção é executada aqui, com arranjo de Rogério Duprat; e Cotidiano, não tocada ao vivo havia duas décadas. Destaque para Teresinha, grande sucesso, da peça Ópera do Malandro, cantada enfim pelo próprio Chico. É um show que consagra a fase da carreira do músico, marcada por Paratodos, mas sem se esquecer dos discos mais antigos, fazendo um grande e belo apanhado da obra.


Carioca Ao Vivo (2007)

Ao vivo”

 Nota pessoal: 8,8 (ótimo)

Gênero: Ao vivo; MPB; samba. Gravadora: Biscoito Fino.


Disco 1


  1. "Voltei a Cantar" (Lamartine Babo ) /"Mambembe"/"Dura na Queda"

  2. "O Futebol"

  3. "Morena de Angola"

  4. "Renata Maria" (Ivan Lins/Chico Buarque )

  5. "Outros Sonhos"

  6. "Imagina" (Tom Jobim/Chico Buarque )

  7. "Porque era ela, porque era eu"

  8. "Sempre"

  9. "Mil Perdões"

  10. "A história de Lily Braun" (Edu Lobo/Chico Buarque )

  11. "A Bela e a Fera" (Edu Lobo/Chico Buarque )

  12. "Ela é Dançarina"

  13. "As Atrizes"

  14. "Ela faz Cinema"

  15. "Eu te Amo" (Tom Jobim/Chico Buarque )


Disco 2


  1. "Palavra de mulher"

  2. "Leve" (Carlinhos Vergueiro/Chico Buarque )

  3. "Bolero Blues" (Jorge Helder/Chico Buarque )

  4. "As vitrines"

  5. "Subúrbio"

  6. "Morro dois irmãos"

  7. "Futuros amantes"

  8. "Bye, Bye Brazil (Roberto Menescal/Chico Buarque ) /Cantando no toró/Grande hotel" (Wilson das Neves/Chico Buarque )

  9. "Ode aos ratos" (Edu Lobo/Chico Buarque )

  10. "Na carreira" (Edu Lobo/Chico Buarque )

  11. "Sem compromisso (Geraldo Pereira/Nelson Trigueiro) /Deixa a menina"

  12. "Quem te viu, quem te vê"

  13. "João e Maria" (Sivuca/Chico Buarque )


Comentário: Gravado em 2007, no Canecão, Rio de Janeiro, o álbum duplo traz uma setlist baseada na então turnê de divulgação do disco Carioca (2006), em detrimento das demais canções do artista, com muitos clássicos ausentes – o que faz muita falta. Das antigas, apenas umas 3 ou 4 faixas representam os sucessos de outrora. No entanto, é um bom show para o contexto da trajetória de Chico, sempre inovando e focando; aqui, na nova fase. Destaque para a utilização de pot-pourri, com várias canções em faixas únicas, ocorrendo na abertura e duas vezes no segundo disco.


Na Carreira Ao Vivo (2012)

Ao vivo”

Nota pessoal: 8,9 (ótimo)

Gênero: Ao vivo; MPB; samba. Gravadora: Biscoito Fino.


Disco 1


  1. "O velho Francisco"

  2. "De volta ao samba"

  3. "Desalento" (Chico Buarque/Vinicius de Moraes)

  4. "Injuriado"

  5. "Querido Diário"

  6. "Rubato" (Chico Buarque/Jorge Helder)

  7. "Choro bandido" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  8. "Essa pequena"

  9. "Tipo um baião"

  10. "Se eu soubesse"

  11. "Sem você nº 2"

  12. "Bastidores"

  13. "Todo o sentimento" (Chico Buarque/Cristovão Bastos)

  14. "O meu amor"

  15. "Teresinha"


Disco 2


  1. "Ana de Amsterdam" (Chico Buarque/Ruy Guerra)

  2. "Anos dourados" (Chico Buarque/Tom Jobim)

  3. "Sob medida"

  4. "Nina"

  5. "Valsa brasileira" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  6. "Geni e o zepelim"

  7. "Sou eu" (Chico Buarque/Ivan Lins)

  8. "Tereza da praia" (Billy Blanco/Tom Jobim)

  9. "A violeira" (Chico Buarque/Tom Jobim)

  10. "Baioque"

  11. "Rap de Cálice" (Chico Buarque/Gilberto Gil/Criolo)

  12. "Sinhá" (Chico Buarque/João Bosco)

  13. "Barafunda"

  14. "Futuros amantes"

  15. "Na carreira" (Chico Buarque/Edu Lobo)


Comentário: Como uma viagem pela carreira buarqueana, dos anos 60 até agora, o disco duplo se inicia e se encerra ao som dos apitos de um trem. Os destaques são as faixas do então disco mais recente, Chico (2011), preenchendo 1/3 da setlist, com outras 20 canções presentes em outros álbuns. Além dos CDs, há ainda versões em DVD, com making-off, e Blu-Ray, com o documentário O Dia Voa. Quiçá minha versão favorita de O Meu Amor, na voz do próprio compositor, esteja aqui. Uma boa surpresa é Anos Dourados, que saiu originariamente, em versão de estúdio, no álbum Passarim, de Tom Jobim, com Chico assumindo os vocais principais. Outro ponto de curiosidade é a versão revitalizada e curtíssima do clássico Cálice, com arranjos de hip-hop e uma introdução de rap, com versos do rapper Criolo.


Caravanas Ao Vivo (2018)

Ao vivo”

Nota pessoal: 9,5 (excelente)

Gênero: Ao vivo; MPB; samba. Gravadora: Biscoito Fino.


  1. "Minha embaixada chegou" (Assis Valente) / "Mambembe"

  2. "Partido alto"

  3. "Iolanda" (Pablo Milanés, versão: Chico Buarque)

  4. "Casualmente" (Chico Buarque/Jorge Helder)

  5. "A moça do sonho" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  6. "Retrato em branco e preto" (Chico Buarque/Tom Jobim)

  7. "Desaforos"

  8. "Injuriado"

  9. "Dueto"

  10. "A volta do malandro"

  11. "Homenagem ao malandro"

  12. "Palavra de mulher"

  13. "As vitrines"

  14. "Jogo de bola"

  15. "Massarandupió" (Chico Buarque/Chico Brown)

  16. "Outros Sonhos"

  17. "Blues pra Bia"

  18. "A história de Lily Braun" / "A bela e a fera" (Chico Buarque/Edu Lobo)

  19. "Todo o sentimento" (Chico Buarque/Cristovão Bastos)

  20. "Tua Cantiga" (Chico Buarque/Cristovão Bastos)

  21. "Sabiá" (Chico Buarque/Tom Jobim)

  22. "Grande Hotel" (Chico Buarque/Wilson das Neves)

  23. "Gota d'água"

  24. "As caravanas"

  25. "Estação derradeira" / "Minha embaixada chegou" (Assis Valente)

  26. "Geni e o zepelim"

  27. "Futuros amantes"

  28. "Paratodos"


Comentário: Gravado no Tom Brasil, cidade de São Paulo, para a turnê do álbum Caravanas, que percorreu Lisboa, Porto e dez cidades brasileiras, o disco ao vivo (comercializado também com um DVD) traz sucessos de várias épocas da carreira de Chico, especialmente do álbum homônimo, cujas faixas foram todas inclusas no show. Apesar da idade, Chico não demonstra cansaço nas 31 músicas executadas, interagindo com o público e contando curiosidades, como a inspiração para Massarandupió. Para Dueto, quem o acompanha nos vocais é Bia Paes Leme, substituindo a Clara Buarque da versão de estúdio. Da setlist toda, apenas Minha embaixada chegou, executada em dois momentos, não figura como sendo da autoria de Chico.



TRILHAS SONORAS:


Quando o Carnaval Chegar (1972)

Com Nara Leão & Maria Bethânia / trilha sonora de filme”

Nota pessoal: 8,8 (ótimo)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Phonogram.


  1. "Mambembe (instrumental)"

  2. "Baioque" (Chico Buarque, na voz de Maria Bethânia)

  3. "Caçada"

  4. "Mais uma estrela" (Bonfíglio de Oliveira/Herivelto Martins, na voz de Nara Leão)

  5. "Quando o carnaval chegar"

  6. "Minha embaixada chegou" (Assis Valente, nas vozes de Nara Leão & Maria Bethânia)

  7. "Soneto (instrumental)"

  8. "Mambembe"

  9. "Soneto" (Chico Buarque, na voz de Nara Leão)

  10. "Partido alto" (Chico Buarque, na voz de MPB4)

  11. "Bom conselho" (Chico Buarque, na voz de Maria Bethânia)

  12. "Frevo" (Chico Buarque)

  13. "Formosa" (Tom Jobim/Vinicius de Moraes, na voz de Chico Buarque)

  14. "Cantores do rádio" (Alberto Ribeiro/João de Barro/Lamartine Babo, nas vozes de Chico, Nara & Bethânia)


Comentário: Trilha sonora do longa-metragem homônimo, de 1972, dirigido por Cacá Diegues e estrelado pelo trio de cantores, Chico, Nara e Bethânia, o disco tem uma pegada bem-humorada, alegre, e eclética. Mambembe aparece duas vezes, primeiro instrumentalmente, na introdução, e depois cantada por Chico, na melhor canção da trilha: “No palco, na praça, no circo, num banco de jardim / Correndo no escuro, pichado no muro / Você vai saber de mim / Mambembe, cigano / Debaixo da ponte, cantando / Por baixo da terra, cantando / Na boca do povo, cantando”. Outra faixa que aparece duas vezes, instrumental e cantada, é Soneto, com letra de Chico e voz de Nara. Baioque, na segunda faixa, traz um rock jovial à lá Jovem Guarda, com grande performance vocal de Bethânia. Minha Embaixada Chegou, por sua vez, é um clássico do samba, com direito a solo de cuíca. Outro destaque, na voz do grupo MPB4, é a divertida Partido Alto, que teve termos vetados pela Ditadura: “Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio / Pele e osso simplesmente, quase sem recheio / Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio / Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio”.


Calabar (1973)

“Com Ruy Guerra / trilha sonora de peça”

Nota pessoal: 9 (excelente)

Gênero: MPB. Gravadora: Philips.


  1. "Prólogo (O Elogio da Traição)"/"Cala a boca Bárbara"

  2. "Tatuagem"

  3. "Ana de Amsterdam"

  4. "Bárbara"

  5. "Não existe pecado ao sul do Equador"/"Boi voador não pode"

  6. "Fado tropical"

  7. "Tira as mãos de mim"

  8. "Cobra de vidro"

  9. "Vence na vida quem diz sim"

  10. "Fortaleza"

  11. "O elogio da traição"


Comentário: Trilha sonora da peça Calabar: Elogio da Traição, em coautoria de Ruy Guerra, dramaturgo moçambicano, dramatizando a vida de Domingos Calabar, figura histórica do Brasil colonial, tendo se aliado aos holandeses, contra os portugueses – e, por isso, tornando-se sinônimo de traidor, o disco é talvez a obra mais censurada de Chico. Lançada primeiramente como Chico Canta Calabar (e depois apenas Chico Canta), teve o título censurado por possivelmente remeter ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas, da Ditadura), com os portugueses servindo de metáfora aos militares. Além do título, letras inteiras foram coercitivamente apagadas (virando meros instrumentais, como Ana de Amsterdam e Vence na vida quem diz sim), além de versos específicos dentro de canções. O disco traz magníficos arranjos de Edu Lobo, sendo o ponto forte da obra. São faixas que fazem mais sentido com o contexto da peça; não deixando, no entanto, de exprimir o genial e característico lirismo buarqueano. Destaco Fado Português, no estilo tradicional da música de Portugal, com declamações de Ruy Guerra.


Ópera do Malandro (1979)

Com vários artistas / trilha sonora de peça musical”

Nota pessoal: 9,7 (excelente)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Polygram/Philips.


  1. "O malandro" (Bertolt Brecht/Kurt Weill/versão: Chico Buarque, nas vozes de: MPB-4)

  2. "Hino de Duran" (na voz de: Chico Buarque/A Cor do Som)

  3. "Viver do amor" (na voz de: Marlene)

  4. "Uma canção desnaturada" (na voz de: Chico Buarque/Marlene)

  5. "Tango do covil" (nas vozes de: MPB-4)

  6. "Doze anos" (na voz de: Chico Buarque/Moreira da Silva)

  7. "O casamento dos pequenos burgueses" (na voz de: Chico Buarque/Alcione)

  8. "Teresinha" (na voz de: Zizi Possi)

  9. "Homenagem ao malandro" (na voz de: Moreira da Silva)

  10. "Folhetim" (na voz de: Nara Leão)

  11. "Ai, se eles me pegam agora" (na voz de: Frenéticas)

  12. "O meu amor" (na voz de: Marieta Severo/Elba Ramalho)

  13. "Se eu fosse o teu patrão" (nas vozes de: Turma do Funil)

  14. "Geni e o zepelim" (na voz de: Chico Buarque)

  15. "Pedaço de mim" (na voz de: Gal Costa/Francis Hime)

  16. "Ópera" (nas vozes de cantores líricos)

  17. "O malandro n° 2" (Bertolt Brecht/Kurt Weill/versão: Chico Buarque, na voz de: João Nogueira)


Comentário: A trilha sonora da peça musical, escrita por Chico Buarque, baseando-se em duas obras, Ópera dos Mendigos (de John Gay) e Ópera dos Três Vinténs (de Bertolt Brecht & Kurt Weill), traz uma série de participações especiais nos vocais, como Marlene, Moreira da Silva, Nara Leão, Gal Costa etc. São canções que falam da malandragem e seus dolorosos/corrompidos amores, com o brilhantismo lírico de Chico. Os temas aqui, muitas vezes, são sujos, feios, asquerosos, mas que pela genialidade da construção acabam se tornando admiráveis e, assim, formalmente belos. Há faixas presentes em outras versões nos álbuns de estúdio solo do compositor, como O meu amor e Pedaço de mim, mas duas músicas alçaram voos originais, como o caso de Teresinha, célebre na interpretação de Bethânia, e Geni e o zepelim, onde um comandante bélico desce de um dirigível e, para não destruir a cidade, pede que a mais violentada das prostitutas, Geni, sirva-lhe carnalmente. O musical estreou em 1978, no Rio de Janeiro, inspirando posteriormente um filme, dirigido por Ruy Guerra em 1986.


Saltimbancos Trapalhões (1981)

Com Bardotti & Enríquez / trilha sonora de filme”

Nota pessoal: 9,2 (excelente)

Gênero: MPB; infantojuvenil. Gravadora: Ariola.


  1. "Piruetas" (nas vozes de: Chico Buarque e Os Trapalhões)

  2. "Hollywood" (nas vozes de: Lucinha Lins e Os Trapalhões)

  3. "Alô, liberdade" (nas vozes de: Bebel Gilberto e Os Trapalhões)

  4. "A cidade dos artistas" (nas vozes de: Elba Ramalho e Os Trapalhões)

  5. "História de uma gata" (na voz de: Lucinha Lins)

  6. "Rebichada" (nas vozes de: Chico Buarque e Os Trapalhões)

  7. "Minha canção" (na voz de: Lucinha Lins)

  8. "Meu caro barão" (nas vozes de: Chico Buarque e Os Trapalhões)

  9. "Todos Juntos" (nas vozes de: Lucinha Lins e Os Trapalhões)


Comentário: Trilha sonora do filme homônimo, d’Os Trapalhões, com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, baseado em peça teatral infantil, Os Saltimbancos, de Bardotti & Enríquez, com adaptação de Chico Buarque para o português, o disco conta com grandes participações vocais: Chico, Lucinha Lins, Bebel Gilberto e Elba Ramalho, com vozes adicionais dos próprios Trapalhões e diversos efeitos sonoros, numa experiência lúdica, divertida, leve e circense. A canção mais conhecida, talvez, seja História de uma gata, na voz de Lucinha, com o refrão: “Nós, gatos, já nascemos pobres / Porém, já nascemos livres”. Demonstra o talento buarqueano para também com as crianças, como mais uma vertente de sua poética.


O Grande Circo Místico (1983)

Com Edu Lobo / trilha sonora de peça musical”

Nota pessoal: 9,4 (excelente)

Gênero: MPB. Gravadora: Som Livre.


  1. "Abertura do circo (instrumental)" (Edu Lobo)

  2. "Beatriz" (na voz de Milton Nascimento)

  3. "Valsa dos clowns" (na voz de Jane Duboc)

  4. "Opereta do casamento" (coral)

  5. "A história de Lily Braun" (na voz de Gal Costa)

  6. "Sobre todas as coisas" (na voz de Gilberto Gil)

  7. "A bela e a fera" (na voz de Tim Maia)

  8. "Ciranda da bailarina" (coral infantil)

  9. "O circo místico" (na voz de Zizi Possi)

  10. "Na carreira" (nas vozes de Chico Buarque e Edu Lobo)

  11. "Meu namorado" (na voz de Simone)


Comentário: Trilha sonora da peça musical homônima, baseada em poema de Jorge de Lima, com mesclas de “música, balé, ópera, circo, teatro e poesia”, como diz o site oficial de Chico, o disco apresenta musicalização do próprio Chico com seu velho parceiro, Edu Lobo, contando um romance entre um aristocrata e uma acrobata. Lançado originalmente pela Som Livre, em 1983, recebeu reedições ao longo do tempo, por meio de outras gravadoras, com acréscimo de faixas, chegando em 16 peças musicais. Há um certo tom circense, como na trilha anterior, Saltimbancos Trapalhões (1981); porém, mais voltado ao público adulto. Sobre todas as coisas, a sexta faixa, recebeu versão em álbum de estúdio do próprio Chico, Paratodos (1993). Outras três faixas aparecem nos mais recentes álbuns ao vivo de Buarque. Aqui, Chico canta apenas Na Carreira, com Edu Lobo, deixando os vocais das outras canções com outros grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Gal Costa, Gilberto Gil e Tim Maia.


O Corsário do Rei (1985)

Com Edu Lobo / trilha sonora de peça”

Nota pessoal: 8,6 (ótimo)

Gênero: MPB. Gravadora: Som Livre.


  1. "Verdadeira embolada" (nas vozes de Fagner, Chico Buarque e Edu Lobo)

  2. "Show bizz" (na voz de Blitz)

  3. "A mulher de cada porto" (nas vozes de Chico Buarque e Gal Costa)

  4. "Opereta do moribundo" (nas vozes de MPB-4/Miúcha)

  5. "Bancarrota blues" (na voz de Nana Caymmi)

  6. "Tango de Nancy" (na voz de Lucinha Lins)

  7. "Choro bandido" (nas vozes de Edu Lobo e Tom Jobim)

  8. "Salmo" (nas vozes de Zé Renato e Claudio Nucci)

  9. "Acalanto" (na voz de Ivan Lins)

  10. "O corsário do rei" (na voz de Marco Nanini)

  11. "Meia-noite" (na voz de Djavan)


Comentário: Novamente em parceria com Edu Lobo, que voltara recentemente de uma turnê norte-americana, Chico compõe as letras para a trilha da peça O Corsário do Rei, de Augusto Boal. Os intérpretes são variados, desde grupos musicais, como Blitz e MPB-4, até ícones do cancioneiro nacional, como Ivan Lins e Djavan. Chico empresta sua voz em apenas duas faixas, Verdadeira Embolada, junto de Edu e Fagner, e A mulher de cada porto, acompanhado de Gal Costa. É um disco multicolorido, frenético, com instrumentais destacados, bem-arranjados. Bancarrota Blues e Choro Bandido vão aparecer em álbuns futuros, cantados pelo compositor, compondo também coletâneas e fazendo parte do repertório dos shows.


Dança da meia-lua (1988)

Com Edu Lobo / trilha sonora de balé”

Nota pessoal: 8,1 (ótimo)

Gênero: MPB; instrumental. Gravadora: Som Livre.


  1. "Abertura (instrumental)" (Edu Lobo, executada por Pau Brasil)

  2. "Casa de João de Rosa" (nas vozes de Claudio Nucci e Zé Renato)

  3. "A permuta dos santos" (nas vozes de A Garganta Profunda)

  4. "Frevo diabo" (na voz de Gal Costa)

  5. "Meio-dia, meia-lua" (na voz de Edu Lobo)

  6. "Abandono" (na voz de Leila Pinheiro)

  7. "Dança das máquinas (instrumental)" (Edu Lobo, executada por Pau Brasil)

  8. "Tablados" (na voz de Chico Buarque)

  9. "Tororó" (na voz de Danilo Caymmi)

  10. "Sol e chuva" (na voz de Zizi Possi)

  11. "Valsa brasileira" (na voz de Danilo Caymmi)

  12. "Pas de Deux (instrumental)" (Edu Lobo, executada por Pau Brasil)


Comentário: Trilha sonora composta para o Balé Guaíra, cuja peça foi apresentada primeiramente em 1988, em Curitiba. O disco traz uma diversidade de intérpretes, sendo que Chico canta apenas na oitava faixa, Tablados. Edu Lobo, que coassina a obra, canta em Meio-Dia, Meia-Lua. Há participações vocais de Gal Costa, Zizi Possi, Danilo Caymmi, entre outros. E três faixas instrumentais, executadas pelo grupo Pau Brasil. Em edição muito posterior, em CD, pela Biscoito Fino, os instrumentais foram compilados em faixa única, no fim do disco, sob o nome de Dança das Máquinas, como consta por exemplo na edição disponível pelo Spotify. Três outras faixas, cantadas, Permuta dos Santos, Meio-Dia, Meia-Lua e Valsa Brasileira, foram relançadas na voz do próprio Chico no álbum de 1989, o Morro Dois Irmãos. É um disco contemplativo, em tom melancólico e misterioso. Destaco a canção Tororó, que contém um trecho da cantiga clássica infantil, Fui ao Tororó, e ilustra o homem antes e depois da criação mitológica da mulher: “Dentro da fêmea, Deus pôs / Lagos e grutas, canais / Carnes e curva e cós / Seduções e pecados infernais / Em nome dela, depois / Criou perfumes, cristais / O campo de girassóis / E as noites de paz”.


Cambaio (2001)

Com Edu Lobo / trilha sonora de peça”

Nota pessoal: 9,5 (excelente)

Gênero: MPB; jazz-latino. Gravadora: BMG.


  1. "Cambaio" (na voz de Lenine)

  2. "Uma canção inédita" (na voz de Chico Buarque)

  3. "Lábia" (na voz de Zizi Possi)

  4. "A moça do sonho" (na voz de Edu Lobo)

  5. "Ode aos ratos" (na voz de Chico Buarque)

  6. "Quase memória (instrumental)" (Edu Lobo)

  7. "Veneta" (na voz de Gal Costa)

  8. "Noite de verão" (na voz de Edu Lobo)

  9. "A fábrica (instrumental)" (Edu Lobo)

  10. "Cantiga de acordar" (nas vozes de Zizi Possi, Edu Lobo e Chico Buarque)


Comentário: Quarta e última colaboração de Chico e Edu Lobo em trilha sonora teatral, dessa vez para a peça homônima de João e Adriana Falcão, o disco traz arranjos orquestrais belíssimos e complexos, com duas faixas totalmente instrumentais, evidenciando ainda mais o esmero dos instrumentistas envolvidos. Como das outras vezes, há canções que aparecem aqui e mais tarde em discos futuros de Chico, na voz do próprio, como é o caso de A Moça do Sonho e Ode aos Ratos. Chico e Edu cantam em três faixas. Há participações vocais de Lenine, Zizi Possi e Gal Costa, em performances poderosas. O tom do álbum é charmoso, sedutor e noturno, como um filme noir, em traços claros de jazz.



ÁLBUNS COLABORATIVOS:


Malandro (1985)

Com vários artistas”

Nota pessoal: 9,1 (excelente)

Gênero: MPB; samba. Gravadora: Polygram.


  1. "A volta do malandro"

  2. "Las muchachas de Copacabana" (na voz de Ney Matogrosso)

  3. "Hino de Duran" (na voz de Ney Latorraca)

  4. "O último blues" (na voz de Gal Costa)

  5. "Tango do covil" (na voz de Los Muchachos)

  6. "Sentimental" (na voz de Zizi Possi)

  7. "Aquela mulher" (na voz de Paulinho da Viola)

  8. "Palavra de mulher" (na voz de Elba Ramalho)

  9. "Hino da repressão"

  10. "Rio 42" (na voz de Bebel Gilberto)


Comentário: O disco traz Chico e diversos outros artistas performando em canções presentes na peça musical, de 1979, e principalmente na trilha sonora do filme, de 1985, ambas chamadas Ópera do Malandro. Porém, o filme não conta com os vocais do próprio compositor, que aqui, neste álbum, surge nas faixas 1 e 9, com destaque para A Volta do Malandro, logo na abertura: “Entre deusas e bofetões / Entre dados e coronéis / Entre parangolés e patrões / O malandro anda assim de viés”. Outras participações célebres são Ney Matogrosso, Gal Costa, Zizi Possi, Paulinho da Viola, Elba Ramalho e Bebel Gilberto, cada qual emprestando seu ímpar estilo vocal às letras buarqueanas.


Chico Buarque de Mangueira (1997)

Com vários artistas”

Nota pessoal: 8,9 (ótimo)

Gênero: Samba. Gravadora: RCA.


  1. "Chão de esmeraldas" (Chico/Hermínio Bello de Carvalho, voz de Chico)

  2. "Sala de recepção (Cartola, voz de Chico)/Alvorada (Cartola/Carlos Cachaça/Hermínio, vozes de Lecy Brandão, Alcione e Chico)/Folhas secas (Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito, voz de Chico)/Pranto de poeta (Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito, voz de Lecy Brandão)/Saudosa mangueira (Herivelto Martins, voz de João Nogueira)/Lá vem Mangueira" (Herivelto Martins/Heitor dos Prazeres, diversas vozes)

  3. "Linguagem do morro (Padeirinho/Ferreira dos Santos, voz de João Nogueira)/Favela (Jorge Pessanha/Padeirinho, voz de Christina)/O samba do operário" (Nelson Sargento/Cartola/Alfredo Português, na voz de João Nogueira)

  4. "Como será o ano 2000? (Padeirinho, vozes de Carlinhos Vergueiro e Christina)/Cabritada mal sucedida (Geraldo Pereira/Wilton Wanderley, voz de Carlinhos Vergueiro)/Polícia no morro (Geraldo Pereira/Arnaldo Passos, voz de Christina)/Agoniza, mas não morre (Nelson Sargento, vozes de Christina e Carlinhos Vergueiro)"

  5. "Pisei num despacho (Geraldo Pereira/Elpidio dos Santos, voz de Nelson Sargento)/ Resignação (Geraldo Pereira/Arnô Provenzano, vozes de Alcione e Nelson Sargento)/ Você está sumido (Geraldo Pereira/Jorge de Castro, vozes de Nelson Sargento e Alcione)/ Se eu pudesse" (Zé da Zilda/Germano Augusto, vozes de Nelson Sargento e Alcione)

  6. "Estação derradeira" (Chico Buarque, voz de Alcione)

  7. "Piano na Mangueira" (Tom Jobim/Chico Buarque, voz de Jamelão)

  8. "Divina dama" (Cartola, voz de Chico)

  9. "Exaltação à Mangueira" (Aloisio Augusto da Costa/Enéas Brites, diversas vozes, incluindo Velha Guarda da Mangueira)

  10. "Capital do samba" (Zé Ramos, vozes de Velha Guarda da Mangueira)


Comentário: Álbum de Chico com colaboração de inúmeros artistas consagrados, entre letristas e cantores, em homenagem à tradicional escola de samba carioca Estação Primeira de Mangueira, que retribuiu o compositor no carnaval do ano seguinte, em 1998, inspirando-se na carreira buarqueana como tema de seu desfile. São, aqui, 10 faixas, incluindo 4 pot-pourris, com sambas históricos e recentes. Até Jamelão, intérprete clássico da escola, empresta sua voz, bem como João Nogueira, Alcione, entre outros. O disco é uma celebração à nação e cultura mangueirenses, com Chico assinando a primazia da autoria.



Discografia completa do artista:


Álbuns solo


2017 – Caravanas

2011 – Chico

2006 – Carioca

1998 – As Cidades

1995 – Uma Palavra

1993 – Paratodos

1989 – Chico Buarque

1987 – Francisco

1984 – Chico Buarque

1982 – Chico Buarque en Español

1981 – Almanaque

1980 – Vida

1978 – Chico Buarque

1976 – Meus Caros Amigos

1974 – Sinal Fechado

1971 – Construção

1970 – Chico Buarque de Hollanda – Vol. 4

1970 – Per un pugno di samba

1969 – Chico Buarque na Itália

1968 – Chico Buarque de Hollanda – Vol. 3

1967 – Chico Buarque de Hollanda – Vol. 2

1966 – Chico Buarque de Hollanda


Álbuns ao vivo


2018 – Caravanas Ao Vivo (ao vivo)

2012 – Na Carreira Ao Vivo (ao vivo)

2007 – Carioca Ao Vivo (ao vivo)

1999 – Chico Ao Vivo (ao vivo)

1990 – Chico Buarque ao vivo: Paris, Le Zenith (ao vivo)

1986 – Melhores momentos de Chico & Caetano (ao vivo com Caetano Veloso)

1975 – Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo (ao vivo com Maria Bethânia)

1972 – Caetano e Chico - Juntos e Ao Vivo (ao vivo com Caetano Veloso)


Trilhas sonoras


2001 – Cambaio (para peça / com Edu Lobo)

1988 – Dança da meia-lua (para balé / com Edu Lobo)

1985 – O Corsário do Rei (para peça / com Edu Lobo)

1983 – O Grande Circo Místico (para peça musical / com Edu Lobo)

1981 – Saltimbancos Trapalhões (para filme / com Bardotti & Enríquez)

1979 – Ópera do Malandro (para peça musical / com vários artistas)

1973 – Calabar (para peça / com Ruy Guerra)

1972 – Quando o Carnaval Chegar (para filme / com Nara Leão & Maria Bethânia)


Álbuns colaborativos


1997 – Chico Buarque de Mangueira (com vários artistas)

1985 – Malandro (com vários artistas)



FONTES: Site oficial de Chico Buarque: chicobuarque.com.br/obra/albuns

Todos os álbuns acima, em negrito; Spotify; Wikipédia;

¹ DE FERNANDES, Rinaldo (org.). Chico Buarque: o poeta das mulheres, dos desvalidos e dos perseguidos. São Paulo: LeYa, 2013.

ZAPPA, Regina. Chico Buarque Para Todos. Ímã Editorial, 2016.

Filme: CHICO, Artista Brasileiro (2015), de Miguel Faria Jr.

ISMERIM, Flávio. Chico Buarque 80 anos: conheça livros de sucesso escritos pelo cantor. CNN Brasil. Disponível em: Chico Buarque 80 anos: conheça livros de sucesso escritos pelo cantor | CNN Brasil

CHRIST, Giovana. Chico Buarque 80 anos: relembre prêmios do cantor na música e na literatura. CNN Brasil. Disponível em: Chico Buarque 80 anos: relembre prêmios do cantor na música e na literatura | CNN Brasil


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