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sábado, 9 de maio de 2020

ENTREVISTA com Maria Luiza Jobim: cantora lançou seu primeiro álbum solo



ENTREVISTA com Maria Luiza Jobim: cantora lançou seu primeiro álbum solo



9 de maio de 2020
Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia



Foto: Guilherme Nabhan.
 
            Maria Luiza Jobim, filha de Tom Jobim – maior expoente da História da música brasileira –, lançou seu primeiro disco solo, Casa Branca, há alguns meses. Antes disso, ela fez parte da banda Baleia, sendo a vocalista, e integrou o duo de música eletrônica Opala, junto de Lucas de Paiva. Porém, sua estreia na música aconteceu bem antes. Maria, ainda criança, cantou junto ao pai na canção feita especialmente em sua homenagem: Samba de Maria Luiza, sexta faixa do premiado álbum Antonio Brasileiro – e também na canção Forever Green, vale lembrar. Em paralelo à música, a artista se enveredou pelos caminhos da Arquitetura e das Letras, onde estudou, cada área, por alguns anos.
            A ideia do disco solo veio em meio ao turbilhão de sensações proporcionadas pela descoberta da maternidade, enquanto a cantora estudava produção musical em Nova Iorque. Inclusive, uma das canções, Antonia, refere-se diretamente à filha.¹
            Dona de uma voz suave, que acalenta e encanta, Maria Luiza Jobim nos conta um pouco sobre o processo de criação do disco, que conta com 8 belas faixas, versando sobre a infância, a maternidade, o amor, a poesia, os sonhos, os desejos. Tudo em um “ambiente” onírico e futurista. São canções que nos permitem visitar o universo particular da artista.
            Confira agora a entrevista e, logo após, uma resenha sobre o álbum e os links de acesso ao videoclipe do primeiro single, Casa Branca, e ao disco completo, no Spotify.




DOUGLAS: Primeiramente, muito obrigado por nos ceder entrevista. Ficamos realmente contentes – enquanto leitores e enquanto fãs. Como tem passado a quarentena?


MARIA LUIZA JOBIM: É um prazer :) muito obrigada pelo espaço e carinho!
Tenho passado a quarentena no mato, então, por si só, já é um enorme privilégio. O isolamento, de alguma maneira, não é tão diferente da rotina do compositor. Meu universo já gira muito em torno da minha casa; eu faço meus próprios horários, sou dona do meu tempo. Isso pra mim é liberdade. Nunca fui “rueira”.

DOUGLAS: Seu novo álbum é impecável. Gostei de absolutamente todas as faixas. Parabéns! Pode nos contar um pouco sobre o processo de composição? As letras são de sua autoria?

MARIA LUIZA JOBIM: Nossa! Muito obrigada :)
Meu processo vem de maneiras diferentes. Às vezes, começo pela letra, mas, na maioria, pela melodia ou clima/arranjo. Gosto muito de pensar na composição como um todo. Como se ela já estivesse ali e eu vou descobrindo-a; não sei se isso é muito explicável hehe. Não tem muita ordem ou hierarquia, tipo letra, depois harmonia, depois melodia, por exemplo... Eu imagino um som, e daí penso “dá pra fazer isso com sintetizador” e combina com uma voz com “essa textura” e falando essa e tal coisa... Hehe e por aí vai. Um pouco caótico, mas funciona. Eu tenho duas músicas que fiz sozinha no disco e as outras fiz com meus parceiros incríveis: Lucas Vasconcellos, Cris Caffarelli e Lucas de Paiva.

DOUGLAS: A primeira faixa, Casa Branca, nos leva para dentro de suas memórias de infância. Como foi transformar essas imagens em música?

MARIA LUIZA JOBIM: Hehe acho que a resposta anterior praticamente entrega essa. Eu gosto muito de pensar na imagem da coisa. Sinestesia mesmo. Misturo os sentidos. Foi maravilhoso esse mergulho nessa casa e é muito forte como você consegue, através da música, passar vivências que as outras pessoas reconhecem nas próprias vidas. Isso foi lindo.

DOUGLAS: No que se refere ao ritmo, quais foram as suas maiores referências para a criação do álbum?

MARIA LUIZA JOBIM: Eu tenho muitas referências, escuto muita música, digo. Mas, no álbum, no que se diz respeito a gênero musical, não foi muito uma preocupação específica. Era um álbum que eu queria falar sobre um tema. As músicas giravam em torno desse universo e eu entreguei a produção ao Kassin, que fez lindamente.

DOUGLAS: A sexta faixa, Meditation, é um dos maiores clássicos de seu pai, Antonio Carlos Jobim. Por que escolheu especificamente essa canção para integrar o álbum? E por que a versão em inglês?

MARIA LUIZA JOBIM: Eu tenho um carinho especial por essa música, especificamente a versão em inglês, por lembrar dele tocando no piano. E não poderia deixar de faltar uma canção dele, onde tudo começou. A escolha foi muito natural pra mim.

DOUGLAS: Para encerrar, como é de costume aqui no blog, pode indicar aos nossos leitores alguns dos seus filmes e livros favoritos? O que tem lido ultimamente?

MARIA LUIZA JOBIM: Claro! De livros, eu recomendo todos do japonês Haruki Murakami. E os dois últimos filmes que vi e amei foram Dor e Glória do Almodóvar e Parasita.


Casa Branca (2019)


Nota pessoal: 9,2 (excelente)
Gênero: Synth-pop; MPB. Produção: Kassin.

1.       "Casa Branca"
2.       “Corpo e Calor"
3.       "Sonhos"
4.       "22º Andar"
5.       "Fotossíntese"
6.       "Meditation"
7.       "Incêndios"
8.       "Antonia"

Casa Branca, primeiro álbum solo de Maria, é delicado, íntimo, eletrizante, cativante, sereno, terno, poético, nostálgico. São inúmeros os adjetivos que podemos usar para descrever a obra. No todo, o disco embarca o público em uma viagem onírica, como um mergulho em sonhos, apresentando imagens, sensações e sons que dialogam com uma vibe oitentista e, ao mesmo tempo, futurista, o que cria um misto interessante. Somos norteados pela lindíssima voz de Maria. Seguimos suas lembranças, seus desejos, sua poesia; conhecemos seu passado, sua vida e até mesmo sua filha, Antonia, homenageada na última faixa.
O ritmo, muitas vezes, assemelha-se ao chamado bedroom pop, que remete à música independente, criada no aconchego do quarto. Costuma ser um gênero associado ao lo-fi, com batidas eletrônicas e sintetizadores, muito em voga hoje em dia. Essa preferência de fundo instrumental ajuda a construir a atmosfera surrealista. Por vezes, os sintetizadores nos puxam para o futuro, denotando a tecnologia que há em cada música; além de conjurar luzes e cores em nosso espírito. Regendo as batidas e os efeitos eletrônicos, o vocal nos puxa para o passado, para detalhes e imagens de rotina, conforto, intimidade.
Começamos o disco com a canção homônima, Casa Branca. O hit já conta, até o momento, com mais de 112 mil acessos no Spotify, e abre o baú de infância das memórias da artista. Somos convidados a conhecer a casa onde Maria viveu até os seus 14 anos, no Jardim Botânico do Rio. Na sequência, Corpo e Calor, balada dançante que trabalha a ideia de que “somos nosso próprio lar”, como diz a letra. Ela fala sobre amor e lar, basicamente. Sonhos, por sua vez, narra o conforto da presença da pessoa amada por meio de uma aura musical onírica. 22º Andar, quarta faixa, é a minha favorita, muito provavelmente. Ela se inicia com um som ambiente de murmurinho e trânsito urbano e parte conosco para o interior de um táxi, junto de Maria. Há uma vibe futurista e intimista. A poesia da artista nos permite conhecer um pouco do interior de seu eu-lírico, suas reflexões e seus anseios.
Em seguida, Fotossíntese abre um novo leque na musicalidade do disco. A canção é agitada, alto-astral, com um baixo eletrizante e um vocal que flana por céus ensolarados, a praia e o mar. O tom futurista volta a aparecer aqui, em efeitos sonoros. Meditation vem logo a seguir, onde podemos apreciar o talento de Maria na interpretação da versão inglesa, escrita por Norman Gimbel, da eterna Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. O arranjo traz uma roupagem elegante ao clássico e privilegia o acústico em oposição ao eletrônico, que fica em segundo plano. Minha parte favorita é quando Maria canta “Yes, I love you so”, onde sua voz, enfeitada, alcança o sublime e os nossos corações.
Incêndios, penúltima faixa, é outra boa surpresa: começa minimalista, com fortes graves e estalos, para ganhar um volume poderoso de sintetizadores. Na letra, a poesia conduz nossa imaginação: “Tudo o que nos move / a sede, a guerra, a estrada de terra / Não sei por onde leva / Eu sou o barco, o vento e a vela”. Para encerrar, Antonia fecha o disco com perfeição. Composta em homenagem à filha, a canção é uma espécie de canção de ninar transbordante em ternura de mãe. É o amor materno, em seu grau mais delicado, transposto em música.
Ouçam o álbum e se permitam a viagem. Maria Luiza Jobim tem tudo para continuar trilhando uma carreira extraordinária. Este disco e o seu talento nele demonstrado são a prova.


Foto: Guilherme Nabhan.

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Siga Maria Luiza Jobim no Instagram: @marialuizajobim

Veja o videoclipe de Casa Branca:


Ouça o álbum completo no Spotify:




¹ Entrevista ao programa Cultura Livre da TV Cultura, em 1 de fevereiro de 2020.

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