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terça-feira, 12 de maio de 2020

ENTREVISTA com Prof. Dr. Maurilio Camello, filósofo e poeta


ENTREVISTA com Prof. Dr. Maurilio Camello, filósofo e poeta

12 de maio de 2020
Douglas Jefferson, bacharel em Filosofia

Maurilio no Congresso de Filosofia de 2016, Faculdade Dehoniana. Foto por: Kas Hoshi.

            Maurilio José de Oliveira Camello, nascido na cidade mineira de Mariana, completou 80 primaveras no último 17 de dezembro. Ele é educador, escritor, tradutor (sabe ler grego e latim), padre (embora tenha largado a batina para se casar), filósofo, poeta (dos bons) e, acima de tudo, um grande ser humano, que inspira gerações de alunos e amigos. Com uma aura gentil, repleta de serenidade, e sabedoria na fala, Camello adora contar seus inúmeros causos, colhidos de lembranças plantadas ao longo de toda a vida. Entre suas aventuras, conheceu – quiçá – o mais erudito dos filósofos brasileiros, o padre jesuíta Lima Vaz.
Em matéria publicada no jornal “Entre Nós”, da UNITAU, em 2008, conta que gostava de fazer caricaturas e que aprecia a música popular e caipira, além de ter sido convidado, na época de seminário, a fazer um teste futebolístico no Botafogo.
Nas últimas décadas, atuou como educador em diversas instituições, entre as quais estão a Universidade Federal de Minas Gerais, a Universidade de Brasília, a Universidade de Taubaté e, mais recentemente, a Faculdade Dehoniana. Possui graduação em Filosofia e Teologia, além de História do Cristianismo, pela Pontifícia Universidade Gregoriana, na Itália (onde morou por três anos); mestrado em Filosofia pela USP (com o título “A dimensão ética da sabedoria em Aristóteles”) e doutorado em História Social, também pela USP (com o título “Dom Antônio Ferreira Viçoso e a Reforma do Clero em Minas Gerais no século XIX”).
Entre sua produção acadêmica, podemos encontrar livros (inteiros, em coautoria ou determinados capítulos), artigos publicados em periódicos e textos em jornais/revistas. Eis alguns de seus livros: “Terra de Poema” (1970); “Memória de Minas” (1981); “No Tempo do Pai” (1992); “Filosofia da Linguagem” e “Filosofia Geral: Problemas Metafísicos” (2011), ambos pela UNITAU, e, o mais recente, “Ética na Contabilidade” (2019), em coautoria com Osni Moura Ribeiro. Entre seus trabalhos como tradutor, podemos encontrar obras de Tomás de Aquino, o maior dos pensadores medievos.
Em entrevista à Natália Cruz, publicada aqui em nosso blog, Camello disse o seguinte: “Eu faço diferença entre ser educador e ser professor. Sempre estudei, porém, ser professor agora virou algo técnico. O educador, para mim, tem uma missão de caráter espiritual com o educando”. Desta forma, o educador já deixa implícita uma de suas filosofias de vida: a técnica, a lógica e a razão não são suficientes. É necessário considerar a dimensão espiritual, o sentimento, a poesia.
Maurilio (ou “Mestre Yoda da Filosofia”, para os fãs de Star Wars), mesmo com tamanha grandeza intelectual, cultiva o valor da humildade, não fazendo questão das menções honrosas de “mestre” e “doutor”, pois se considera um homem comum. Entendedor e admirador da doutrina católica, Camello, ainda na juventude, se tornou padre, mas “secularizou” a carreira sacerdotal e seguiu a vida como educador. Levando, no brilho do olhar, os valores cristãos que tanto inspiram sua vida, filósofo e poeta se confundem na mesma pessoa. A coruja de Minerva conduz sua razão pelas veredas da sabedoria, enquanto a flor de Drummond, rompendo o asfalto do mundo, abre a primavera que, no seu ponto mais alto, ilustra a porta de luz que só as mentes iluminadas pela beleza conseguem enxergar. Seria possível atravessar essa porta através da fé, da experiência mística?
Se é possível conciliar razão e emoção, lógica e liberdade artística, prosa e verso, Maurilio consegue, pois expõe aos alunos os dois lados da moeda: a inexorável racionalidade e a beleza das palavras.
Por falar em beleza das palavras, o poeta Maurilio expressa suas ideias em linguagem poética como bem poucos são capazes, com uma sensibilidade ímpar. Como dito, pelo próprio, no prefácio do livro Nascente: a poesia, “essa demiurgia da beleza e do mistério”, não é pouca coisa. “Sem ela, vivermos é por demais penoso, na aridez do deserto sem sentido em que fomos jogados”.
Ainda no mesmo prefácio, podemos inferir alguns traços de seu pensamento filosófico, expresso em prosa poética. Segundo ele, a poesia nos permite nomear o sagrado, quem sabe até mesmo acima da própria Filosofia, que fica impedida de se “lançar além dos limites que foram impostos ao dizer do ser”. Seria a poesia um caminho para a compreensão do maior problema filosófico da História? O que é o ser? Maurilio, na sequência do texto, admite que, ao fim, filósofos e poetas habitam as mesmas alturas. Para ele, ambos “entendem-se como sentinelas do amanhecer, à espera do que vem e que se anuncia nos murmúrios da aurora”.
Há quase meio século, o poeta publicava seu primeiro livro, “Terra de Poema”. Seus versos, neste livro, expressam um olhar de ternura acerca de sua terra natal, e também certa angústia, certo brilho profundo. Lê-los é como mergulhar em sedas oníricas, um alento; hinos de beleza que insistem em nos voltar para as pequenas (ou seriam as maiores) coisas da vida. E além: versos que descortinam as aparências das coisas. Aqui, “pedras murmuram uma canção antiga”, o cricrilar dos grilos namora “as plantas indiferentes às coisas do amor” e “os dourados silêncios descem devagar”.
O pensamento filosófico de Maurilio, muitas vezes, aparece em conversas informais, em e-mails, nos corredores da faculdade, nas rodas de conversa ou mesmo entre um comentário e outro nas aulas. Na sequência, uma entrevista com o mestre:


DOUGLAS: Muitos de seus pares, os professores da Faculdade Dehoniana, o consideram, além de um excelente educador, um legítimo filósofo. O que torna alguém filósofo? Na sua concepção, é necessário um diploma específico ou é algo que se constrói com a vida?

MAURILIO: Meus colegas da Dehoniana, por causa de nossa grande amizade e companheirismo, são bem suspeitos nessa apreciação. Mas que fiquem na boa paz. Alguém já escreveu que o homem é naturalmente metafísico. Creio que foi Jolivet, em seu belo e esquecido livro L´Homme Métaphysique (O Homem Metafísico) e, se não foi ele, teve, entretanto, um predecessor ilustre, Aristóteles, que disse em certo passo que até para negar a filosofia é preciso ser filósofo. Acho que, na medida em que a pessoa reflete sobre a própria vida, toma consciência dela e chega à conclusão que a vida tem sentido (ou não tem sentido nenhum), já é, de certo modo, filósofa. A pergunta se refere ao que constitui o “legítimo filósofo”. Aqui a palavra “legítimo” me deixa um pouco na mão. Verdadeiro? Autêntico? Radical? Coerente? Reconhecido por seus pares e/ou pela Academia? Esses atributos estão presentes em quase todos os filósofos, talvez falte algum em algum. Se posso apelar para a tradição filosófica, filósofo é aquele que transpõe a fronteira do imediato, da particularidade objetiva, o horizonte desfragmentado das aparências, e se aproxima da totalidade transobjetiva do ser. É uma herança que nos vem de Eleia ou de Éfeso, coisa muito antiga, diga-se de passagem. O diploma que a Academia fornece de “Filósofo” não consagra necessariamente alguém como filósofo, como não define o historiador, o sociólogo etc. Espera-se que o agraciado tenha um “bom comportamento” e não saia por aí, vendendo o que tem e, sobretudo, o que não tem, desagradando a Platão e a outros venerandos ancestrais. Um pouco de respeito faz bem a todos nós que recebemos aquela honraria.

DOUGLAS: Sei que, durante muitas décadas, o senhor esteve em contato com as ideias de diversos pensadores, com um aprofundamento maior nos antigos e nos medievais. O seu próprio pensamento coincide, em maior ou menor medida, com a Filosofia de alguns desses filósofos? Qual deles mais te influenciou existencialmente e qual mais marcou a sua trajetória acadêmica?

MAURILIO: De fato, a vida me presenteou com um caminho no qual, segundo creio, aprendi a caminhar, caminhando. A docência me pregou peças, e não foram poucas, algumas muito boas e outras, não tanto, às vezes encenando o “script” da necessidade de sobreviver. Fiz visitas desde muito cedo a temas filosóficos, como questões gnosiológicas e epistêmicas, éticas, políticas. Como não é possível fazer a estrada acadêmica, nesse campo, sem o recurso aos filósofos, estive em companhia de muitos deles, para entender e fazer entender o que significavam aqueles problemas que vinham em redemoinho para cima de mim. Os alunos que me ouviam prestavam, nesse sentido, uma ajuda bastante sádica, com perguntas existenciais, provocativas, que não deixavam em paz as teorias de estratosfera. Me lembro de que, certa manhã, numa aula de metafísica, um representante deles se levantou, para me comunicar que a classe ia, naquele momento, à Praça da Sé, em São Paulo, para um protesto político. Era em tempos sombrios de repressão militar e pensei comigo: isso vai dar pau. Até me lembro de ter dito que fossem mesmo expressar seu protesto, com a coragem que a cidadania lhes pedia, mas que iam apanhar de cacetete, isso iam. ‘Não tem importância”, responderam. E foram. No dia seguinte, alguns apareceram com cabeças enfaixadas, escoriações pelos braços e pernas, alguma costela quebrada. E entraram rindo na sala, dizendo que a coisa tinha sido braba, que eu havia perdido o espetáculo. E que o responsável maior era eu com as aulas de metafísica. Por muito tempo fiquei imaginando que lance da metafísica tinha originado a convocação deles para aquela batalha campal.
Tempos depois, entrando para a Universidade de Brasília (UnB) e, depois, para a Universidade Federal de Minas, em razão do novo contexto, trabalhei com a Filosofia Antiga e Medieval, de modo mais específico, em cursos monográficos que exigiam maior aprofundamento. Não sei se ensinei tanto quanto aprendi. O certo é que a convivência com Heráclito, Epicuro, Plotino, Agostinho, Abelardo, Tomás de Aquino e mais alguns outros que davam de aparecer em minha “ágora”, ou no claustro de meu convento, me incendiava com alguma frequência o espírito, e aqui também os alunos tocavam fogo. Peguei um amor extraordinário por aqueles pensadores, não porque me forneciam o pão de cada dia (o material, mesmo), mas porque me empurravam escada acima, às vezes com certa violência, para contemplar as estrelas, aquelas mesmas que levaram o filósofo Tales a cair num buraco. O velho milésio caiu para cima, como convém a todo filósofo que se preze.

DOUGLAS: Em entrevista à Natália Cruz, o senhor disse o seguinte: “Eu faço diferença entre ser educador e professor. Sempre estudei, porém, ser professor agora virou algo técnico. O educador, para mim, tem uma missão de caráter espiritual com o educando”. Poderia explicitar mais essa ideia e como ela se expressa na sua carreira?

MAURILIO: Escutei uma vez uma educadora e professora de escola fundamental que protestava contra o mau costume, segundo ela, de as crianças a chamarem de “tia” – chatice que já estava acontecendo até no ensino médio. Mas “tia” é irmã da mãe ou do pai, e desde que se tenha em casa a experiência de uma boa mãe e de um bom pai, promover o(a) professor(a) para o grupo familiar é coisa muito boa, pensei comigo, sem entender bem o que irritava tanto a colega. Creio que ela achava mais nobre ser tida como uma “profissional”, técnica em ensinar conteúdos e atitudes, objetivamente, sem a contaminação de laços afetivos e familiares. Sempre pensei que a escola, seja em que grau ou nível for, continua as relações de parentesco, como aliás, a gente sabe das culturas orientais. Assim, o professor não é um estranho que vem, mandado pelo Estado, para representá-lo e ensinar os valores que o sustentam. No máximo, a escola é onde a sociedade tem uma segunda geração, a primeira é a da família. Corpos e espíritos são aí gerados e é preciso caprichar nisso no sentido da perfeição possível. Belos corpos e belos espíritos. Posso dizer, com certa modéstia, que sempre mantive esse sentimento em “minha” sala de aula. Sem amor (aquele mesmo que preside a relação entre os pais) não existe educador. “Educere” (a palavra latina) é “tirar ou conduzir para fora”, “paidagoguein” (a palavra grega) é “conduzir a criança” - não poderia haver etimologias mais verdadeiras. São ações tipicamente paternas e maternas. Ser chamado de “tia” ou “tio” é uma grandeza. Minha colega não precisava estar tão irritada.

DOUGLAS: No que concerne à poesia, sabe-se que o senhor publicou algumas antologias poéticas ao longo da vida. Sou suspeito para falar da qualidade de seus poemas, pois admiro em demasia seus versos. Quais poetas mais inspiraram o seu próprio estilo?

MAURILIO: A poesia sempre me pegou pela orelha, desde criança. Meu pai e minha mãe, que não tinham passado pela educação formal, gostavam de reunir os filhos em sessões “lítero-musicais”, como dizia minha mãe, em noites de nossa casa em Mariana, ou no sítio do Piteiro, junto a Bento Rodrigues (aquele mesmo Bento que a lama da Samarco varreu do mapa). Meu pai apreciava alguns poemas, cujos autores ele nem conhecia, e o ouvi declamar, com sua voz gutural, o “Cântico do Calvário”, “O Caçador” (Fagundes Varela), “A cruz da estrada” (Castro Alves”), “Ismália” (Alphonsus Guimarães – esse ele havia conhecido pessoalmente em Mariana). Minha mãe gostava de cantigas, religiosas ou não. Os dois aplaudiam os filhos que recitavam ou cantavam. Foi daí que peguei o encantamento pela poesia. Essa “moça” me acompanhou na adolescência e pela vida afora. Publiquei, sim, uns poucos livros de poema, mas trago vários deles guardados em minhas gavetas, reais ou virtuais. Não sou um poeta “profissional”, no sentido de que alguns poetas conseguem viver da poesia, teria algum pudor, ou rubor, se tentasse vendê-la. Provavelmente, não teria sucesso. Até poderia disponibilizar para os amigos, mas, para dizer a verdade, não gostaria de incomodá-los. Guardo para mim que, para além dos poemas escritos, há a poesia, que é um modo de ser, de construir o mundo e a nós mesmos. Ela é uma boa “habitação” e morar nela é um dom divino.  Falar de poetas que me inspiraram o estilo, está aí uma coisa difícil. Tenho em minha estante um punhado deles, de que não me desfaço de jeito nenhum. Uns mais antigos, como Vergílio e Safo, Dante, Petrarca, Camões. Outros mais modernos (não muito), como Baudelaire. Rainer Maria Rilke, T. S. Eliot, Ezra Pound, outros moderníssimos (imagine!), Fernando Pessoa, F. Garcia Lorca, Salvatore Quasimodo, Pablo Neruda, Jorge Luís Borges. Dos brasileiros, tenho uma “devoção” muito grande ao simbolista Alphonsus de Guimarães, Drummond, Cecilia Meireles, Vinicius de Moraes, M. Bandeira, Dantas Mota, Paulo Bonfim, é uma turma meio grande. Eles estão em minha estante, calados, me olhando, e ficam muito felizes quando os chamo à conversação. Agora, vieram para o meio desses senhores, dois poetas muito novos, que passei a admirar, tão logo os conheci. Uma é Ester Barroso e outro, Douglas Jefferson, que puseram em minhas mãos seu precioso “Nascente”. Com a poesia que os visita, resolveram ser eternos. Que bom!

DOUGLAS: Ano retrasado, ao doar parte de sua biblioteca particular, o senhor me disse que manterá os livros de poesia na estante. Que eles não serão doados, pois quer manter “a companhia dos poetas até o fim”. Como o senhor vê a poesia no alto de seus 80 anos? E o que a companhia desses grandes poetas significa na sua vida?

MAURILIO: Ó amigo Douglas, acho que a resposta anterior serve para sua pergunta de agora. Posso ajuntar mais alguma coisa? Acho que, aos 80 anos, tenho a liberdade de pensar que Deus é o grande Poeta, seu “poiein” abrange e constitui todo o Universo, e Ele é muito bom de poesia. Os poetas o contemplam continuamente, e imitam, mesmo que não saibam, ou até nele não creiam. O grande Poeta não liga para isso e ama todos os poetas, como precisam ser amados.

DOUGLAS: Novos projetos para 2020?

MAURILIO: Projeto é o que não me falta, o problema é realizar. Mas vou indo devagar, porque “já corri demais”. De imediato, estou reconstruindo a memória da minha família, para que as gerações mais novas saibam que têm raízes, e não se esqueçam delas ou as eliminem. As plantas não aguentam viver sem raízes por muito tempo, como todo mundo sabe. Já publiquei, faz tempo, um livrinho “No tempo do Pai” e agora deverá sair, se o grande Pai o permitir, “No tempo dos Filhos”, ou algo melhor em matéria de título.  Outro projeto, esse mais atrapalhado ainda, é terminar minha tradução das Questões Discutidas sobre a Verdade, de Santo Tomás de Aquino. Penso também em rever, para publicação em um volume, meus artigos sobre filosofia, sobretudo os de filosofia antiga e filosofia do direito. Vamos ver se sai.

DOUGLAS: Para encerrar, o que o senhor anda lendo? Poderia nos indicar alguns livros - e/ou filmes - que tenham marcado a sua vida?

MAURILIO: Meus poetas, é claro. Imagine se os deixo! Além deles, estou lendo “Memória de Ulisses”, de François Hartog. Também comecei a ler As “Folhas de Relva”, de Walt Whitman, que um grande amigo meu, um tal de Douglas, me deu de presente, faz um bom tempo. Arrumando minhas estantes, com os livros que sobraram, encontrei uns dois ou três, que foram adquiridos, e até agora jaziam no mais perfeito abandono. É a vida. Um deles, é Cartas, do padre Antônio Vieira (Vol. 1), outro é “Boa ventura!”, de Lucas Figueiredo, sobre a corrida do ouro no Brasil (1697-1810). Nem posso dizer que não tenho tempo, essa desculpa perdeu validade com a aposentadoria. Vivo o otium cum dignitate, para desespero da esposa, mas com a bênção de Deus, segundo acho...


Maurilio e seu primeiro livro de poesia, Terra de Poema, publicado em 1970. Foto por: Kas Hoshi.


Bar do Bigode

Se querer resolvesse,
estaria rico,
à beira de todos os abismos,

gastando sem temor
a solidão que me doaram
deuses tecedores de destino,

e essa tarde da vida
de que não me avisaram
que acabava

sem precisar de esperança
e desse naco de queijo, indispensável,
que venho de Minas mastigando.

Que tudo se repete e sempre em tudo
tudo se dissolve, riso e lágrima,
e das falas de amor eu fico mudo.

Ainda bem
que de misérias tão somente estou rico,
nada quero e me permito.

Maurilio Camello
Taubaté, 13-02-06

FONTES: currículo LATTES do professor (lattes.cnpq.br/8752944893624078).
CAMELLO, Maurílio. Terra de Poema. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1970.
CRUZ, Natália. As filosofias de Maurilio. Disponível em: <http://mocaepoesia.blogspot.com.br/2018/01/as-filosofias-de-maurilio.html>. Acesso em: 5 dez. 2019.
BARBOSA, Mayara. Prof. Maurílio: de Minas para o mundo. Disponível em: < materiasparalelas.wordpress.com/2009/10/08/prof-maurilio-de-minas-para-o-mundo/>. Acesso em: 5 dez. 2019.
CAMELLO, Maurilio. Prefácio. In: BARROSO, Ester; JEFFERSON, Douglas. Nascente. Guaratinguetá: Editora Penalux, 2017.

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